O convite de Jair Bolsonaro para que os ministros do Supremo Tribunal participem de uma reunião com ele no Palácio da Alvorada é uma cilada clássica.
Caso os ministros não topem, ele poderá dizer que a negativa é um sinal da má-vontade da Corte contra ele e a prova de que não é possível estabelecer um diálogo — o que certamente servirá para a elaboração de narrativas diversas por seus seguidores.
Se, por outro lado, os ministros forem ao Alvorada, o risco é grande. Ainda que os termos da conversa sejam previamente negociados, em se tratando de Bolsonaro é impossível garantir como será o encontro. O presidente, por óbvio, pode surpreendê-los com alguma armadilha.
De um jeito ou de outro, portanto, é arriscado.
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Fontes do Supremo dizem que, até o momento, os ministros resistem a aceitar o convite, mas ainda estão discutindo o assunto entre si.
Atualização — na tarde desta terça, depois de Bolsonaro quebrar o silêncio pós-eleições e fazer um pronunciamento, os ministros do STF finalmente aceitaram encontrá-lo. A reunião, porém, não ocorreu no Alvorada, como queria o presidente. Bolsonaro teve de ir até a sede do Supremo, na Praça dos Três Poderes. Participaram os ministros Rosa Weber, presidente da Corte, Alexandre de Moraes, André Mendonça, Edson Fachin, Gilmar Mendes, Kassio Marques e Luiz Fux. Cármen Lúcia e Luis Roberto Barroso foram à tarde ao STF para uma conversa com os colegas, mas não aguardaram a chegada de Bolsonaro. Ministros disseram que a reunião com o presidente foi tranquila. Segundo Fachin, ele usou a expressão “acabou” ao se referir às eleições, o que foi entendido como reconhecimento da derrota.