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POLÍTICA

Lula, 50 dias de um governo que tem prazo, mas também pressa

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Em jantar no Palácio da Alvorada com mulheres jornalistas, em meio ao seu primeiro mandato, a presidente Dilma Rousseff soube que uma delas, Denise Rothenburg, imitava a sua voz à perfeição. Desafiou-a a fazê-lo. E Rothenburg falou como se fosse Dilma dando um carão em um dos seus auxiliares. Ao concluir, disse com rispidez:

“Quero isso pra já”.

Foi a única parte da fala que Dilma corrigiu:

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“Pra já não, pra ontem”.

Ao completar, hoje, 50 dias de governo, Lula tem se caracterizado pela pressa. Quer tudo para ontem, e atenaza a vida dos que o cercam. Isso talvez decorra da idade (77 anos), ou de estar em busca do tempo perdido (ficou preso 580 dias em Curitiba), ou efeito do golpe bolsonarista de 8 de janeiro, ou de tudo isso junto.

Ouvi de pelo menos dois ministros do Supremo Tribunal Federal que “o golpe ainda não acabou”. A impressão deles, ou o temor, é que golpistas espalhados por aí, em ações coordenadas ou espontâneas, tentem mais adiante tocar fogo no Brasil outras vezes. Há células adormecidas e os chamados “lobos solitários”.

Um Lula apressado já fez muitas coisas boas nas áreas da Saúde, Educação, Justiça, Meio Ambiente e Direitos Humanos, por exemplo. Se nada tivesse feito, bastaria interromper a dizimação pelo garimpo dos indígenas Yanomami para justificar sua eleição. É o único presidente brasileiro eleito três vezes pelo voto popular.

Na Economia, porém, está a dever. Durante a campanha repetiu que governaria de olho nos pobres e que aprendera com dona Lindu, sua mãe, que não se deve gastar além do que se tem – salvo para investir em algo com retorno garantido. Seus governos anteriores seriam as garantias disso. Lula é seu próprio avalista.

É possível, no futuro, que ele seja lembrado por ter cumprido a palavra e legado ao seu sucessor um país melhor do que o que herdou. Convenhamos: para um político com o mínimo de cabeça no lugar, experiente e apoiado em uma equipe competente, não será difícil superar os anos regressivos e trágicos de Bolsonaro.

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No entanto, de Lula, cobrasse mais, esperasse mais. Não só por ter sido bem-sucedido ao governar o país, mas por ser Lula, o primeiro operário a chegar onde chegou. Muitos não o perdoam por isso. Gostariam de vê-lo pelas costas. E, no que depender deles, de alguns empurrões… Quem sabe?

Daí a pressa de Lula em mostrar serviço, mesmo que à custa da perfeição. O que Marco Maciel, vice-presidente da República, ensinou, até aqui não vale para Lula:

“Quem tem prazo não tem pressa”.

Talvez Lula deva levar em conta o que disse no início do século passado ao cocheiro de sua carruagem o político gaúcho Pinheiro Machado, ao avistar uma multidão hostil

“Nem tão devagar que pareça afronta, nem tão depressa que pareça medo”.

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