POLÍTICA
Pedro Pascoal: “desistir não é uma opção”, diz secretário sobre desafio de cuidar da Saúde do Acre
Uma das pastas mais complexas de qualquer gestão, a Saúde do Estado do Acre é conduzida atualmente pelo jovem médico Pedro Pascoal, pós-graduado em Medicina de Emergência e especializado em transporte aeromédico. Antes de aceitar o convite do governador Gladson Cameli (Progressistas) para este desafio, ele era coordenador e médico do Serviço de Atendimento Médico do Acre (Samu).
Ao ContilNet, nesta entrevista exclusiva, o secretário de Saúde, Pedro Pascoal, disse enfaticamente que apesar das dificuldades, as complexidade em resolver os problemas e do grande desafio, desistir não é, para ele, uma opção. “Vamos lutar até o último minuto“, disse.
Num estado onde 96% da população depende da Saúde Pública, ele toma para si a responsabilidade de tornar o atendimento mais humano. Esta é uma de suas prioridades e o principal legado que quer deixar, além da descentralização do atendimento, das reformas nos principais hospitais de saúde e, em primeira mão, informou a construção de mais uma UPA em Rio Branco e um Pronto-socorro exclusivo para crianças.
Pedro Pascoal também foi indagado sobre o caso que chamou atenção essa semana, do idoso que saiu do Pronto-socorro sem que ninguém tivesse visto e depois foi encontrado morto.
Confira a íntegra da entrevista, a seguir:
Como o senhor avalia esses pouco mais de 100 dias de sua gestão frente da Secretaria de Estado de Saúde e como tem lidado com as complexidades da pasta?
Ainda não foi o que eu quero fazer no todo. É lógico que foram pouco mais de 100 e tem muito trabalho a ser feito, mas em menos de 100 nós já tínhamos conseguido entregar um número recorde de cirurgias conforme o compromisso de campanha e plano de governo do governador …
Qual é esse número, secretário?
Foram mais de 2.800 cirurgias realizadas nesse período. O Opera Acre não será um plano emergencial. Isso entrará como rotina. Os pacientes terão a sua regionalização ou seja, eles serão operados nas suas regionais de saúde. A ideia, de fato, é descentralizar da capital. Hoje, temos a maioria da resolutividade no Pronto Socorro e na Fundação Hospitalar e nós queremos levar minimamente saúde para as nossas regionais Vale do Juruá e o Alto Acre.
Quais as primeiras ações no interior?
Já estamos num processo de estruturação dentro de uma dinâmica em Cruzeiro do Sul aonde estaremos, em menos de 100 dias, implantando um Centro Cardiológico para cateterismo para que os pacientes infartados não tenham que vir pra Rio Branco pra fazer seu cateterismo. Assim como, já retomamos a aquisição de um aparelho de ressonância magnética e a proposta, a estratégia é entregar até o final do ano.
Como esse temos pela frente inúmeros desafios a serem enfrentados para atender 96% da nossa população que depende unicamente do sistema único de saúde.
Esse, então foi o principal desafio que o senhor encontrou ao assumir a Saúde Estadual: a demanda reprimida de cirurgias?
Sim. Na verdade essa é uma realidade em nível nacional. Nós temos o apoio do Ministério da Saúde e tivemos a pandemia onde concentramos os esforços em atender os pacientes críticos e pacientes que já tinha sua cirurgia em espera essa fila só se agravou. Existe toda uma força tarefa, recursos que foram resgatados de portarias anteriores a 2018 que estão sendo aplicados nessas filas de cirurgias e também em consultas com especialistas e exames complementares de alta complexidade.
O fato do senhor ser médico gera uma grande expectativa de que sua gestão possa ser melhor em relação a quem não é médico. O senhor concorda com isso? Credita ao fato ser médico e do Samu, que está no dia-a-dia na ponta do sistema, maior possibilidade de sucesso como secretário?
