SAÚDE
Unicef: vacinação infantil tem maior retrocesso em 30 anos
Dados oficiais publicados nesta sexta-feira pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alertam para o maior retrocesso nas taxas de vacinação infantil nos últimos 30 anos.
Para as instituições, o declínio é associado a fatores como o aumento da desinformação no contexto da pandemia da Covid-19, os desafios logísticos pela emergência sanitária e o número crescente de crianças que vivem em áreas de conflito e vulnerabilidade.
“Esse é um alerta vermelho para a saúde infantil. Estamos testemunhando a maior queda contínua na imunização infantil em uma geração. As consequências serão medidas em vidas”, ressalta a diretora executiva do Unicef, Catherine Russell, em comunicado.
Um dos exemplos da queda é a cobertura vacinal das três doses da vacina conhecida como tríplice bacteriana, a DTP3, que protege contra difteria, tétano e coqueluche. Entre 2019 e 2021, a taxa de imunização caiu 5%.
Embora especialistas preconizem uma cobertura próxima a 90%, esse percentual foi de 81% no último ano – o mais baixo desde 2008. De acordo com os dados das organizações, isso significa 25 milhões de crianças no mundo sem uma ou mais doses da DTP3 em 2021, seis milhões a mais que em 2019.
No Brasil, o cenário é ainda pior que a média mundial. Segundo dados coletados no DATASUS, plataforma do Ministério da Saúde, a cobertura vacinal com a tríplice bacteriana em crianças foi de apenas 62,97% em 2021, e neste ano segue em baixa, em apenas 34,55%.
“Embora uma ressaca pandêmica fosse esperada no ano passado, como resultado das interrupções e lockdowns da Covid-19, o que estamos vendo agora é um declínio contínuo. A Covid-19 não é desculpa. Precisamos recuperar a imunização das milhões de crianças que perderam suas vacinas, ou inevitavelmente testemunharemos mais surtos, mais crianças doentes e maior pressão sobre os sistemas de saúde já sobrecarregados”, complementa Catherine.
As organizações destacam ainda que, entre essas 25 milhões de crianças no mundo que não completaram a imunização da DTP3, 18 milhões não receberam nem a primeira dose, sendo a grande maioria aquelas que vivem em países de média e baixa renda. De acordo com o relatório, os com piores coberturas são Índia; Nigéria; Indonésia; Etiópia e Filipinas.
Além da DTP3, outra vacina cuja cobertura preocupa as autoridades é a contra a infecção pelo papilomavírus humano (HPV). Trata-se de um imunizante importante que protege não apenas contra a contaminação pelo vírus, mas é eficaz em evitar diversos tipos de câncer, especialmente para as mulheres.
Segundo os Centros de Controle de Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), o HPV está relacionado a 99% dos casos de câncer de colo do útero; 90% dos de ânus; 70% dos de boca e 40% dos de pênis.
No entanto, globalmente, mais de um quarto da cobertura alcançada em 2019 foi perdida. Segundo a OMS e o Unicef, apenas 15% das crianças receberam a primeira dose em 2021, ou seja, nem completaram o esquema vacinal. De acordo com a SBIm, até 15 anos o esquema é de duas doses, com seis meses de intervalo entre elas.
As organizações afirmam ainda que o declínio na cobertura de vacinas de rotina tirou o mundo do caminho em direção às metas globais. Porém, destacam bons exemplos, como Uganda, que manteve altos níveis de imunização, e Paquistão, que retornou às taxas pré-pandemia graças a esforços do poder público.
A nível global, porém, os níveis inadequados já têm provocado surtos evitáveis de sarampo e poliomielite no último ano, dizem as organizações, e o cenário não é animador.
A cobertura com a primeira dose da vacina contra o sarampo caiu para 81% em 2021, também o nível mais baixo desde 2008. Isso significa 24,7 milhões de crianças sem a primeira dose da vacina, 5,3 milhões a mais que em 2019. Além disso, outras 14,7 milhões não receberam a segunda dose necessária.
No Brasil, em 2021, de acordo com dados do DATASUS, apenas 73,49% do público-alvo recebeu a primeira dose da vacina tríplice viral, que protege contra caxumba, sarampo e rubéola, um dos menores percentuais desde que a série histórica teve início em 1994. Além disso, apenas 51,65% completou o esquema com a segunda aplicação.
Neste ano, a tendência de queda se repete. Tendo já passado a campanha do ministério para o imunizante, apenas 41,40% recebeu a primeira dose e 27,25% a segunda.
Para concentrar esforços em mudar essa realidade, a OMS e o Unicef estão trabalhando com a Gavi, a Aliança para Vacinas, e outros parceiros para entregar a Agenda de Imunização global 2030 (AI2030) aos países. O documento envolve estratégias com metas estabelecidas na prevenção de doenças por meio da imunização.
“É de partir o coração ver mais crianças perdendo a proteção contra doenças evitáveis pelo segundo ano consecutivo. A prioridade da Aliança deve ser ajudar os países a manter, restaurar e fortalecer a imunização de rotina, juntamente com a execução de planos ambiciosos de vacinação contra a covid-19, não apenas por meio de vacinas, mas também de apoio estrutural adaptado aos sistemas de saúde que as administrarão”, disse Seth Berkley, CEO da Gavi, a Aliança para Vacinas.
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Fonte: IG SAÚDE