POLÍTICA
Assassinato do ex-governador Edmundo Pinto completa 31 anos; relembre o caso
Mesmo morando em Dubai, nos Emirados Árabes, do outro lado do mundo, ele diz que mantém o Acre em seu radar e que um dia deve voltar para retomar a carreira política de seu pai, interrompida por aqueles tiros na madrugada do dia 17 de maio de1992, um domingo. Edmundo Pinto foi morto com dois tiros de revólver quando estava hospedado num quarto de hotel de luxo, o Della Volpi Gardem, no centro de São Paulo, num crime até hoje não suficientemente esclarecido, atribuído a quatro criminosos comuns.
Marcas no corpo e pele sob as unhas da vítima revelaram que Edmundo Pinto reagiu à invasão de seu apartamento e que lutou fisicamente contra os criminosos. Isso, num momento em que assessores e seguranças do governador dormiam em suítes próximas à sua. O capitão da Polícia Militar Marcos Wisman, ajudante de ordens e responsável pela segurança do governador, revelou, em depoimento à polícia, que nada ouviu de barulho na suíte do governador, apesar da proximidade com a sua, porque provavelmente ele dormia com o som do aparelho de TV ligado.
O depoimento do militar, hoje aposentado e vivendo fora do Acre, só fez aumentar as suspeitas de que o governador foi assassinado num crime que envolveu uma trama política com várias pessoas envolvidas no crime.
A família mantém a tese de que, apesar da conclusão do inquérito policial apontar para o então governador ter sido morto num assalto comum, o crime tenha sido cometido por motivos políticos. A família, no entanto, prefere continuar a tocar a vida e já não insiste na necessidade de reabertura do caso para novas investigações, uma vez que, em 31 anos, caso novos autores ou executores fossem descobertos, o crime já estaria juridicamente prescrito.
A esposa e o filho do meio de Edmundo Pinto estão no Rio de Janeiro, de onde falaram com o ContilNet por telefone. Mãe e filho se cuidam mutuamente, embora a viúva Fátima Almeida, aos 68 anos, apresente boa saúde.
“Eu me cuido bem. Vivo num apartamento com meus três filhos de quatro patas (cães). Meu problema é a saudade, a dor pela perda do meu marido, que continua a fazer muita falta à nossa família”, disse Fátima Almeida, atualmente aposentada. “Nossa vida, embora meus filhos todos tenham tomado rumo em suas vidas, foi interrompida e parou o curso que seria normal no momento em que a morte foi anunciada”, disse Fátima Almeida.
Ela disse que não pretende casar-se novamente e que sua missão de vida agora é cuidar bem dos filhos, das três netas e dos animais com os quais convive num apartamento no Rio de Janeiro. Ela não pretende mais voltar a morar no Acre, “pelo menos por enquanto”.
O reencontro com o filho Rodrigo foi uma dessas felizes coincidências da vida. Seus três filhos – além de Rodrigo, ela é mãe de Pedro Veras Neto, o mais velho, e de Nuana, a mais nova, que eram crianças na época em que o pai foi assassinado, vivem em Dubai, nos Emirados Árabes. “No dia em que a Nuana e o Rodrigo vieram me visitar, enquanto Pedro permanecia lá, ele sofreu um infarto, aqui no Rio”, contou dona Fátima.
O infarto foi em abril. O susto lhe custou quatro pontes de safena no coração, muitos remédios e muita fisioterapia para que o corpo volte à circunstância anterior ou se adapte às novas condições. “Minha condição de atleta está me permitindo uma boa recuperação. Espero poder voltar breve ao trabalho em Dubai, ainda que com muita atenção aos cuidados médicos”, disse Rodrigo Pinto, que é instrutor de artes marciais do serviço secreto e de segurança das autoridades do governo local. “O voo do Rio de Janeiro para Dubai leva no mínimo 14 horas e estou sendo orientado a, quando for viajar, levar uma garrafa de oxigênio para o caso de uma emergência, além de outros cuidados”, revelou.
Rodrigo Pinto disse ainda que não vive em Dubai, do outro lado do mundo, por acaso. Ali, segundo ele, tem a chance de ganhar dinheiro e buscar a sonhada independência financeira. “Além disso, preciso também pensar no futuro das minhas filhas. Elas não vivem comigo, mas tenho que provê-las com saúde, educação e para o futuro. Em Dubai, tenho a chance disso”, afirmou.
Com a independência financeira, o ex-vereador Rodrigo Pinto também pensa em conseguir independência política. “Minha experiência com mandato eletivo me mostrou que, no Acre, só tem sucesso político quem vive à sombra de um cacique político ou à reboque de cargos comissionados. Sonho em retomar a vida política de meu pai, mas como ele pensava: sem estar vinculado à sombra dos caciques políticos e com independência para defender os interesses do povo” disse.
Pinto afirmou ainda que, mesmo vivendo do outro lado do mundo, tem consciência de sua condição de acreano e da necessidade de um dia voltar à terra. “Tenho dito que, mesmo vivendo longe, minha última morada será no cemitério São João batista, ao lado do túmulo do meu pai”, afirmou.