GERAL
Família se desculpa e fala em discussão ‘acalorada’ com parentes de Moraes
A defesa de dois dos acusados de hostilizar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e agredir o filho dele, no Aeroporto Internacional de Roma, no fim da tarde de sexta-feira (14), diz que tudo não passou de uma “discussão acalorada”.
Em nota divulgada na tarde deste domingo (16) pelo escritório de advocacia que representa o empresário Roberto Mantovani Filho e a esposa dele, Andreia Munarão, há a afirmação de que houve um “desentendimento verbal” com dois integrantes da comitiva de Alexandre de Moraes. No entanto, não foram citados os nomes dessas pessoas que acompanhavam o magistrado. A defesa evita comentar a agressão ao filho do ministro, atribuída a Mantovani.
Além do casal, um genro dele, o corretor de imóveis Alex Zanatta Bignotto, também é apontado como um dos agressores. A nota divulgada neste domingo não faz qualquer menção a Bignotto. Nela, o casal alega ter sido confundido com outros brasileiros que teriam ofendido o ministro anteriormente, também no terminal aeroportuário da capital italiana, pouco antes. “Dessa confusão interpretativa nasceu desentendimento verbal entre ela (Andreia) e duas pessoas que acompanhavam o ministro”, diz trecho do documento.
Ainda segundo a nota, a discussão ficou “acalorada” e Mantovani “precisou conter os ânimos” de um jovem que teria ofendido sua mulher – o texto não informa quem é o tal “jovem” nem como se deu a suposta contenção por parte do empresário.
“Em nenhum momento ocorreram ofensas, muito menos ameaças ao ministro Alexandre, que casualmente passou por eles nesse infeliz episódio. Mesmo assim, se desculpam pelo mal entendido havido, externando o veemente respeito que nutrem pelas autoridades públicas, extensivo aos seus familiares”, conclui a nota.
A defesa disse ainda que vai aguardar a divulgação da íntegra das imagens que podem ter sido captadas no aeroporto e defendem ainda uma “apuração isenta, técnica e equilibrada”.
Advogado de acusados fala em “entrevero”
O advogado Ralph Tórtima Stettinger Filho, que representa os Mantovani, afirmou, em entrevista neste domingo, que a família chegou ao aeroporto de Roma, para embarque ao Brasil, cinco horas antes do voo e procurou uma sala VIP para aguardar o embarque.
Em um primeiro espaço de acesso restrito, afirmou o advogado, o grupo foi informado que estava cheio e que sem uma reserva não seria possível ficar. Teria, então, buscado um outro. Alex Bignotto, a esposa e as filhas (duas crianças, de 2 e 4 anos) seguiam mais à frente, acompanhados atrás por Mantovani, esposa e Giovanni (filho de 20 anos de Mantovani e Munarão), ainda segundo o advogado.
Foi naquele momento, na versão do defensor, que Alexandre de Moraes e familiares chegaram e os dois grupos se cruzaram. “Algumas pessoas, provavelmente, vinham acompanhando e hostilizando [o ministro e seu grupo]. Ou seja, eles já vinham sofrendo a ação de algumas pessoas. Nesse exato momento em que tinham ficado para trás o sr. Roberto, a esposa e o filho. Eles foram, de certa forma, envolvidos nesse momento”, disse Stettinger Filho.
De acordo com ele, uma das pessoas que acompanhavam o ministro teria entrado em atrito com Andreia Munarão. “O filho do ministro Alexandre de Moraes sai em solidariedade à esposa porque ela teria sido ofendida. E ele começa a ofender a esposa do sr. Roberto”, relatou o advogado.
Essa discussão teria evoluído para uma agressão ao filho de Moraes, que é atribuída a Mantovani, mas a defesa se recusou a comentar. “Com relação ao episódio da agressão que é atribuída ao sr. Roberto, ele pediu, quer ele dar os esclarecimentos [à PF] na terça-feira.”
A família, segundo seu advogado, negou ter feito qualquer menção ou ofensa ao ministro. “Eles reconhecem que houve um entrevero entre parte do grupo deles e parte do grupo do ministro Alexandre. Ofensas em relação ao ministro, não”, afirmou o defensor.
No sábado (15), a PF instaurou um inquérito para apurar as circunstâncias da abordagem a Moraes e familiares. Os acusados podem responder pelos crimes de agressão, ameaça, injúria e difamação. Segundo o Código Penal, os crimes praticados por brasileiros, embora cometidos no estrangeiro, ficam sujeitos à lei brasileira. O procurador-geral da República, Augusto Aras, também mandou o Ministério Público Federal investigar o episódio. Aras enviou mensagem ao ministro manifestando solidariedade e disse classificar a agressão como “repulsiva”.
Moraes estava na Itália para realizar uma palestra na Universidade de Siena. Os acusados de agredi-lo são apoiadores de Jair Bolsonaro, tornado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) há duas semanas, em julgamento do qual Moraes fez parte, votando contra o ex-presidente da República. Bolsonaro, quando era presidente, proferiu uma série de ataques ao STF, TSE e a Moraes.
Primeiro a depor à PF, corretor nega agressões físicas e verbais
Roberto Mantovani Filho e Andreia Munarão serão ouvidos pela PF na terça-feira (18). Alex Zanatta Bignotto, de 27 anos, negou, em depoimento à PF, neste domingo, ter xingado ou batido em alguém.
Bignotto, que mora em Santa Bárbara d’Oeste, foi ouvido neste domingo (16), das 10h às 12h, em uma unidade da PF em Piracicaba (SP). “Ele em absoluto fez qualquer ofensa ao ministro, mas nós estaremos esclarecendo isso nos autos e tudo será muito bem esclarecido no curso das investigações”, afirmou Stettinger Filho, ao sair do prédio da PF, ao lado do cliente. Bignotto disse apenas “não” aos jornalistas quando questionado se agrediu Moraes e o filho.
Em representação à PF, Moraes apontou o trio como agressores
Na queixa formalizada à PF, o ministro do Supremo descreveu os três integrantes da mesma família como agressores. Ele informou que estava na área de embarque do aeroporto de Roma quando Andréia Munarão se aproximou o chamando de “bandido, comunista e comprado”. Em seguida, conforme a representação, Roberto Mantovani Filho “passou a gritar e”, chegando perto do filho de Moraes, Alexandre Barci de Moraes, “o empurrou e deu um tapa em seus óculos”.
Ainda segundo o relato formal de Moraes, passageiros e funcionários presentes no terminal aeroportuário intervieram e puseram fim à confusão. Momentos depois, continua o magistrado, “a esposa Andreia e Alex Zanatta, genro do casal, retornaram à entrada da sala VIP onde eu (o ministro) e minha família estávamos e, novamente, começaram a proferir ofensas”. Segundo a representação, o filho do casal, Giovani Mantovani – também intimado a depor pela PF –, tentou conter os outros três parentes.
Os supostos agressores e seus familiares desembarcaram no Brasil no sábado. No Aeroporto de Guarulhos (SP), cinco agentes da PF os aguardavam, fazendo perguntas e registrando vídeos dos três acusados.
De acordo com Tórtima, que representa todos os envolvidos, a PF esteve na residência da família às 6h deste domingo intimando os três acusados para depor às 10h. Diante de compromissos prévios que já estavam agendados, os depoimentos de Andreia e Mantovani foram marcados para a próxima terça, às 9h. (Com Folhapress e Estadão Conteúdo)