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Técnico de laboratório de Rio Branco faz desabafo sobre dificuldades da pandemia: “Somos poucos valorizados”
Complicações na saúde física e emocional. É assim que os técnicos de laboratório da Prefeitura de Rio Branco descrevem as sequelas deixadas a eles durante a pandemia da Covid-19.
Um deles, chamado José, fez um desabafo sobre a situação que perdurou por 2 anos no Acre. “Tivemos de trabalhar dobrado, pois quando um colega era contaminado o outro tinha que trabalhar por si mesmo e pelo colega doente, para atender a população que muitas vezes parecia um formigueiro humano na porta da URAPs que realizava o teste.”
Ele comenta que muitos técnicos que trabalham na coleta do teste da doença foram contaminadas, enfrentando, outros não conseguiram se curar da doença.
“Uma colega de trabalho não teve a mesma sorte que eu e foi a óbito na UPA fiquei triste de ter perdido essa amiga, pois assinamos contrato juntos a 16 anos atrás para trabalhar na Semsa”, relatou José.
Antes de a vacina ser aprovada e que, atualmente, tem ajudado a combater as formas graves da doença, os técnicos infectados conseguiram se recuperar, mas alguns deles desenvolveram sequelas que chegaram a impedi-los de trabalhar, segundo José.
“Outro amigo e colega de trabalho escapou, mas ficou com muitas sequelas com batimentos cardíacos acelerados, tendo que tomar anticoagulante para não perder a preciosa vida. Já outra desenvolveu a síndrome do pânico, não conseguindo mais trabalhar na sala de coleta. Não sabemos o que o futuro nos reserva”, disse José.
José relata que também foi infectado e teve alterações na sua pressão arterial, desenvolvendo hipertensão. “Um dia na sala de coleta de material biológico da URAP quase sofro um AVC por causa da hipertensão. Semanas depois do ocorrido fui parar na UPA da Sobral sofrendo um infarto, eletrocardiograma alterado, enzimas cardíacas alteradas e pedindo a Deus que não morresse. Mesmo passando por tudo isso, sete dias depois lá estava eu novamente coletando swab para covid na URAP, pois não tinha profissionais suficientes para realizar os testes de Covid-19.”
“Ficava muitas vezes pensando quando outros órgãos públicos que não são da saúde tem um caso de funcionário com sintomas da Covid. O órgão público é fechado e o atendimento fica sendo online, ou só volta quando passar o surto. Sabemos de órgãos que fecharam e só retornaram a atender um ano depois, mas nós, da URAP, todo dia estávamos lá para atender a população que vinha em busca de socorro”, complementa.
Mesmo devido às dificuldades, José diz que não acha a profissão ruim, mas afirma que os profissionais não valorizados como deveriam. “Disponibilizaram os EPIs necessários para trabalharmos, mas acho que somos pouco valorizados financeiramente pelo empregador [prefeitura]”, finaliza José.