POLÍCIA
Facções criam regras para moradores em bairros de Rio Branco e deixam avisos
Caso queira de fato levar a fundo as investigações e o monitoramento de organizações criminosas que agem no Acre, tanto no interior como na Capital, com matanças quase diárias, o gabinete de crise instituído pela Secretaria de Estado e Segurança Pública e polícias Civil e Militar, não precisaria ir muito longe. Bastaria seguir as pistas deixadas pelos próprios criminosos ao assinarem as siglas de suas organizações em pichações nas áreas sob domínio deles.
“Não pode roubar na área. Quem roubar levar bala. Assinado – CV”, é uma das pichações, por exemplo, no bairro Cidade Nova, próximo à antiga rodoviária de Rio Branco e na frente do Posto de Saúde “Dr. Mário Maia”. Ali, revelam moradores sob compromisso de confidencialidade que os soldados do tráfico do Comando Vermelho (CV) já não se escondem. “Até mesmo em pleno dia eles aparecem armados para checarem se suas regras estão sendo cumpridas”, revelou uma moradora.
O mesmo acontece, por exemplo, no final da Rua Epaminondas Jácome, no final do bairro Cadeia Velha. Para morar ali, os novos moradores são obrigados a se apresentar às lideranças do CV e torcer para que caia nas graças dos chefões locais. Do contrário, o morador é obrigado a sair do bairro.
É o que dizem as placas de aviso nas paredes ao longo da rua. Assim como Cidade Nova e Baixada da Cadeia Velha, bairros da periferia de Rio Branco, o restante da cidade está todo conflagrado, tal é o atrevimento das organizações criminosas, ao concorrerem abertamente com as forças de segurança regulares do Estado. De acordo com os avisos, entrar ali com os vidros do carro, qualquer que seja o veículo, fechados, corre o risco de tiros. “Quem não abaixar os vidros, leva bala. Apague a luz do carro também”, diz um aviso num muro.
Em outra parte da cidade, na chamada Baixada da Sobral, onde se localizam vários bairros e provavelmente abriga o maior contingente populacional da Capital, que manda agora é o PCC (Primeiro Comando da Capital). Depois de quase formarem uma aliança com um B-13 (Bonde dos 13), os faccionados romperam a trégua e retomaram as matanças.
O mais sangrento nesta guerra foi o último final de semana, com pelo menos quatro assassinatos. Um dos mortos, um garoto de pouco mais de 18 anos, foi morto no bairro Plácido de Castro quando, nas pichações, trocava as siglas do PCC pela do Bonde dos 13, a sua nova organização. Foi alvejado a tiros e morreu no meio da rua, no sábado.
A guerra das facções não ocorre de forma à toa. O Acre, pela proximidade com países produtores de drogas, Bolívia e Peru, e uma fronteira imensa e praticamente sem guarnição, virou rota de tráfico. É por aqui que entra a droga destinada ao Nordeste e a outras regiões do país, que é a razão da disputa territorial entre as organizações criminosas.
Uma das estratégias das organizações é o estabelecimento de regras que os moradores deveriam seguir, como aqueles avisos de que é proibido roubar moradores. “Para se adiantar aos criminosos, os órgãos de segurança precisam apenas se infiltrar nos bairros e saber quem dita essas regras”, aconselhou um morador.