“Agora, a gente espera que não haja distorções, só isso. No tocante ao Sistema Globo, se quiser uma entrevista ao vivo, tô à disposição. Gravar pra vocês, aí fica difícil”, comentou.
As duas últimas entrevistas exclusivas de Bolsonaro à Globo foram bem distintas. Em 28 de agosto de 2018, ele falou ao longo de 30 minutos na sabatina realizada na bancada do ‘Jornal Nacional’.
O então candidato se saiu bem ao confrontar os âncoras William Bonner e Renata Vasconcellos. Polemizou ao dizer que a apresentadora ganhava menos que o colega de telejornal.
E deixou Bonner incomodado ao repetir que o jornalista Roberto Marinho, fundador da Globo, foi apoiador declarado da ditadura militar.
Em 29 de outubro daquele ano, dia seguinte ao segundo turno, Bolsonaro voltou a aparecer no ‘JN’. Era outro: estava sério, contido, mediu as palavras. Foram 12 minutos de exposição já como presidente eleito.
A nova estratégia de conversar com a imprensa ‘inimiga’, que sempre o critica e até debocha dele, surge basicamente por 3 motivos:
Popularidade em baixa – Institutos de pesquisas apontam índices ruins. O Atlas indica rejeição de 64%. Para o Datafolha, 53%. Na aferição do PoderData são 55% de reprovação.
Atingir mais público – Bolsonaro sabe que para reverter a crise de imagem não pode falar apenas com os fãs no cercadinho na portaria do Palácio da Alvorada, com os seguidores fiéis nas redes sociais e os veículos declaradamente alinhados a seu governo. Precisa fazer seu discurso chegar a outros perfis. Imprescindível atingir quem não é bolsonarista raiz.
Recuperar os holofotes – Nos últimos tempos, o Judiciário (especialmente alguns ministros do STF) e o Legislativo (principalmente a CPI da Covid) tiveram tanto ou mais espaço na imprensa do que o Executivo. Bolsonaro sinaliza o interesse em recuperar o protagonismo. Não com declarações polêmicas e atos intempestivos, mas por meio de entrevistas longas que possam gerar repercussão positiva.
Resta aguardar para conferir se a Globo vai aceitar o ‘convite’ para entrevistar o presidente. Lula fez o mesmo desafio ao canal da família Marinho.
Por enquanto, a emissora líder em audiência – e atacada tanto pela direita quanto pela esquerda – não sinaliza intenção de abrir espaço aos dois mais poderosos líderes políticos do País no momento.