POLÍTICA
CPI do Golpe vai chover no molhado ao revelar o que já se sabe
A CPI Mista dos Atos Antidemocráticos tem tudo para contrariar a célebre frase do ex-senador por Santa Catarina Jorge Bornhausen. Ela concluirá o que já se sabe: Bolsonaro foi o maior responsável pela tentativa fracassada do golpe de 8 de janeiro.
Ainda no seu primeiro ano de governo, ele falou que sua eleição fora fraudada. Sim, ele disse que houve fraude na eleição de 2018, e que só por isso venceu no segundo turno. Sem fraude, teria sido eleito no primeiro. Cadê as provas?
Não tinha. Nunca as teve. Como nunca apresentou provas a cada vez que repetia que o voto impresso seria muito mais seguro. Bolsonaro e seus filhos foram eleitos pelo voto eletrônico. Então, teve início a campanha para desacreditar o sistema eleitoral.
Foram quatro anos de pregação contra o voto eletrônico, e também o processo de apuração de votos. O Congresso derrotou a proposta bolsonarista de restabelecer o voto impresso. Bolsonaro ignorou a decisão do Congresso, o que por si só revelaria sua intenção oculta.
O que desejava, caso não se reelegesse, era virar a mesa – pôr seus fanáticos seguidores nas ruas com o apoio das Forças Armadas cooptadas por ele –, provocar uma intervenção militar para anular a vitória do seu oponente e retomar seu projeto autoritário.
Foi tudo bem planejado. Bolsonaro fugiu para os Estados Unidos, de modo a poder dizer mais tarde, quando devolvido à Presidência, que estava fora do país no momento em que o povo brasileiro se rebelou contra as eleições roubadas por Lula e seus aliados.
De fato, as eleições foram roubadas, mas por ele, que gastou além do que poderia para vencê-las, usou a Polícia Rodoviária Federal para barrar a chegada às urnas de eleitores de Lula, e valeu-se de todos os meios postos à sua disposição pelo aparelho do Estado.
Afinal, era a democracia que estava em causa – ele, querendo suspendê-la, e os demais candidatos, salvá-la. Bolsonaro jamais escondeu seus propósitos. É órfão do golpe militar de 64 e de 21 anos de ditadura. É a favor da tortura e devoto de torturadores.
Correria muito sangue se o golpe fosse dado em 1° de janeiro, dia da posse de Lula, e de multidão a ocupar a Praça dos Três Poderes. A data escolhida para o ato infame foi 8 de janeiro. Assim como ele não se reelegeu por pouco, o golpe não deu certo por pouco.
A minuta do golpe apreendida pela Polícia Federal na casa do ex-ministro Anderson Torres, da Justiça, conta a história do pós-golpe que se frustrou. A essa altura, o Supremo Tribunal Federal acumula fartas provas e evidências da trama do golpe.
Prestes a ser instalada, a CPI do Golpe vai chover no molhado. Mas se é assim que querem os golpistas, que seja. Vamos a ela.