POLÍCIA
Preso por tentar explodir caminhão buscou aulas de sniper e escreveu carta a Bolsonaro

George Washington de Oliveira Sousa, preso em 24 de dezembro de 2022, depois de participar de ato terrorista que tinha como objetivo explodir um caminhão-tanque estacionado perto do Aeroporto de Brasília, escreveu uma carta a Jair Bolsonaro (PL). As palavras endereçadas ao então presidente foram encontradas após perícia feita no celular apreendido de George, no aplicativo “Samsung Notes”. Não está claro se a carta chegou a ser enviada ou se era apenas um rascunho.
No texto, o homem preso dá crédito a Bolsonaro pelas suas ações, descritas na carta em tons messiânicos. George afirma que, desde novembro, estava acampado em frente a quartéis do Exercito, primeiro no Pará e, depois, em Brasília. Bolsonaristas se fixaram com barracas por cerca de 60 dias em frente ao QG do Exército, na capital do país, com objetivos golpistas: os manifestantes não aceitaram o resultado do segundo turno das eleições e pediram um golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder.
“Conheço homens de Caráter, Respeitados e de coragem (Senhores) do Agro que estamos juntos desde 31/10/22 nas estradas, quartel 52 BIS em Marabá-Pa, chegando a Brasília dia 12/11/22 trazendo uma caravana com dezenas de ônibus e centenas de pick-up. Longe de Minha Família Esposa, Filhos e negócios, mas jamais desistirei de nossa pátria”, afirmou George Washington (leia a íntegra da missiva no fim da matéria).
O bolsonarista pede permissão ao ex-presidente para permanecer armado dentro do acampamento, em Brasília. “Jamais, digo jamais para confrontar forças Militares, mas para nos defender (mulheres e crianças), o Sr. Sabe bem de quem temos que nos defender!”, disse. “A santidade esta na ação justa e na coragem de proteger aqueles que não podem defender a si mesmos e a bondade. O que Deus deseja está no coração e na sua mente e através do que você faz a cada dia você será um bom homem ou não”, sem deixar claro se está falando de si mesmo ou do ex-presidente.
Por fim, George afirma que vai manter “estas palavras em sigilo”.
Aulas de sniper
Nos dias que se seguiram à tentativa de atentado no Aeroporto de Brasília, um policial militar de São Paulo reconheceu as fotos de George Washington, exibidas à exaustão no noticiário. O bolsonarista havia procurado o PM dias antes para pedir instrução de tiro.
O militar foi até a polícia de Brasília para prestar depoimento. Ele contou que atua na área de instrução de tiro há cerca de 10 anos, mais especificamente de tiros de precisão para operações especiais, ou seja, tiros de sniper. Tudo começou em 17 de dezembro, portanto uma semana antes da tentativa de atentado, quando um colega de profissão afirmou que alguém que precisava de ajuda para montar uma luneta de uma arma longa o procuraria.
Em seguida, George Washington entrou em contato com o professor de snipers e disse a ele que, na verdade, queria aprender – ele procurava uma “instrução rápida de tiro” para usar sua arma. O policial não achou o pedido estranho, já que atua como professor há muitos anos. Entretanto, não ensina tiros de precisão a civis e, por isso, desconversou dizendo que marcariam depois. Antes de cortar o contato, ele ainda perguntou os tipos de armas que George dispunha, o que o ajudou a reconhecê-lo nas reportagens.
Atentado em Brasília
Segundo investigação da polícia e acusação do Ministério Público, George Washington, 54 anos; Alan Diego dos Santos Rodrigues, 32; e Wellington Macedo de Souza, 47 tentaram explodir um caminhão-tanque perto do Aeroporto de Brasília com o objetivo de provocar um estado de sítio que levasse a um golpe de estado pelos militares. A bomba posicionada não explodiu por um erro técnico.
George teria montado a bomba, e Alan Diego e Wellington Macedo a posicionaram na madrugada de 24 de dezembro, na véspera do Natal. George foi o primeiro a ser preso, no mesmo dia do atentado frustrado. Alan se entregou em 17 de janeiro, e Wellington continua foragido.
Leia a íntegra da carta de George Washington. Foram cortadas as partes com dados pessoais, e mantidos erros de ortografia e digitação.