Inicialmente eu queria frisar a boa gestão que a doutora Paula fez. Ela pegou uma pandemia e segurou toda, praticamente, nas costas. Assim como o secretário Alysson e os demais que passaram na pasta. Quanto ao fato de ser médico, eu acredito sim, que tem um ponto positivo. A doutora Paula também era médica cardiologista. Entende da urgência e emergência, mas eu levo como ponto positivo o fato de conhecer todos os municípios. O Samu me proporcionou isso. Me levou a conhecer de perto a realidade de todos os municípios. Sabemos onde estão a maiores fragilidades os maiores desafios e uma equipe empenhada, todos a gestão, os diretores, secretários adjuntos a gente tem grandes estratégias para que a Saúde tenha um desfecho melhor nestes quatro anos.
O que acontece em relação ao Pronto-socorro de Rio Branco? É o ponto crítico da Saúde somente por falta de informação da população sobre a competência, ou seja, que tipo de atendimentos destina-se àquela unidade ou por má gestão?
Nós fizemos um diagnóstico do Pronto-socorro e levantamos que 56% dos atendimentos que acontecem lá são classificados como fichas verde e azuis, ou seja o paciente está com baixa complexidade e poderiam estar sendo atendidos em Upas e principalmente Postos de Saúde.
E por que não estão? Por que não se obedece esse fluxo?
Isso aí na verdade é um desafio grande. Os Municípios precisam reforçar a atenção básica que é um dos pilares do Ministério da Saúde. Existe uma política de reestruturação da atenção básica, da APS, Assistência Primária em Saúde, para que nós consigamos desafogar. Paralelo a isso, estamos arrecadando recursos financeiros a nível federal, junto à bancada federal para a construção de uma quarta UPA.
Mais uma UPA resolveria o problema?
Esta é a estratégia que nós vemos para que o Pronto-socorro tenha em algum momento o seu atendimento voltado pra alta complexidade e a ideia dessa estruturação da quarta UPA em um ponto que não tenha, não exista hoje um pronto atendimento para aquela população.
Onde seria?
O projeto é que seja na parte alta da cidade, São Francisco ou Tacrendo Neves. Ainda não decidimos onde vai ser o ponto mas é naquela regional. É um desafio grande mas com conhecimento técnico, diagnóstico que foi feito de todos os municípios, de todas as regionais, nós pretendemos avançar consideravelmente.
E em relação aos servidores? Um bom atendimento passa também pela valorização de quem atende as pessoas e o pessoal da Saúde tem reivindicado melhorias salariais. Como o senhor está tratando essa questão ?
O governo aprovou o reajuste de 5% em todas as classes. Pontualmente para o nível médio e fundamental o ajuste de 30% em cima do valor do plantão, foi feito um novo estudo para o grupo técnico, o grupo 07, que será avaliado e publicado dentro da validação jurídica, um possível aumento também de 30% para esses profissionais. De fato a nossa Saúde precisa de uma atenção maior. Nós precisamos de um aumento da nossa arrecadação para que a gente consiga reformular o plano de carreira de todos os profissionais. Eu sou médico e pretendo trabalhar na Saúde que eu vou deixar depois dos quatro anos, então a valorização dos servidores tem que ser de uma forma urgente.
Aliás, um dos grandes problemas da Saúde no Acre sempre foi a dificuldade de fixar médicos no estado. Como superar essa questão? O que o senhor pretende fazer a esse respeito?
Continua sendo um problema, principalmente especialistas. Para se ter uma noção hoje nós temos apenas um cirurgião de cabeça e pescoço no estado, cirurgia pediátrica apenas um especialista, neuropediatras nós só temos 03 no estado, então nós temos essa dificuldade de fixar o profissional aqui. Ainda é um gargalo, mas estamos avaliando a estratégia para aplicar nesses quatro anos de trabalho.
E a questão da humanização no atendimento? Inclusive, recentemente um fato chamou a atenção. O caso daquele idoso que saiu do Pronto-socorro sem que ninguém tivesse visto e depois foi encontrado morto.
Não está do jeito que eu quero. Não é porque é funcionário público, porque é sistema público que o cidadão não tenha direito de ser bem atendido. Ele deve ser bem atendido da maneira como seria atendido dentro de um hospital privado, um Albert Einstein, um Sírio-libanês [exemplos de melhores hospitais do país]. A população acreana merece isso. Nós estamos conversando com todos nossos diretores, cobrando isso diariamente e não é aceitável que um funcionário público desrespeite seja quem for. É sim um grande desafio isso. Não é de hoje essa reclamação, mas queremos e fato mudar essa realidade.
