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MUNDO

Quais os limites e riscos de expor crianças na internet

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Mark Zuckerberg, CEO da Meta, cobriu o rosto das filhas em publicação no seu instagram - @Zuck/Instagram
Foto de um casal, com duas filhas e um bebê em um parque. Rosto das crianças está coberto por emojis

Mark Zuckerberg, CEO da Meta, cobriu o rosto das filhas em publicação no seu instagram – @Zuck/Instagram

“Nem mesmo o Zuck confia na sua rede social para mostrar a cara das filhas”. Comentários como esse pipocaram no Instagram de Mark Zuckerberg na semana passada, quando o CEO da Meta divulgou uma foto cobrindo o rosto das filhas de 6 e 7 anos com emojis. Apesar de o empresário já ter mostrado as meninas outras vezes (quase sempre de perfil e de costas) e não ter ocultado a filha bebê, o fato acendeu uma discussão sobre os riscos da exposição excessiva de crianças na internet.

Uma pesquisa da Kaspersky, companhia de segurança de dados, apontou que, em 2017, 73% dos pais latinoamericanos compartilhavam fotos e vídeos dos filhos online. A polêmica tem nome: “sharenting”, que une os termos em inglês “share” (compartilhar) e “parenting” (parentalidade). O assunto desafia especialistas em direito, segurança de dados e desenvolvimento infantil: em que medida publicar informações sobre uma criança pode afetar a construção de sua autoimagem e ainda comprometer sua privacidade?

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Os riscos disso acontecer são grandes, pontua o advogado Ramon Costa, especialista em conformidade e proteção de dados pessoais. “Depois que você publica um conteúdo, perde totalmente o controle do que é feito dele. Por mais que o remova, um simples print pode imortalizá-lo”, diz.

Um dos riscos disso é a inclusão das fotos –editadas ou não– em bancos de imagens de pedofilia, prática feita por criminosos. Foi o que aconteceu com Amanda Morgan, 32, no Reino Unido. Em entrevista ao jornal britânico Metro, ela conta ter descoberto que fotos da filha bebê publicadas em seu Facebook estava circulando em um site russo de abuso infantil. Ainda de acordo com a mãe, o rosto da criança foi editado para parecer que ela usava maquiagem.

O perigo é global: segundo uma pesquisa da Internet Watch Foundation, que monitora atividades ilegais no ambiente digital, o número de fotos com nudez ou conteúdo sexual de crianças entre 7 e 10 anos na internet aumentou 360% entre 2020 e 2022.

Além do vazamento de imagens para sites criminosos, existe também o risco de que crianças sejam monitoradas com o apoio de ferramentas de reconhecimento facial, como o Pim Eyes, que faz busca reversa de fotos. Dependendo das informações fornecidas pelas publicações, é possível que abusadores consigam mapear a rotina e a localização dos pequenos, como onde vivem e estudam, por exemplo.

Outro problema associado ao “sharenting” tem a ver com a autonomia e o progresso cognitivo dos filhos. Segundo a psicóloga Andressa Engelmann, dos Hospitais Universitário Cajuru e São Marcelino Champagnat, de Curitiba, especialistas em desenvolvimento infantil contraindicam a exposição nas redes até o início da adolescência. “As consequências da divulgação precoce não são adequadamente processadas pelas crianças, que carecem de vários passos no seu desenvolvimento para que possam realizar tal tarefa”, afirma.

Dependendo do grau de exposição, a criança pode enfrentar problemas de autoimagem, acrescenta a pedagoga Karin Christina Gonçalves, doutoranda em Tecnologia Educacional pela Universidade de Salamanca, na Espanha. Na escola, ela pode sofrer situações de bullying ou, em outro extremo, ser colocada em posições de liderança e destaque para os quais nem sempre está preparada, uma vez que sua formação ainda está no início. O contexto tende a atrapalhar até o desempenho escolar.

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É por questões assim que a França, primeiro país a regulamentar a atuação de crianças influenciadoras, lançou um projeto de lei para proibir que responsáveis compartilhem fotos dos filhos sem a permissão das deles. A ideia é reduzir a exposição abusiva, sobretudo para uso comercial. No país, mais da metade dos pais já publicaram fotos dos filhos nas redes, na maioria dos casos (91%) antes que completassem 5 anos de idade, segundo o Observatório da Parentalidade e Educação Digital da França.

A ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados), que regula a proteção de informações pessoais no Brasil, afirma estar trabalhando em um projeto regulatório sobre o tratamento de dados de crianças e adolescentes por aqui. Em nota, o órgão informou que o processo deve ser concluído até 2024.

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