Um acordo prevendo essa possibilidade já tinha sido assinado no início do ano, mas agora houve um passo adicional no processo: o governo chinês acaba de designar um banco do país, o ICBC, para realizar a transação direta, conhecida como “clearing house” (câmara de compensação, na tradução livre).
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Novidade vantajosa
Em Pequim, a secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito, disse que a novidade pode ser vantajosa para as empresas porque eliminará os custos intermediários hoje existentes com as operações em dólar.
“Passar pelo dólar aumenta o custo. Se isso (a “clearing house”) representar um custo menor, será interessante”, afirmou a secretária, acrescentando que a adesão ao modelo não será obrigatória.
Funciona assim: se uma companhia brasileira vende para a China um carregamento de carnes, poderá negociar e receber em yuan e converter o pagamento diretamente em reais no Brasil.
Sob reserva, um dos maiores empresários do agronegócio do país disse ao Metrópoles que precisará fazer contas para entender melhor se valerá a pena aderir. Teoricamente, com o dólar valorizado, exportar para os chineses na moeda americana traz ganhos expressivos para as empresas brasileiras.
Para além do aspecto financeiro, a questão envolve também geopolítica: como parte do projeto de ampliar sua influência no mundo, a China trabalha para internacionalizar o yuan e tentar torná-lo, no futuro, tão relevante quanto o dólar.
Venda de aviões
Após participar de um dos painéis, o presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, confirmou que a gigante brasileira do setor de aviação anunciará em breve a venda de “cerca de” 20 aviões para a China — ele não quis confirmar o número exato de unidades nem revelar o valor do negócio.
Gomes Neto disse ainda que a Embraer deverá instalar uma base em território chinês para transformar aviões de passageiros em aviões de carga, atendendo a uma demanda crescente do setor de e-commerce do país asiático, que precisa de meios para entregar as mercadorias que vende em profusão pela internet.
Os acordos estão alinhavados. Entretanto, a ideia é que, em razão da dimensão dos dois negócios, eles só sejam anunciados quando Lula se encontrar com Xi Jinping.
Nova data
Inicialmente, o Itamaraty estava trabalhando com a possibilidade de a viagem do presidente à China ser remarcada para maio ou para os meses seguintes, mas fontes da diplomacia brasileira diziam nesta quarta que há chances de a visita ocorrer já em 11 de abril. O Itamaraty aguarda a confirmação do governo de Xi Jinping, que tem uma agenda apertada no próximo mês.
Os chineses querem que, com Lula, o governo brasileiro leve mais uma vez a Pequim uma grande delegação de empresários. O objetivo é organizar, em paralelo à visita, eventos até maiores do que os que terminam agora, de preferência com representantes de mais empresas.
Também nesta quarta, o Conselho Empresarial Brasil-China divulgou uma lista de 21 acordos, memorandos e parcerias que saíram das reuniões realizadas nos últimos dias em Pequim. A relação inclui iniciativas, por exemplo, nas áreas de energia renovável e agricultura. Num dos acordos, a brasileira Suzano acertou com a chinesa Cosco a construção de cinco navios para transporte de celulose e outros produtos de suas plantas industriais.