Maria José Ferreira dos Passos, diretora da escola, disse ao Metrópoles que a instituição não aceita “qualquer tipo de preconceito ou racismo”, e que o tudo será resolvido dentro do colégio.
“A escola irá tomar todas as providências cabíveis no regimento das escolas públicas. Estamos lidando com o problema com todos os cuidados pertinentes aos jovens e à sala de aula em si”, disse a diretora.
A instituição revelou ainda que a professora deve se pronunciar sobre o caso, “pois ela tem outro relato do fato”. A Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA 2), em Taguatinga, investiga o caso e ainda deve ouvir a vítima, o adolescente e testemunhas.
A PCDF tomou conhecimento da situação após denúncia nas redes sociais. Segundo o delegado-chefe adjunto da DCA 2, Flávio Messina, o fato de a vítima não ter procurado a delegacia não impede a instauração do procedimento, por se tratar de ato infracional de injúria racial.
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O Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF) irá se reunir com a diretora da instituição na manhã desta quarta-feira (15/3). “É lamentável um episódio como esse. Precisa ser apurado no rigor da lei. Os professores precisam ser valorizados”, finalizou o vice-diretor do Sinpro, Samuel Fernandes.
O caso
Sob risos dos colegas, o aluno entregou a sacola enquanto era filmado pelos estudantes de uma turma do terceiro ano. Outros alunos da escola relataram que a entrega da esponja para lavar louças era uma atitude conscientemente machista e racista contra a mulher negra.
No vídeo, a professora de português aparece constrangida. “Vou aceitar, porque tudo o que vem, volta”, disse ela. “Algumas pessoas viram ela chorando depois”, conta um estudante do CEM.
Segundo ele, o aluno que entregou a esponja chegou a brigar com outras pessoas que criticaram a atitude. “Ele começou a quebrar o pau, xingou todo mundo e chamou de ‘beta’ nojento”, relatou.
O termo “beta” é muito utilizado dentro de um universo de misoginia. Homens como Thiago Schutz, que viralizou com cortes de podcasts fazendo afirmações machistas sob a ótica de uma superioridade masculina, usam essas expressões. O “beta” seria o homem submisso à mulher.
“Alunas mulheres e negras ficaram muito ofendidas com aquilo. Quando eu e minha namorada soubemos, denunciamos para a direção”, disse o garoto que testemunhou a repercussão na escola. Em um áudio enviado a grupos de WhatsApp, o aluno que deu a esponja de aço para a professora chegou a ameaçar repetir a atitude com outras meninas.
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“Não me testa, que eu vou te dar um ‘bombril’. Não me testa. Se você apelar, vai ficar ruim para ‘tu’.”
O caso ter ocorrido no Dia Internacional da Mulher chocou ainda mais a comunidade escolar. Em nota, a Secretaria de Educação disse que a direção da escola tem autonomia para conduzir o caso. A pasta informou ter recebido a denúncia nesta segunda-feira (13/3) e que vai se reunir com o estudante e com a professora “para demais esclarecimentos”.
“A pasta ressalta, ainda, que repudia qualquer tipo de preconceito e reforça o compromisso e empenho na busca por elementos que permitam o esclarecimento dos fatos, bem como o suporte aos envolvidos”, conclui a nota.