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MUNDO

3 países onde dar gorjeta é costume malvisto

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Expressões como ‘dar gorjeta por culpa’ e ‘cansaço das gorjetas’ já estão ficando frequentes entre americanos — Foto: Getty Images via BBC

A eterna discussão sobre a cultura das gorjetas nos Estados Unidos voltou ao noticiário após funcionários da primeira loja sindicalizada da Apple no país defenderem receber gratificação de clientes.  O anúncio levantou intensos debates sobre a prática, onde segue muito arraigada. Muitas pessoas acreditam que a cultura das gorjetas está saindo do controle.

Expressões como “dar gorjeta por culpa”, “cansaço das gorjetas”, “arrepio das gorjetas” e “inflação das gorjetas” já se tornaram frequentes entre os americanos.

Essa prática polêmica se espalhou por todo o mundo, mas nem todos os países a adotam com o mesmo vigor que os Estados Unidos.

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O costume de dar gorjetas gerou recentemente discussões na Espanha, enquanto, na França, service compris (“serviço incluso”) significa que a gorjeta já está embutida na conta. Em outros lugares, particularmente no leste asiático, a inexistência da tradição de gorjetas é motivo de orgulho.

Para exemplificar o velho dilema de dar ou não gorjeta, aqui estão alguns lugares com suas próprias características. Eles foram selecionados com base na cultura de aprovação ou não desta prática e mostram como o comportamento em relação à gorjeta reflete aspectos mais abrangentes da sociedade de cada país.

Japão

A sabedoria popular costuma dizer que o Japão é uma espécie de paraíso da limpeza, onde não existe lixo. Lá, a imperfeição (wabi-sabi) é respeitada e a consciência social valorizada como uma forma de arte (não coma enquanto estiver andando; fique em silêncio no transporte público; não aponte com as mãos, nem com os hashis; não assoe o nariz em público — a lista é quase interminável).

No Japão, as gorjetas também não são apenas incomuns. Elas são consideradas desagradáveis e constrangedoras. E essa cultura japonesa de prestação de serviços sem gorjetas precisa realmente ser comunicada para o visitante estrangeiro com uma advertência: se você der gorjeta, irá ofender alguém.

“Mesmo quando os visitantes são informados que no Japão não se dá gorjetas, algumas pessoas ainda ficam dispostas a demonstrar seu reconhecimento com dinheiro, mas não é assim que funciona”, afirma James Mundy, da operadora de turismo britânica InsideJapan Tours.

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“É comum ver as pessoas deixarem dinheiro para os garçons no restaurante e depois serem seguidas na rua e receberem seu dinheiro de volta”.

“Muitos não conseguem entender que as pessoas fazem seu trabalho com orgulho e que [dizer] oishikatta (‘estava delicioso’) ou gochiso sama (‘obrigado por preparar a refeição’) será muito bem aceito. O dinheiro nem sempre traz diálogo.”

A repulsa japonesa às gorjetas é perceptível. O shokunin kishitsu — algo como “espírito de artesão” — está infiltrado em muitos aspectos da vida japonesa. É uma filosofia aprimorada por muitas pessoas nos setores de atendimento aos turistas, como recepcionistas de hotéis até vendedores e chefs de sushi.

A prestação de serviços significa, nessa cultura, fazer as necessidades básicas de um trabalho com orgulho. É mais comum que o reconhecimento seja demonstrado por meio de cumprimentos (de preferência, em japonês) ou com reverências.

Mas existe uma exceção: os ryokans, as hospedarias tradicionais, revestidas com tatami. Nelas, os visitantes podem deixar dinheiro para o nakai san — o atendente vestido com quimono que prepara seu alimento e seu futon (estofado).

Mas é preciso usar a forma apropriada: não entregue a gorjeta pessoalmente; deixe notas novas e fechadas em um envelope especialmente decorado.

Egito

Um costume profundamente arraigado no norte da África, no Oriente Médio e no sul da Ásia é o conceito de baksheesh, que é uma gorjeta ou esmola por caridade.

Ela pode ser solicitada abertamente por um motorista de táxi ou guia turístico, ou sugestivamente sussurrada em um bazar no canto da rua.

Mas as duas formas têm o mesmo significado: o que está sendo pedido é um presente ou uma pequena gorjeta, independentemente do serviço oferecido.

Se interpretado erroneamente, o baksheesh pode ser traduzido como um pedido de esmola.

