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POLÍTICA

Lula na China e as perguntas sem respostas

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Pequim – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou o segundo e último dia de compromissos oficiais de sua viagem à China sem responder a nenhuma pergunta dos jornalistas brasileiros. No programa inicial da visita, havia previsão de duas entrevistas, uma na quinta e outra nesta sexta-feira. Ambas foram canceladas de última hora. No fim das contas, o presidente agiu como os poderosos chineses, seus anfitriões, acostumados a falar só o que querem, e quando querem, sem se submeter a questionamentos.

Lula falaria aos jornalistas na embaixada do Brasil em Pequim depois do encontro que teve com o presidente Xi Jinping. Era noite e os repórteres o aguardavam quando o embaixador Marcos Galvão trouxe o recado: não haveria a entrevista em razão da agenda intensa. O presidente estava esgotado. Lula participaria apenas de um coquetel marcado para encerrar a viagem, na embaixada mesmo, mas sem demora.

Havia, porém, uma lista extensa de perguntas que careciam de resposta. Da parceria com um regime autoritário questionado pelo tratamento que dispensa aos direitos humanos até os efeitos da aliança com Pequim na relação com outros países historicamente aliados do Brasil, como os Estados Unidos, Lula certamente se veria diante de algumas questões um tanto incômodas. Decidiu não falar.

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Do ponto de vista político e diplomático, a viagem à China foi um sucesso. O Brasil recebeu tratamento especial e o próprio Xi Jinping disse claramente tratar-se de uma relação com “lugar prioritário” na política externa chinesa. Isso nunca será pouco. Para além de tudo, é mais uma amostra vistosa da volta do país à cena global. Do ponto de vista prático, porém, faltaram grandes resultados concretos para serem anunciados.

O próprio governo brasileiro, Lula incluído, criou uma expectativa gigante que fez o saldo da expedição ao Oriente parecer pequeno.

Não é o que mais importa, é verdade, mas o número de acordos assinados entre os dois governos foi menor que o anunciado. Falou-se em mais de 20. Foram 15. Ainda assim, vários deles apenas memorandos de entendimento – alguns prevendo parcerias triviais como, por exemplo, coprodução televisiva entre a mídia estatal chinesa e o serviço estatal de comunicação brasileiro.

Acordos comerciais de peso, como o que trataria da venda de duas dezenas de aviões da Embraer para a China, ficaram de fora, sem mais explicações. Na semana da viagem que Lula teve de adiar, no fim de março, o negócio já estava alinhavado. O presidente da empresa, Francisco Gomes Neto, chegou a dizer em Pequim que só faltava o anúncio, mas que isso seria feito pelos dois presidentes quando da remarcação da visita. Não foi.

Adiante. À Ucrânia. Coube a Lula, já há algum tempo, se colocar como uma espécie de missionário que, com seu talento para a negociação, ajudaria a resolver a guerra entre russos e ucranianos a partir da criação de uma espécie de “Clube da Paz”. Mais recentemente, ele disse que gostaria de avançar no tema com Xi Jinping. Afirmou ainda que uma possível solução para o conflito teria, necessariamente, que passar pela China.

De novo, gerou expectativa. Havia até certa esperança de que, do encontro com o presidente chinês, surgisse algo verdadeiramente novo. Mas, nesta sexta, o que saiu sobre o tema não trouxe nenhum avanço.

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A declaração conjunta resultante da reunião com Xi Jinping dizia apenas que Brasil e China defendem o diálogo e a negociação como “a única saída viável para a crise na Ucrânia e que todos os esforços conducentes à solução pacífica da crise devem ser encorajados e apoiados”. Nada além do que já estava posto publicamente, tanto por Brasília quanto por Pequim.

De novo, expectativa frustrada.

Nesta sexta, além do embaixador Marcos Galvão, os ministros Marina Silva e Fernando Haddad e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, foram escalados para substituir Lula no púlpito que havia sido providenciado para a coletiva de imprensa do presidente na embaixada.

Galvão transmitiu um pedido de desculpas de Lula e destacou a importância da visita. “Diplomacia se faz com palavras, mas se faz também com simbolismos. Não faltaram simbolismos”, disse o embaixador.

O pronunciamento improvisado para substituir a entrevista do presidente prosseguiu. Mercadante anunciou o aporte chinês de R$ 6,5 bilhões ao BNDES que servirão para o lançamento, pelo banco, de novas linhas de financiamento no Brasil. Marina falou sobre perspectivas de cooperação com a China na área ambiental, por exemplo em iniciativas de reflorestamento.

Haddad, por fim, mencionou projetos de empresas chinesas previstos para o Brasil. Caso, palavras dele, da “possível instalação” – atenção para o “possível” – de uma fábrica de carros elétricos no país.

É a fábrica que o governo Lula deseja que a montadora chinesa BYD assuma na Bahia, no lugar do parque fabril abandonado pela Ford.

Trata-se, porém, apenas de um plano. Ao menos por enquanto, como o próprio Haddad admitiu. “Tem uma série de questões a serem discutidas, inclusive o local de implantação dessa unidade”, observou o ministro.

Mais uma vez, nada concreto.

Simbolismos, como disse o embaixador Marcos Galvão, de fato não faltaram na viagem de Lula à China. Mas a impressão que ficou foi a de que os resultados poderiam, sim, ter sido melhores.

Lula poderia ter sido indagado também sobre isso.

Atualização — ao deixar o hotel na manhã deste sábado em Pequim, ainda noite de sexta no Brasil, Lula falou por cerca de 10 minutos aos jornalistas e respondeu algumas perguntas, inclusive sobre a guerra na Ucrânia. Ele voltou a defender a criação de um grupo de países para negociar o fim do conflito e criticou frontalmente a postura americana. “É preciso que os Estados Unidos parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz”, disse. Leia mais aqui.

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