CIDADES
Superação: após perder a perna e a mãe, cadeirante acreano se torna lutador de boxe
O cadeirante da cidade de Senador Guiomard (AC), Josafá Vieira, 31 anos, nasceu com má formação genética e hidrocefalia. A luta pela vida sempre esteve presente desde seu nascimento. Um exemplo das dificuldades que sempre enfrentou é que por falta de escolas preparadas para recebê-lo, só começou a estudar aos 12 anos.
Foi nessa época que sofreu um outro golpe da vida. Acometido de osteomielite, que é uma inflamação nos ossos, precisou amputar a perna. Aos 26 anos, mais uma pancada quando a mãe faleceu e Josafá teve que passar a morar sozinho.
Todo o início dessa história pode dar a impressão de alguém amargurado, depressivo e que não se desafia. Basta conhecer Josafá, que é fotógrafo de profissão, por alguns minutos para saber que é tudo ao contrário. “No começo, quando eu era criança foi mais difícil por causa da fala de um ou outro colega, mas eu nunca gostei de ser vitimista e “sentar” em cima dessa minha deficiência. Quando alguém falava alguma coisa, eu procurava encarar de frente, sem me fazer de coitado”, diz Josafá.
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A prova de que Josafá nunca deixou que sua deficiência física o impedisse de realizar sonhos é que há pouco mais de um ano ele decidiu começar a treinar boxe. “Eu não limito meus sonhos por conta da minha deficiência”, diz.
No próximo mês, o atleta vai viver um momento histórico para o esporte no Acre. Pela primeira vez, acontece no estado uma luta com o boxeador cadeirante. O confronto acontece no próximo dia 5 de março no Centro de Treinamento Índio Fight, localizado na Avenida Ceará, em Rio Branco. O curioso é que por falta de adversário que tenha as mesmas limitações, Josafá vai lutar com um lutador sem deficiência física. “Como a gente não encontrou um outro cadeirante que praticasse boxe, eu vou encarar um lutador aí de Rio Branco, sem deficiência, que vai para uma cadeira para lutar comigo”, explica Josafá.
Sobre ser um exemplo a tantas pessoas que são portadoras de limitações físicas, Josafá exerce a humildade. “Sobre ser exemplo para outras pessoas é algo que acontece naturalmente. A minha intenção não é ser exemplo para ninguém, até porque acho que todos têm suas histórias tristes, seus problemas. Mas eu sei que isso acaba acontecendo, eu acho legal saber que você, de certa forma, influencia na vida das pessoas. O maior objetivo, além de vencer a luta, que ninguém entra em nada para perder, é passar para outras pessoas, sejam deficientes ou não, que elas podem fazer o que quiserem”, diz Josafá.
Um outro personagem importante para que o momento histórico aconteça no boxe acreano é o lutador e professor Ady Pereira que topou o desafio de treinar Josafá.
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“Ele me procurou e eu aceitei o desafio na hora. É visível que depois que o Josafá passou a treinar ele é um cara ainda mais feliz, com sentimento de mais inclusão. Para mim, como profissional, é um grande desafio, já que é algo novo treinar um cadeirante e eu acabo aprendendo muito com ele também. O que mais me chama a atenção no Josafá é a vontade dele de lutar. Tivemos dificuldades porque não temos outro cadeirante que treina boxe no Acre, mas conseguimos um adversário e será um grande espetáculo”, afirma Ady.