ESPORTES
Cássio fala após ameaça de morte: “Nunca sentei em cima de glórias”
A história de Cássio pelo Corinthians pode se encerrar antes do previsto pelo goleiro e por boa parte dos torcedores. Capitão e um dos maiores ídolos da história, o jogador de 34 anos foi dormir na quinta-feira sem descartar a possibilidade de interromper sua trajetória pelo Timão.
A família de Cássio ficou assustada com a ameaça de morte sofrida por ele e por sua esposa nas redes sociais. Após o treinamento e a reunião com torcedores organizados na manhã desta quinta, o jogador seguiu para a delegacia tão logo foi informado pela esposa das mensagens, que envolveram a foto de um revólver.
Recém-renovado, o vínculo com o Corinthians vai até o fim de 2024. O jogador terá conversas com o agente Carlos Leite, que agencia sua carreira, para tratar do futuro. No que depender da diretoria, o jogador receberá todo o respaldo para seguir no elenco, exercendo o seu papel de liderança.
Uma saída dependerá de muitos fatores, como opções de mercado. A janela para negociações no futebol brasileiro fecha na terça-feira, dia 12. O salário é considerado alto dentro do futebol brasileiro. Na Série B, não há clubes com capacidade para arcar com os vencimentos. Ele foi revelado pelo Grêmio.
Fora do Brasil, ainda há algumas janelas abertas. A norte-americana, por exemplo, fecha apenas em maio, mas os clubes da MLS não costumam contratar goleiros acima dos 30 anos, de acordo com quem atua neste mercado.
Apesar da história vitoriosa, Cássio viu sua relação com parte dos torcedores começar a se abalar em setembro de 2020, quando foi intimidado no desembarque da equipe no Aeroporto de Guarulhos após uma derrota. Chamado de “vagabundo”, ofendeu-se, mas em nenhum momento cogitou a ruptura.
A situação agora é diferente. Criticado por algumas falhas desde o ano passado, ele ficou muito incomodado desta vez por ver sua família em risco. Horas depois, emitiu nota, disse que não aceita o que aconteceu e que “não ficaria calado diante de tanta injustiça”.
Titular desde 2012, o goleiro acumula 577 jogos pelo clube e nove títulos conquistados. Na publicação, feita em sua página no Instagram, Cássio afirma que procurou a Polícia em busca de justiça. Veja a íntegra abaixo:
“Resolvi me manifestar depois dos fatos que aconteceram com a minha família nesta quinta-feira (07/04).
Encaminhei à polícia os áudios recebidos por minha esposa, para que, quem tenha competência necessária, possa cuidar do caso. Não posso aceitar esse tipo de ameaça de forma alguma. Espero que a justiça seja feita.
Sempre fui um jogador que lidou bem com críticas, discordei e me defendi quando necessário, além de admitir falhas quando entendi que elas aconteceram.
Mas desafio alguém a provar que eu tenha ficado mais de dez anos no Corinthians sendo “vagabundo” ou “paneleiro”, os termos que foram usados hoje e que aparecem em algumas manifestações vez ou outra.
Sempre fui um jogador que me dediquei ao máximo e procurei ajudar dentro e fora dos campos os treinadores, atletas e dirigentes que passaram por aqui. Muitas vezes, entrei em campo sem as minhas melhores condições para ajudar o Corinthians. E fiz isso sem esperar nada em troca. Fiz porque sou assim. Sou muito grato ao Corinthians e procuro retribuir essa gratidão deixando tudo o que posso a cada dia.
Tenho total consciência que devo provar sempre porque cheguei a quase 600 jogos e conquistei nove títulos por esse clube. Nunca sentei em cima das glórias, até porque não ganhei nada sozinho e quero seguir ganhando enquanto eu tiver contrato vigente.
Por tudo isso, não aceito o que aconteceu e não quis ficar calado diante de tanta injustiça.”
Entenda o caso
As ameaças a Cássio e à mulher dele foram feitas no Instagram e partiram de um perfil identificado como $heik Caçador. Foram enviados áudios e fotos para o personal trainer da esposa do goleiro. Em uma das imagens, aparecem um revólver e balas em cima de uma camisa do Corinthians.
Nos áudios, há diversos xingamentos ao goleiro e sua esposa. O autor das ameaças diz que vai encontrar os dois caso o jogador não peça para sair do Corinthians. Cássio é titular do Timão desde 2012 e um dos maiores vencedores da história do clube.
– É questão de tempo. Não sei o que a gente vai fazer, matar eu não sei, mas vamos achar e esculachar. E pode dizer que estamos fechados com o português (o técnico Vítor Pereira), entendeu? Não com vagabundo paneleiro. O recado vale para todos – diz o autor das ameaças.
Outro citado nos áudios é o zagueiro Gil.
– O recado vale para todos, você entendeu, filhão? Pode repassar que do Gil nós tá quase encontrando, o do Gil está quase no pente. Tá bom, filhão? Relaxa. Mas o principal é desse vagabundo aí do Cássio, tá bom? Então fique em paz, nada contra você, contra a sua pessoa, mas a caminhada é essa. Nós é tudo pelo Corinthians – diz o autor das ameaças em outro trecho.
Após tomar conhecimento do episódio, o Timão decidiu acionar a Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (DRADE).
Por meio de nota oficial, o clube repudiou o ato cometido de forma anônima e disse esperar punições (confira abaixo na íntegra).
No dia em que torcedores organizadores foram até o CT Joaquim Grava e se reuniram com atletas, dirigentes e o técnico Vítor Pereira, o Corinthians ponderou que “a cobrança pacífica à equipe por resultados faz parte da cultura do futebol, porém, quando a vida de qualquer um é colocada em risco, o protesto se torna crime e não pode passar impune.”
Confira a nota oficial do Corinthians:
“O Sport Club Corinthians Paulista repudia veementemente as ameaças de morte e violência feitas ao goleiro Cássio e sua família por meio de mensagens enviadas em uma rede social.
A cobrança pacífica à equipe por resultados faz parte da cultura do futebol, porém, quando a vida de qualquer um é colocada em risco, o protesto se torna crime e não pode passar impune.
O Clube já acionou a Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (DRADE) e outros departamentos para tomar todas as medidas cabíveis e assim garantir a segurança de todos os atletas. É lamentável esse tipo de atitude. Isso é crime e deve ter punição.”