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SAÚDE

Brasil não tem plano traçado para conter avanço da varíola dos macacos

Publicado em

Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga
Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil – 16.02.2022

Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga

Seis semanas após o primeiro caso confirmado de  varíola dos macacos (ou monkeypox) no Brasil, o país está à deriva no combate à doença, sem uma estratégia oficial coordenada pelo Ministério da Saúde. Esse vácuo preocupa especialistas, já que o Brasil ocupa o sétimo em número de infectados no ranking mundial, com 696 casos. Dados analisados pelo GLOBO mostram que, em números absolutos, o comportamento da doença é similar ao de países europeus que já superam os dois mil casos. Nesta sábado (23), a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou emergência global pela doença.

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Caso se mantenha a tendência atual, isto é, se a monkeypox crescer da mesma forma que em outros países, o Brasil deverá superar a marca de dois mil casos confirmados em agosto, considerando as estatísticas oficiais divulgadas pelo Ministério da Saúde. A maioria dos casos, 506 de 696 até a última sexta-feira (22), se concentra no estado de São Paulo. Quando analisado o país como um todo, o Brasil tem dois casos a cada um milhão de habitantes, segundo dados do “Our World in Data”, que coleta os números oficiais da doença no mundo. Esse número é similar ao dos Estados Unidos, o melhor entre os 10 países com mais casos da doença. Entretanto, se considerarmos apenas São Paulo, onde estão 72,7% dos casos, a taxa sobe para 9 casos por milhão de habitantes. Caso o estado fosse um país, seria o 5º pior entre os analisados pelo GLOBO.

Segundo o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse em reunião nesta semana, alguns países veem “aparente tendência de declínio”, mas outros ainda estão em tendência de aumento. Os números analisados pelo GLOBO levam em conta os casos da doença nos 10 países mais atingidos pela monkeypox até aqui: Espanha, Portugal, Alemanha, França, Holanda, Itália, Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, além, é claro, do Brasil.

“É uma doença que está circulando há semanas em todo o mundo e que, no Brasil, teve baixa capacidade de testagem, adequada mobilização das pessoas e treinamento de pessoal para suspeita e detecção de risco. Então, nós estamos no escuro em relação à monkeypox, vendo a ponta do iceberg por binóculos”, afirmou ao GLOBO o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Nésio Fernandes.

O Ministério da Saúde está na contramão da OMS, o Ministério da Saúde desfez no dia 13 a sala de situação da monkeypox, que funcionou por menos de dois neses a estrutura criada para monitorar a doença, sob o Secretaria de Vigilância em Saúde. Segundo Fernandes, os estados solicitaram à Opas, que representa a OMS nas Américas, a criação de apoio internacional na estruturação dos centros de operações especiais e na criação dos planos de contingência contra a monkeypox.

A pasta diz que analisa a compra de vacinas para prevenir a doença junto à Opas, mas ainda não há previsão de quantidade de doses ou de prazo de entrega. A indicação da OMS é para imunizar, sobretudo, profissionais de saúde e pessoas que tiveram contato com infectados, não a população geral. Especialistas alertam, contudo, que o público-alvo deveria se expandir, uma vez que o Brasil já registra transmissão comunitária — quando a ocorrência de um caso não tem relação com outro.

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) criou, ainda, a Câmara Pox/RedeVírus MCTI em maio para realizar a vigilância científica da varíola dos macacos. Ao GLOBO, pesquisadores do grupo contaram que há pedidos de estudos sobre vacinas, imunologia, desenvolvimento de testes e análise genômica do vírus, entre outros, e que, não houve resposta até o momento.

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“(Queremos) estudar a história natural da doença, porque parece que esse surto é feito por um vírus que não é parecido com aquele do Oeste da África. Até as lesões dele são mais atenuadas. Porém, não sabemos como vai ser a continuidade do surto, se vai encontrar pessoas mais suscetíveis”, disse o coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ e integrante da Câmara Pox, Amilcar Tanuri.

Como O GLOBO mostrou, o Brasil também não dispõe de medicamentos contra a varíola dos macacos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que não recebeu pedidos de registro para ambos. A autorização mais recente de remédio contra a doença — o antiviral cidofovir — expirou em 2010. O que está em análise no momento é o aval para teste específico para detectar a monkeypox, da empresa Biomedica.

Para barrar o contágio a recomendação é o uso de máscaras, o distanciamento social e a higienização. “Até o momento, não é recomendada nenhuma restrição para viagens e comércio para países que identificaram casos dessa doença”, diz a nota do Ministério da Saúde enviada à reportagem.

A varíola dos macacos é endêmica de países da África Ocidental e Central há décadas. Cientistas ainda não sabem por que ela se disseminou em outros locais em larga escala nos últimos meses.

“Pacientes que têm quadros leves, muito provavelmente, não procuram unidades de saúde e por isso, nosso número (oficial de casos) é muito menor que o real”, diz a infectologista e epidemiologista Luana Araújo.

O ministério incluiu a monkeypox na lista de doenças de notificação compulsória em maio, assim como é a Covid-19. Segundo o Instituto Butantan, que criou um comitê de contingência contra a doença, “a primeira e mais eficaz medida de saúde pública é a contenção do contágio, por meio do isolamento das pessoas contaminadas”.

O Ministério da Saúde informou em nota que “é levado em conta a capacidade de contenção, assim como a capacidade de diagnóstico e monitoramento”, focando na prevenção, no diagnóstico e na assistência. Já o Conass avalia que o cenário atual “comunitária inspira cuidado, indicando a necessidade de reforçar as medidas acima citadas (isolamento e monitoramento)”. A Opas e o MCTI não responderam ao pedido de entrevista até o fechamento desta edição.

Fonte: IG SAÚDE

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