O último depoente ouvido pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos deu o nome de quem determinou a abertura da Esplanada dos Ministérios a manifestantes antes do 8 de Janeiro. Segundo o coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues, a ordem veio do coronel Paulo José Ferreira de Sousa.
Apontado pela Polícia Federal como omisso no dia da tentativa de golpe, Paulo José atuava como chefe interino do Departamento de Operações (DOP) da PMDF, em substituição a Jorge Eduardo Naime, que estava de folga na data. O nome dele foi citado por Casimiro em respostas aos deputados que investigam o ataque bolsonarista em CPI da Câmara Legislativa do DF (CLDF).
“Abrir a Esplanada foi um ajuste feito em reunião pelo Paulo José. Parece que aconteceu uma reunião no sábado, que eu não participei. Quem mandou [abrir] foi ele, para manifestantes. Foi a ordem que eu recebi”, disse Marcelo Casimiro, ex-comandante do 1º Comando de Policiamento Regional (1º CPR). Questionado se, na avaliação dele, apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) conseguiriam invadir prédios públicos do Poder caso a Esplanada estivesse fechada, ele foi categórico: “Seria bem difícil acontecer, eles não iam entrar”.
Integrante da CPI, Gabriel Magno (PT) chamou o ato de um grande equívoco, o que Casimiro concordou: “Creio que sim”. Para o presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT), esse era um dos questionamentos da Comissão.
“Cada vez que vem um depoente aqui, coloca a responsabilidade em outro alguém. No dia de hoje, são dois responsáveis, o Flávio [major Flávio Alencar] e o coronel Paulo José. Uma coisa que a gente tinha o objetivo na CPI era descobrir quem determinou a abertura da Esplanada. Porque, sem isso, não teria acontecido o que aconteceu. O depoente disse que o responsável, que deu a ordem para ser reaberta, foi do Paulo José.”
Paulo José também será ouvido pelos deputados, mas teve a oitiva adiada após entregar atestado psiquiátrico. O policial militar foi apontado pela Polícia Federal como omisso no dia dos atos antidemocráticos, sendo o responsável pela falta de planejamento da PMDF diante dos atos de 8 de janeiro. A defesa dele se manifestou em nota, chamando a acusação de que ele teria ordenado a abertura da Esplanada de “totalmente improcedente”.
“Não compete à Polícia Militar deliberar sobre essas questões de abrir ou fechar Esplanada. Essa matéria está no nível político. GDF ou GSI da Presidência. Com certeza, o coronel Casemiro se equivocou. Na verdade, o Paulo José sequer sabia que a Esplanada estava fechada e foi aberta. Para ele, foi novidade.”
Último depoimento
Na última oitiva colhida pela CPI, Marcelo Casimiro ainda declarou que “a estratégia dos criminosos” no dia dos atos extremistas de 8 de janeiro de 2023 foi “mais eficaz” do que a da corporação, avaliou que houve coordenação nos ataques, alegou que o Batalhão de Choque agiu, mas que os golpistas eram uma “turba muito agressiva”, e negou ter recebido qualquer relatório de inteligência sobre as manifestações daquela data.
Casimiro chegou a ser indiciado em inquérito na corregedoria da PMDF que investiga os atos antidemocráticos. Ele se defendeu e criticou a forma de condução das apurações. “Foi uma situação muito chata para mim. Não sei como o coronel encarregado chegou a essa conclusão. Na minha visão, com todo o respeito, as investigações não foram feitas de forma aprofundada. Deveriam colher mais depoimentos, mais provas”, argumentou Casimiro, durante o depoimento.
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