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POLÍCIA

Na mira da PF, Bolsonaro diz que não teme prisão: “Não há motivos”

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Após o terceiro depoimento à Polícia Federal (PF) em dois meses, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) declarou que não tem medo de ser preso, sob argumento de que “não há motivos para isso”. Desde que deixou o cargo, Bolsonaro se viu no epicentro de pelo menos três investigações – ligadas a fraudes em cartões de vacinação, joias sauditas milionárias e aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro.

“Para ter algum motivo que justificasse isso [uma eventual prisão], eu precisaria ter feito pelo menos 10% do que ele [o presidente Lula] fez. E eu fiz 0%”, declarou o ex-mandatário, em entrevista à revista Veja, divulgada nesta sexta-feira (19/5).

Bolsonaro voltou a defender a narrativa de que é alvo de perseguição, e acusou os responsáveis pela investigação de “parcialidade”.

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“Algumas pessoas importantes, não vou dizer os nomes, já diziam antes de acabar o governo que querem me prender. Uma prisão light, apenas para me carimbar com a pecha de ex-presidiário”, prosseguiu.

Questionado sobre o número de depoimentos à PF, Bolsonaro negou irregularidades e voltou a chamar a operação de “esculacho”.

“O pessoal está vindo para cima de mim com lupa. Eu esperava perseguição, mas não dessa maneira. Na terça-feira, nem tinha deixado o prédio da PF ainda e a cópia do meu depoimento já estava na televisão. É um esculacho. Todo o meu entorno é monitorado desde 2021. Quebraram os sigilos do coronel Cid para quê? Para chegar a mim”, prosseguiu.

“Considero um filho”

Questionado sobre a relação com o ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Cid – preso em operação da PF que investiga falsificação de dados de vacinação para a Covid-19, o ex-presidente voltou a defender o militar, e dizer que não tem motivo para desconfiar dele, tampouco pretende acusá-lo de nada.

“Eu tenho um carinho muito especial por ele. É filho de um general da minha turma, considero um filho”.

No entanto, admitiu: “Ao que tudo indica, alguém fez besteira. Não estou batendo o martelo. Da minha parte não tem problema nenhum”. Bolsonaro repetiu que não precisava do cartão de vacinação, por causa da condição de chefe de Estado, e nem a filha, menor de idade.

“Mas ninguém está investigando aquela outra que aconteceu em 2021. Alguém entrou no sistema usando o endereço ‘lula@gmail’ para falsificar meu cartão de vacina. O cara pode ser ligado ao PT. Por que não estão investigando? São parciais, na verdade”, argumentou.

Movimentações financeiras

Além das supostas fraudes em cartões de vacina, Mauro Cid também está envolvido em suspeitas de caixa 2 e de “rachadinha” com recurso do Planalto envolvendo o coronel Cid e Michelle Bolsonaro. As denúncias foram relevadas no início do ano pela coluna Rodrigo Rangel, do Metrópoles.

Na entrevista, Bolsonaro detalhou as funções de Cid como ajudante de ordens. “Ele atendia o telefone, às vezes um parlamentar, organizava algumas missões que eu dava. Também ficava com ele o meu cartão do Banco do Brasil. Ele movimentava minhas contas, pagava as contas da Michelle, mas não participava das decisões do governo, não interferia, não era, como alguns acham, um conselheiro”.

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“Agora, com todo o respeito, quebrar o sigilo de mensagens de um ajudante de ordens do presidente da República é… Vai se ter acesso a 90% da rotina do presidente e também de alguns ministros”.

Questionado se a PF pode encontrar algo comprometedor, Bolsonaro respondeu que não haverá nenhuma movimentação criminosa.

“Quando se fala em comprometedor, as pessoas pensam logo em dinheiro, em alguma coisa ilícita. Zero, zero. Isso não vai ter. Agora, tem troca de ‘zaps’, em linguagem de ‘zap’, tem palavrão. Há certamente conversas que envolvem segredos de estado. Vazar isso, como tem sido feito, é muito grave”, frisou.

Depoimento à PF

Esta semana, tanto Jair Bolsonaro quanto Mauro Cid estiveram na sede da Polícia Federal (PF), em Brasília, para prestar depoimentos. Na terça-feira (16) o ex-presidente deu a própria versão sobre as investigações que apuram fraude nos cartões de vacinação dele, da filha, de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, e de pessoas próximas.

Após ser alvo da operação, Bolsonaro repetiu que não tomou a vacina contra a Covid-19 e negou ter falsificado dados. “Não existe adulteração da minha parte. Eu não tomei a vacina. Li a bula e não tomei. Minha filha de 12 anos não tomou. A Michelle [Bolsonaro] tomou nos EUA”, disse em frente à casa onde mora, em Brasília.

Mauro Cid, por sua vez, foi confrontado nessa quinta (18) com as provas colhidas pela PF, de que ele teria participado ativamente em um esquema de adulteração de dados de vacinação contra a Covid-19 para gerar certificados falsos para ele mesmo e seus familiares, além de Bolsonaro e sua filha. Ele permaneceu calado.

O aliado de Bolsonaro está preso desde o dia 3 de maio, no âmbito da Operação Venire. Na data, outros cinco envolvidos no caso foram detidos preventivamente e também se mantiveram em silêncio no depoimento.

Segundo a investigação, Cid é suspeito de cometer os crimes de infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação, peculato eletrônico e corrupção de menores. As ações fazem parte do inquérito policial que apura a atuação do que se convencionou “milícias digitais”, em tramitação no Supremo.

Cid, agora, ficará preso até que se comprove que a manutenção dele em liberdade não prejudicará a investigação de forma alguma.

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