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GERAL

“Façam o exame”, diz homem que passou 43 dias na UTI por conta do HIV

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A falta de diagnóstico para o vírus HIV quase levou à morte o consultor de informática Luís Chacon, de 56 anos. Em agosto de 2022, ele deu entrada no Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia (HMAP), no estado de Goiás, com um quadro de insuficiência respiratória aguda. Debilitado e sem conseguir andar, foi imediatamente internado na unidade de tratamento intensivo (UTI).

A suspeita inicial era Covid-19, mas essa hipótese foi descartada após a realização de teste rápido. Depois de novos exames, os médicos chegaram ao diagnóstico de pneumocistose.

O infectologista Murilo Calábria, responsável pela internação de Luís, explica que essa é uma doença infecciosa provocada por um fungo. A enfermidade costuma ocorrer em pacientes com o sistema imunológico comprometido e, caso não seja tratada adequadamente, pode matar.

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Teste de HIV

O passo seguinte para o tratamento foi descobrir por que a imunidade de Luís estava tão baixa. O exame para HIV deu positivo, mas, dentro do quadro da pneumocistose, não era possível entrar com o coquetel de medicamentos.

De acordo com Calabria, uma pessoa saudável e sem HIV tem em média 800 cópias de células CD4 (células de defesa do organismo, principal alvo do vírus da Aids). Luís estava com essas células abaixo de 50.

“Estava no leito da UTI quando o médico deu a notícia de que eu tinha HIV. A primeira pessoa com quem me preocupei foi a Mara. Nunca tive medo de morrer”, lembra Luís. Esposa dele, Mara tem 45 anos e trabalha como enfermeira no hospital onde ele estava internado.

O consultor de TI até suspeitava ter adquirido o HIV em relacionamentos anteriores, mas nunca havia feito o teste. Como a transparência sempre foi a base da união entre ele e Mara, os dois já tinham conversado sobre a possibilidade, mas ele não buscou o diagnóstico.

Após a confirmação do vírus em Luís, Mara também realizou o teste de HIV. As chances de ela ter o vírus eram grandes, mas, para a surpresa de todos, o resultado deu negativo. Após 30 dias, a esposa de Luís repetiu os exames e, felizmente, o resultado confirmou que ela não foi infectada com a doença. “Não temos justificativa exata e clara para ela não ter contraído o vírus, mas reforçamos a importância de que eles adotem medidas de proteção agora”, afirma o infectologista.

Dias de angústia

Durante 43 dias, Luís seguiu internado na UTI do HMAP, unidade gerida pelo Hospital Albert Einstein. Em 21 deles, esteve intubado devido a uma piora significativa do quadro. Com a imunidade tão baixa, ele virou uma vítima fácil de infecções hospitalares. Mara em momento algum saiu do lado do marido.

Para ela, o pior momento foi ter de ligar para as duas filhas dele, que moram no México, e pedir que elas viessem ao Brasil. “Nesse momento, passou um filme na minha cabeça de todos os sete anos do nosso relacionamento. Perdê-lo era uma ideia insuportável”, lembra a enfermeira.

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No entanto, o inesperado aconteceu. Luís começou a apresentar sinais de melhoras e foi extubado. Ficou dois dias sob observação e, então, recebeu alta. “Foi um milagre. Minhas chances de sobrevivência eram mínimas, e aqui estou hoje”, comemora.

Volta à vida normal

Mesmo debilitado, com tremores nas mãos e sem conseguir digitar direito, ele voltou a trabalhar 15 dias depois de alta. “Quando saí do hospital, os médicos me falaram: ‘Vida normal’. E de fato é”, afirma.

Sete meses após o ocorrido, ele está bem. Não descuida dos medicamentos que mantêm o HIV sob controle e conta ter chorado de emoção na primeira vez que foi à academia. “Achava que não iria nem andar mais, quem dirá malhar”, brinca.

O infectologista Murilo Calábria reforça que viver com o HIV hoje não é uma sentença de morte, pois os medicamentos atuais impedem que o vírus se multiplique no organismo, garantindo a saúde dos pacientes.

Gratidão e incentivo

Luís faz questão de demonstrar gratidão pela equipe médica do HMAP. “Fui tratado com muito cuidado e acolhimento, tive suporte o tempo todo por profissionais de diversas áreas. Sobrevivi por conta da excelência do hospital”, afirma.

Em um ato de coragem, no último dia 18 de fevereiro, ele se voluntariou para dar um depoimento para os funcionários do hospital. Era um momento interno da instituição para falar sobre a importância da prevenção do HIV na época do Carnaval.

Esta reportagem é a segunda ocasião em que Luís divulga sua história. O objetivo é derrubar preconceitos e ampliar a conscientização das pessoas sobre a importância do diagnóstico.

“Resolvi abrir o jogo para que as outras pessoas não deixem chegar no ponto que eu cheguei. Se você tem o vírus, não é obrigado a falar sobre isso para o seu pai ou para a sua mãe, mas você precisa saber disso e abrir o jogo com o seu parceiro”, destaca. “Façam o exame”, conclui.

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