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Idoso torturado na ditadura processa o Estado: ‘Tenho raiva até hoje’

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Elizeu Messias, 66, foi preso e torturado na ditadura militar Imagem: Stella Borges/UOL

“Fui preso, torturado, jogado fora e agora estou aqui”. É assim que Elizeu Messias, 66, descreve sua vida depois de ter sido vítima da Operação Camanducaia, uma ação da ditadura militar conduzida pela Polícia Civil de São Paulo, em 1974, quando tinha 17 anos. Messias foi preso sem ter cometido nenhum crime — sequer fazia parte de algum grupo político contra a ditadura.

No mês passado, quase quatro anos após ele ter entrado com um processo contra o Estado de São Paulo, a Justiça condenou o governo paulista a indenizá-lo em R$ 65 mil. A Procuradoria-Geral do Estado recorreu alegando que a operação não teve motivação política e, por isso, o caso já prescreveu. “O que importa é eles reconhecerem o que fizeram, para mim, dinheiro não importa”, disse o idoso ao UOL.

Sem contato com a família desde a época em que foi preso, Messias vive numa casa de repouso em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, que acolhe pessoas em situação de rua. Não se casou nem teve filhos. Ele faz tratamento para os olhos, hepatite, os dentes e acompanhamento psiquiátrico para tratar as sequelas deixadas pela tortura, comprovadas por laudos médicos. Sente-se inseguro em todos os lugares onde recebe assistência e toma antidepressivo e calmante.

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“[Entrei com o processo porque] tenho raiva disso até hoje, cada vez que lembro me dá raiva. Você ser preso, torturado, sem ter cometido nenhum delito. É cruel isso aí.”

Pau de arara, fome e abandono

Messias nasceu em Jundiaí do Sul (PR) e veio para São Paulo após ficar órfão, ainda na adolescência, para morar com uma tia, mas saiu de casa por desentendimentos com o marido dela. Foi abrigado no Instituto Modelo, na zona leste de São Paulo, instituição do Estado destinada ao acolhimento de crianças e adolescentes sem vínculos familiares. O idoso havia começado um curso de torneiro mecânico dias antes de ser levado pela polícia sem qualquer explicação. “Lá dentro [no instituto], tinha gente de tudo quanto era qualidade. Mesmo não tendo culpa de nada, houve vários roubos na região e me colocaram no meio. A polícia foi lá e me levou, mas eu não tinha.

O idoso recebe um benefício no valor de um salário mínimo por mês e pensa em voltar para o Paraná quando receber a indenização, mas não tem contato com a família desde quando foi preso. “Eu perdi o vínculo com eles justamente por causa disso. Na época [da prisão], eles ficaram sabendo e acharam que eu era mau elemento mesmo. Todo mundo virou as costas para mim, eram conservadores demais”, diz. Corintiano, o idoso diz que gosta de acompanhar os jogos de futebol pelas duas TVs disponíveis no lar onde vive. Mas quer voltar a morar em um hotel social na capital paulista quando terminar seu tratamento de saúde.

“Aqui tem normas, horário para sair, para chegar. Eu gosto de liberdade, de andar. Eu cansei de ser preso, menina.”

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