POLÍTICA
Em áudio, prefeito de Apucarana (PR) tenta abafar caso de pedofilia
Áudio vazado do prefeito do município de Apucarana, no Paraná, Sebastião Ferreira Martins Junior (PSD), conhecido como “Junior da Femac”, exibe trecho de conversa em que ele pede para que vereadores da base não formalizem a abertura de comissão para investigar um suposto caso de pedofilia envolvendo o vereador Mauro Bertoli (DEM), vice-presidente da Câmara.
A gravação foi obtida pelo Portal 38 News na segunda-feira (11), mas, de acordo com a assessoria do prefeito, teria sido enviada a um vereador da base, que não foi identificado, em maio. Na conversa, definida por Junior da Femac como um “contorno político”, ele orienta um parlamentar a conversar com Bertoli e pede para que a ideia de criar a comissão seja barrada. O prefeito ainda faz um alerta para que o vereador tome cuidado, caso “esses caras (aliados) se voltem, por exemplo, contra você”.
“Se alguém perguntar, fala que a Câmara está acompanhando a investigação, que está sendo feita pelo Ministério Público. Daqui a pouco esses caras se voltam, por exemplo, contra você… Não precisamos disso, você é um cara que nós apostamos muito para frente. Então assim, quando você puder, chama o Mauro, fala: ‘Mauro, fique tranquilo”. Por favor não crie comissão, eu queria te passar esse contorno político”, diz o prefeito em áudio.
Reeleito em 2020, Bertoli é investigado por pedofilia, após um inquérito que apurava compra de votos nas eleições municipais encontrar material impróprio, com crianças e adolescentes, em um dos celulares apreendidos do vereador. O material, que está sob análise da promotoria criminal, foi enviado também para a Câmara de Apucarana.
Procurado pela reportagem, Bertoli disse que não iria se pronunciar. O Ministério Público do Paraná informou que o caso é investigado pela 6ª Promotoria de Justiça de Apucarana e a ação penal corre em segredo de justiça, “o que impossibilita a disponibilização de outras informações”.
Por meio de nota, o prefeito Junior da Femac apontou que, no áudio, “apenas argumentou sobre fato que já está sendo investigado pelo Ministério Público e a Justiça Criminal da Comarca de Apucarana, há cerca de um ano e meio”, e que “apoia toda investigação, sem que haja a politização do caso”.
“Como pai de duas meninas, repudio com veemência fatos desta natureza. Como gestor público, mantenho várias políticas de enfrentamento da violência contra crianças e mulheres”, completou a nota.
A iniciativa de instaurar uma CPI partiu da ativista LGBTQIA+ Renata Borges, que é presidente do PDT de Apucarana. Em maio do ano passado, cerca de três meses depois da denúncia do suposto crime, Renata fez um ato em frente a Câmara de Vereadores cobrando um posicionamento da instituição sobre o caso. O GLOBO procurou a Câmara, que informou que não vai se pronunciar. Em maio, Renata enviou um novo pedido de respostas sobre a investigação à Promotoria de Justiça.
“Há uma cobrança porque ninguém nos dá um posicionamento sobre o caso. Temos uma Câmara falida, que não se posiciona e um poder que banaliza a pedofilia, os direitos humanos e qualquer causa social. Apucarana é como se a gente estivesse dentro de um sistema oligárquico, regida por coronéis. Precisamos fazer oposição a isso”, afirmou Renata.
A lei considera crime “adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente”. A pena varia de um a quatro anos de reclusão, além de multa.
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Fonte: IG Política