MUNDO
Saiba o que mostram as imagens do telescópio James Webb
O mundo viu, na segunda e nesta terça-feira, as primeiras imagens do telescópio James Webb, o maior e mais caro já posto em órbita, que permitirá a observação de pontos nunca antes vistos do universo. Pelos próximos anos, o instrumento deve ajudar a Humanidade a responder questões-centrais sobre o começo de tudo e o funcionamento do cosmos.
As cinco imagens já divulgadas são apenas uma amostra, mas geram grande expectativa sobre o que ainda está por vir. Entenda abaixo o que elas mostram e significam:
Nebulosa Carina
A Nebulosa Carina é simultaneamente um berçário e cemitério para várias das estrelas da Via Láctea. A foto não mostra montanhas ou vales pontuados por estrelas brilhantes, mas sim a borda de uma região chamada NGC 3324 na nebulosa.
É uma área gasosa, e os picos fotografados têm, em média, uma altura de 7 anos-luz. A foto mostra também, pela primeira vez, áreas até invisíveis do nascimento de novas estrelas, segundo a Nasa.
Sua captura só foi possível porque o Webb vê em frequências infravermelhas, que dribla a poeira estelar. Como explica Jaziel Goulart Coelho, professor do Núcleo de Astrofísica e Cosmologia da Universidade Federal do Espírito Santo, as galáxias que o Webb alcança se afastam rapidamente de nós devido à expansão do universo, o que torna o comprimento de onda de sua luz mais longo e invisível aos olhos humanos.
— Essas estrelas estão essencialmente escondidas aos nossos olhos, não importa o que tentemos fazer — disse ele ao GLOBO. — O Webb observa o universo nesta região do espectro eletromagnético.
A região fotografada, a cerca de 7,6 mil anos-luz da Terra, surgiu a partir da intensa radiação ultravioleta e dos ventos estrelares de estrelas enormes, jovens e quentes que ficam acima da área mostrada pela imagem. Sua observação mostra detalhes do processo de formação das estrelas.
— Nós humanos de fato estamos muito conectados com o universo (…). Somos feitos das mesmas coisas que este cenário — disse Amber Straughn, cientista do Webb que apresentou a imagem durante o evento da Nasa.
Wasp-96 b
A primeira imagem a ser divulgada foi a do exoplaneta Wasp-96 b, que orbita uma estrela como o Sol, completando uma volta a cada 3,4 dias. Descoberto em 2014, ele tem diâmetro maior que o de Júpiter, mas menos da metade de sua massa, e temperaturas maiores que 540ºC. Fica a cerca de 1.150 anos-luz da Terra, na constelação de Fênix.
O telescópio captou sinais distintos de vapor d’água, além de evidência de nuvens, na atmosfera do planeta gasoso. E, se a maneira como as imagens foram apresentadas para o público não foi tão visualmente deslumbrante, o gráfico sobre a composição atmosférica traz informações importantes para a comunidade científica, ávida por mais detalhes sobre as moléculas que compõem a atmosfera de exoplanetas.
— As imagens, claro, têm esse apelo por serem muito bonitas, mas a parte científica está de fato na análise dos dados, no entendimento da densidade, da composição química, na ionização e nas características do que estamos observando — disse Catarina Aydar, astrofísica da Universidade de São Paulo.
O observatório pôde revelar a existência das moléculas específicas baseando-se em pequenas alterações na luminosidade das cores, a análise mais detalhada já feita deste tipo e algo que será importante na busca por outros planetas possivelmente compatíveis com a vida humana. O Telescópio Hubble, antecessor do Webb, já analisou uma série de exoplanetas, mas os detalhes e a nitidez do novo telescópio são sem precedentes.
Nebulosa do Anel Sul
A segunda imagem divulgada foi da Nebulosa do Anel Sul, a 2,5 mil anos-luz da terra, que inclui uma nuvem de gás emitida há milhares de anos, em todas as direções, por uma estrela em vias de morrer. No centro, vê-se uma anã branca, os remanescentes do astro.
A imagem, segundo a Nasa, irá “transformar nossa compreensão de como as estrelas se desenvolvem e influenciam seus ambientes” e a descobrir mais detalhes sobre nebulosas — nuvens de gás e poeira emitidas por estrelas que morrem. Entender isso, quais moléculas são essas e como se distribuem será um avanço para a ciência.
Como nebulosas existem por dezenas de milhares de anos, observá-las é “como ver um filme em velocidade extremamente lenta”, de acordo com a agência especial americana. Cada estrela ejeta os materiais, que circulam pela região e, eventualmente, podem viajar por bilhões de anos e serem incorporados por outros planetas ou estrelas.
Quinteto de Stephan
Em seguida, foi a vez da do Quinteto de Stephan, um grupo de cinco galáxias na constelação de Pégaso batizado em homenagem ao astrônomo francês Edouard Stephan. É a maior imagem tirada pelo telescópio, cobrindo o equivalente a um quinto do diâmetro da Lua e composta por mais de mil arquivos separados.
O quinteto é, em parte, de uma ilusão, já que nem todas as galáxias estão juntas: quatro delas estão a cerca de 290 milhões de anos-luz da Terra, enquanto a quinta, a NGC 7320, está a cerca de 40 anos-luz. Ambas distâncias ainda são relativamente próximas do nosso planeta, considerando que há galáxias a bilhões de anos-luz da Via Láctea, mas seu estudo é essencial para que se descubra mais sobre as estruturas e sua formação.
A imagem traz novos detalhes de como as interações de galáxias, uma área sobre a qual ainda se sabe relativamente pouco, podem ter moldado a evolução nos primeiros anos do universo. Duas das galáxias estão em via de se fundir, mostra a foto, simultaneamente a agrupamentos de milhões de jovens estrelas e regiões de explosões que indicam o nascimento de novos astros.
— Elas [as galáxias] estão em uma interação próxima, uma espécie de dança cósmica guiada pela força gravitacional — disse Giovanna Giardino, astrônoma na Agência Espacial Europeia que apresentou a imagem, durante o evento de apresentação.
Smacs 0723
A imagem inaugural do Webb havia sido mostrada na segunda, em um evento especial na Casa Branca, com a presença do presidente Joe Biden. Ela mostrava o aglomerado de galáxias Smacs 0723, a cerca de 4,6 bilhões de anos-luz de distância.
A imagem revela um pedaço do céu visível do Hemisfério Sul na Terra e frequentemente fotografado pelo Hubble e por outros telescópios em busca do passado profundo. Os astrônomos usam esse aglomerado de galáxias como uma espécie de telescópio cósmico: o enorme campo gravitacional do aglomerado atua como uma lente, distorcendo e ampliando a luz de galáxias localizadas atrás dele que, de outra forma, seriam muito fracas e distantes para serem vistas. (Com New York Times)