ESPORTES
Vovó fitness treina 8 horas por dia; isso é necessário para ter resultados?
Apelidada pela web de “vovó fitness”, a brasileira radicada na Inglaterra Andréa Sunshine, 53, faz sucesso nas redes sociais gravando vídeos sobre sua rotina de treinos. Em entrevista ao jornal The Sun, a fisiculturista afirmou que chega a treinar até oito horas por dia e que o mínimo que passa na academia diariamente são três horas.
Antes de você se desanimar, saiba que treinar tanto assim não é uma regra para obter resultados. A verdade é que não existe uma duração de treino ideal para todas as pessoas: tudo depende de quais são os objetivos, além de fatores como a idade e o estado de saúde. No geral, a intensidade do treino costuma ser mais determinante para os resultados do que a duração de uma única sessão de atividade física.
“A primeira coisa de que a pessoa precisa é fazer o exercício bem feito. Só depois é que será possível avaliar se existe alguma maneira de aumentar a dose de atividade. Só que a lógica das pessoas geralmente é o contrário: elas pensam que têm que fazer muito e acabam fazendo mal feito para cumprir uma meta de grande quantidade”, observa Paulo Gentil, mestre em educação física, doutor em ciência da saúde e professor da UFG (Universidade Federal de Goiás).
Segundo o especialista, se os objetivos incluem ganhar massa muscular ou perder gordura, por exemplo, o treino não deve ser muito longo. “Isso porque as alterações que você sofre quando passa muito tempo em atividade tendem para o lado catabólico, ou seja, não é mais para a construção, mas destruição de massa muscular”, diz Gentil.
Segundo ele, nesses casos de muito volume de treino, o corpo começa a se “desesperar” para fazer uma reserva de energia e sobreviver a esse tipo de agressão. Há então uma redução no metabolismo de repouso e facilidade do acúmulo de gordura. “Por isso, no geral, a intensidade do treino é mais determinante do que a quantidade”, diz.
Algumas pessoas conseguem treinar por mais tempo do que outras?
O tempo que uma pessoa consegue suportar treinando depende de diversos fatores, como idade, taxa de gordura corporal, capacidade de manejar o estresse e dieta, por exemplo.
O uso de anabolizantes também é outro fator importante a ser considerado. Segundo Gentil, é muito comum que a população geral (que não é atleta profissional) e afirma treinar por longos intervalos de tempo faça uso desses hormônios, principalmente aqueles que são derivados de testosterona, como a oxandrolona e o estanozolol, além do GH, hormônio do crescimento.
Isso porque, explica o educador físico, o excesso de testosterona “satura” os receptores de cortisol no corpo, hormônio que é liberado em situações de estresse —como uma resposta a treinos prolongados, por exemplo. O cortisol também participa do processo de “catabolização” do músculo (processo de degradação da fibra muscular para obtenção de energia para o organismo).
“Então, imagina: uma pessoa que não usa anabolizantes e faz uma carga muito grande de treino, inevitavelmente vai ficar cansada e ter perda de massa muscular. Já uma pessoa que toma anabolizantes, pode treinar o que for que esse processo não vai ser evidente”, explica.
Não há informações de que Andréa Sunshine faça uso de esteroides anabolizantes. No entanto, vale ressaltar que o uso desses hormônios não é recomendado para qualquer pessoa e, se for utilizado indiscriminadamente, pode trazer uma série de malefícios à saúde, como o aumento no risco de doenças cardíacas e problemas no fígado.
Excesso de treino faz mal à saúde?
A prática de exercícios físicos é recomendada por todos os profissionais de saúde como forma de prevenir uma série de doenças e melhorar a qualidade de vida. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda um cronograma de 150 a 300 minutos por semana de atividades consideradas moderadas (como a caminhada), ou de 75 a 150 daquelas denominadas vigorosas, que são mais intensas.
No entanto, a atividade física em excesso, sem intervalos para descansos, pode causar o efeito oposto ao esperado, prejudicando o funcionamento do corpo e aumentando o risco de complicações, como enfatiza Miguel Bortolini, professor de educação física da Universidade Federal do Acre.
“Pessoas que treinam acima de 1.500 minutos (25 horas) por semana têm tendência de comprometer a regulação ideal do sistema imunológico, que nos protege contra patógenos e ‘orquestra’ o reparo tecidual. Reparo tecidual desregulado é sinônimo de envelhecimento precoce”, afirma.
De acordo com a fisioterapeuta e ex-atleta profissional Walkyria Fernandes, é essencial respeitar os intervalos para descansos que, dependendo do tipo de atividade e do organismo da pessoa, podem ser de 24 a 48 horas.
“Um atleta, por exemplo, treina o dia inteiro, só que treina acompanhado de alguém que está montando o treino e cuida muito dos intervalos, então é necessário ter um bom intervalo para recuperar e não pode ser o mesmo treino com o mesmo tipo de intensidade. Existem treinos diferentes, uns mais intensos, outros regenerativos. É importante montar uma escala para não sobrecarregar o corpo”, diz. Sem intervalos de repouso, explica Fernandes, o risco de sofrer lesões é maior.