No mesmo tom conciliatório do discurso do dia anterior, Campos Neto disse ver com naturalidade os questionamentos do governo Lula sobre o nível da taxa de juros no Brasil.
“É justo questionar os juros altos, e é importante ter alguém no governo que faça isso. Faz parte do jogo e do equilíbrio natural. É trabalho do Banco Central melhorar a comunicação sobre suas decisões. Eu reconheço que poderia ter feito isso de forma mais frequente e didática”, disse o presidente do BC, em evento organizado pelo banco BTG Pactual.
Ele ponderou que, embora a crítica seja natural, quanto mais fortes forem as instituições, mais intenso pode ser o debate e menos os preços de ativos e as expectativas serão afetados.
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“A experiência de outros países mostra que o primeiro teste da autonomia (do BC), como acontece geralmente em troca de governos, gera mais ruído. Mas, quando isso (a autonomia) sobrevive, então o sistema navega muito bem”, disse.
Ainda na linha da trégua, Campos Neto disse que o governo tem apenas 45 dias de atuação e que o investidor tem sido “apressado” ao cobrar novas medidas. Ele foi elogioso ao trabalho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que estaria atento à necessidade de um “seguir um plano fiscal com disciplina, com o arcabouço (fiscal) que já está sendo construído”.
Meta inflacionária
Sobre a meta inflacionária, o presidente do BC disse que não cabe à autoridade monetária deliberar qual será o nível de inflação a ser perseguido.
“A regra do jogo é clara: quem determina a meta não é o Banco Central; ele apenas tem autonomia operacional e um conjunto de instrumentos para seguir a meta. Eu até preferiria que o BC não tivesse poder de decisão, porque vejo um conflito de interesse no fato de você definir a meta que deve seguir”, afirmou Campos Neto.
Ele lembrou que a meta inflacionária é definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), cujo presidente é o ministro da Fazenda. “O Banco Central tem um voto de três (no CMN), e o sistema funciona bem assim”, concluiu.
Apesar disso, o chefe da autoridade monetária disse não ver como positiva qualquer mudança na meta inflacionária agora, uma vez que o efeito obtido pode ser o oposto do esperado por Lula.
“Países que fizeram essa relação de troca, de aceitar um pouco mais de inflação para ter mais crescimento, acabaram com uma inflação muito alta e uma economia que cresce pouco”, alertou Campos Neto.
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O presidente do BC lembrou que muitos países passaram a conviver com uma inflação mais elevada no pós-pandemia, mas isso não significa, necessariamente, que aumentar a meta inflacionária no Brasil trará a flexibilidade que o governo espera.
“Aperfeiçoamentos (na meta de inflação) são bem-vindos, porque geram melhorias operacionais. Não posso adiantar quais mudanças estão em análise, mesmo porque o Banco Central até pode propor algo, mas quem aprova é o governo”, finalizou.