Em relação especificamente ao caso do idoso. Que providências estão sendo tomadas? Nós estamos abrindo um processo administrativo para investigação do caso e assim que tivermos concluído será externado.
Com tantos desafios ainda por serem superados, o senhor avalia como positivo esse início de gestão ?
Foi muito trabalho feito. Existiram duas situações que atrasaram um pouco o nosso planejamento. Que foi a alagação e agora as síndromes respiratórias. Eu prefiro que os usuários do SUS façam essa avaliação. Eu não quero me auto avaliar, mas eu acho que anda tem muita coisa a ser melhorada. Muita coisa mesmo.
O que, pontualmente, o senhor ainda quer fazer este ano?
Este anos, o Centro de Hemodinâmica, a entrega dos hospitais, a retomada da obras de todos os hospitais. O João Câncio [de Sena Madureira] já está programado para ser entregue este ano ainda, a Unacon [unidade oncológica – tratamento de câncer] nos próximos dias, os hospitais de Porto Walter e Marechal Taumaturgo, a UTI de Cruzeiro do Sul, pontualmente esses serviços precisam ser retomados.
E o Hospital da Criança?
Tivemos a situação das obras que foram embargadas mas estamos retomando. Temos um prazo de parecer da PGE [Procuradoria Geral do Estado] mas que pela situação emergencial que estamos vivendo, eles entenderam a importância de essas obras sejam retomadas em caráter emergencial.
Não seria o caso do Hospital da Criança ser também um pronto-socorro infantil para atender as urgências e emergências das crianças? Isso não desafogaria o P.S?
Com certeza. Nós tivemos a doação do prédio ao lado que, salvo engano, funcionava a Anvisa antigamente, para o Estado. Nós sentamos com o senador Alan Rick e apresentamos para ele um projeto um tanto quanto ousado para a reforma daquele prédio na lateral, inclusive com a implantação de um tomógrafo para que consigamos concentrar todo atendimento pediátrico no Hospital da Criança, inclusive as urgências e emergências com ativação de um centro cirúrgico com cirurgiões e neurologistas de sobre aviso para em caso exista até mesmo situação de trauma, nós tenhamos essa retaguarda. Então nós já temos esse projeto no forno e se tudo der certo com a liberação de emendas parlamentares, a gente começa essa obra também.
No momento, qual tem sido a principal preocupação?
Estamos vivendo um momento de síndromes respiratórias, baixa taxa de imunização e queria que a população entendesse a importância da vacina e a segurança da vacina e que nós voltássemos a vacinas nossas crianças e a garantir que doenças que já foram erradicadas que não existam mais, que permaneçam inexistentes. Então que as pessoa levem seus filhos nos postos de saúde, que acompanhem as campanhas de vacinação . vamos prevenir as nossas crianças e garantir que elas tenham um desenvolvimento saudável.
O senhor pretende ficar à frente da pasta todo o período da gestão, pelos quatro anos, ou passa pela cabeça em algum momento desistir?
Eu estava morando em São Paulo, trabalhando em Samus em Osasco, Mauá, Ferraz Vaconcelos e com plantão no Sírio-libanês e eu larguei pra vir prá cá, então desistir não é uma opção. Vamos lutar até o último minuto, até quando não der e a população não me aceitar. A palavra desistir não existe no meu vocabulário.
Qual o principal legado que o senhor quer deixar ao final desses quatro anos?
Uma saúde mais humana. Isso aí é direito da população, dever do Estado e todos devem ser bem tratados e da mesma forma independente de classe social, de raça, de religião, de ideologia. Quando médico sempre atendi meus pacientes sem discriminação e é isso que eu quero pregar: uma cultura de humanização dentro da Saúde.
Muitos que passaram pela Secretaria de Saúde, fizeram carreira política usando a Saúde pública do Estado. Passa pela sua cabeça se lançar a um cargo eletivo? Já lhe fizeram essa proposta? Já lhe lançaram esse desafio?
(Risos) Nesse momento não tenho interesse e não vejo nenhuma situação que envolva política.
É totalmente descartada essa hipótese?
Acredito que sim. (risos)