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GERAL

Trabalhadores pretos ganham 40,2% menos do que brancos por hora trabalhada

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Diversidade ainda é desafio nas empresas — Foto: RF Studio/Pexels

Trabalhadores pretos ganham em média muito menos do que brancos por uma hora de trabalho: a hora de trabalho de uma pessoa preta valeu 40,2% menos que a de um branco no país entre abril e junho deste ano. No caso dos pardos, o valor foi 38,4% menor que o recebido pelos brancos.

Os dados são da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada em agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com informações referentes ao segundo trimestre do ano.

Em média, a hora de trabalho do brasileiro vale R$ 15,23.

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Por cor, os valores médios são:

  • Brancos ganham R$ 19,22;
  • Pretos, R$ 11,49;
  • E pardos, R$ 11,84.

Isso implica que pretos e pardos precisem trabalhar mais horas para conseguir ganhar, no fim do mês, o mesmo valor que brancos. Considerando o rendimento médio por hora, para chegar ao valor de R$ 1.212, equivalente ao salário mínimo:

  • Um trabalhador branco precisaria trabalhar 63 horas;
  • Já um preto levaria quase 105,5 horas.

Segundo o IBGE, as populações preta e parda representam 9,1% e 47%, respectivamente, da população brasileira. Já na força de trabalho, a população parda representa 45%, e a preta, 10,2%.

Uma década de estagnação

Em uma década, a situação não evoluiu. No mesmo período de 2012, o valor pago por hora a uma pessoa preta era 42,8% menor do que o pago a uma pessoa branca.

A falta de acesso à educação superior é um dos fatores que influenciam na diferença de renda. Segundo um documento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado em 2021, nas últimas duas décadas 65,1% dos cargos de nível superior eram ocupados por pessoas brancas. Já pretos e pardos preenchiam 27,3% dessas vagas.

Outros fatores que entram na conta são o tamanho do mercado de trabalho informal e a discriminação indireta, segundo o diretor do Núcleo de Estudos Raciais do Insper Michael França.

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Capital da desigualdade

O Distrito Federal é a unidade da Federação com a maior discrepância entre os rendimentos: pretos ganham 51% menos do que brancos por hora trabalhada. De acordo com os economistas Raul Velloso e Michael França, a presença massiva de cargos públicos com salários altos na capital federal, os quais tendem a ser preenchidos por brancos, ajuda a explicar essa disparidade.

Dados do Ministério do Planejamento mostram que 48,1% dos servidores públicos são brancos, enquanto apenas 4,2% são pretos. Pardos são 24%. O percentual restante é de amarelos, indígenas e outras etnias.

É possível ver que há uma sub-representação de pretos e pardos no serviço público em relação a sua presença na força de trabalho: 7,7% dos trabalhadores do Distrito Federal são pretos e 43,9%, pardos.

Conquistas pernambucanas

Pernambuco é o estado com menor disparidade de valor por hora trabalhada entre brancos e pretos no país. Em 2012, a diferença salarial por hora entre brancos e pretos era de 45,7%. Em 2022, esse número diminuiu 26 pontos percentuais, para 19,4%.

De acordo com o pernambucano Hugo Melo, economista do Observatório da Indústria, possivelmente a população reagiu a incentivos de novas políticas públicas. Uma delas é a política de cotas, que forneceu oportunidade de adentrar no mercado de trabalho com qualificação.

A maioria da população do estado é composta por pretos e pardos, enquanto os brancos compõem apenas 36% da população. Isso faz com que o impacto da qualificação por meio das políticas de cotas e da inserção no mercado de trabalho fiquem mais evidentes.

Para o economista, além da política federal, programas estaduais foram fundamentais para a diminuição dessa disparidade. Alguns exemplos são a ampliação do ensino integrado das escolas e o Programa Ganha Mundo, no qual jovens de escola pública do ensino médio ganham bolsas para estudar em diversos países, como Austrália, Canadá, Portugal, Inglaterra e Espanha.

Entre 2007 e 2014, o PIB de Pernambuco cresceu acima da média dos outros estados, com a chegada de indústrias como a refinaria da Fiat e o estaleiro Atlântico Sul. Para Hugo, o aumento do PIB, a chegada de polos industriais e as políticas de inserção social podem ter influenciado na diminuição de disparidades.

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