Mas dar esmolas para os pobres é um dos pilares do islamismo. Compreender este ponto irá aprofundar o conhecimento daquela parte do mundo pelo visitante. E o benfeitor supostamente se tornará uma pessoa mais sagrada com esta ação.

No Egito, essas gratificações são comuns para os funcionários de hotéis e restaurantes, motoristas de táxi e guias turísticos, bem como para os porteiros, funcionários que cuidam dos banheiros, seguranças e vendedores de lojas.

Uma análise mais profunda do baksheesh também revela que o costume é parte de um sistema informal de pagamento adiantado.

Os guias turísticos e concierges de hotéis do Cairo até Assuã podem fornecer tratamento preferencial, garantir serviço de primeira qualidade e fazer favores se receberem gorjetas antecipadamente.

Dólares americanos ou libras egípcias são bem-vindos: US$ 1-2 (cerca de R$ 5-10) são suficientes para ser bem recebido com um sorriso.

Em circunstâncias como estas, não é incomum no Egito conseguir milagrosamente a chave de um templo trancado no Vale dos Reis ou fazer com que um banheiro inacessível em um museu seja subitamente reaberto para os visitantes.

E os turistas não irão encontrar essa recomendação nos folhetos turísticos.

China

Mesmo nas mais modernas metrópoles da China, como Pequim e Xangai, tradição e superstição ainda têm forte influência na sociedade. Na China, as pessoas não esperam receber gratificações.

E, embora possa parecer difícil de acreditar nisso em um país obcecado pelos avanços tecnológicos e pelo mundo do futuro, as gorjetas já foram proibidas por no passado.

Um dos mandamentos da China é que todas as pessoas são iguais e nenhuma é servidora de outra. Insinuar superioridade sobre outra pessoa é um tabu há muito tempo.

E, embora o gigante asiático seja cada vez mais um país de grandes hotéis e enormes restaurantes, as gorjetas continuam a ser mal-vistas, algumas vezes até interpretadas como subornos, principalmente em cidades menores e que recebem menos visitantes.

“Dar gorjetas na China, historicamente, era considerado ofensivo, mas os tempos estão mudando”, explica ela.

“Os chineses ainda não têm o hábito de dar gorjetas, mas as gratificações agora são aceitáveis, especialmente nas cidades maiores, onde existem muitos moradores e visitantes estrangeiros.”

“Se você for visitante, dar pequenas gorjetas aos porteiros, guias de turismo e garçons por um serviço excepcional ou por um ajuda específica é algo que é bem recebido. Apesar do histórico, os moradores locais irão apreciar”, segundo Tian.

Estados Unidos

Poucos países levam a cultura das gorjetas tão a sério quanto os Estados Unidos. As gorjetas são tão arraigadas na psique nacional quanto o Super Bowl (a final da NFL, a liga de futebol americano). E, às vezes, pode ser difícil para o turista estrangeiro mensurar ou explicar este espírito.

Atualmente, deve-se acrescentar 20-25% ao valor final da conta. A inflação das gorjetas traz dificuldades para moradores locais e visitantes.

De fato, o valor oferecido ou esperado aumentou exponencialmente nos últimos tempos e o desenvolvimento das opções de gorjetas digitais tornou esta prática ainda mais complexa.

Com isso, cada vez mais varejistas — desde postos de gasolina até a rede de cafeterias Starbucks — acrescentam taxas de serviço opcionais às vendas de balcão, que antes eram feitas pelo valor líquido.

A questão é que quase tudo, incluindo ou não a prestação de serviço, pode acabar tendo custos maiores.

Existem muitas formas de agir errado (não dar gorjeta por uma bebida ao sentar-se em um bar pode fazer com que um cliente deixe de ser servido, por exemplo), mas apenas uma forma de fazer o certo.

“Os Estados Unidos têm uma cultura de gorjetas que não existe em outros lugares”, afirma Peter Anderson, diretor-gerente do serviço de concierges de viagem Knightsbridge Circle.

“Recentemente, em Nova York, comprei uma garrafa d’água em uma loja e, na hora de pagar, pediram-me uma gorjeta”, conta.

“Mas eu peguei a água sozinho, levei para o balcão e paguei. Ainda assim, eles esperavam que eu deixasse 20%.”

“Em muitos lugares, é apenas uma forma de pagar salários mais baixos aos funcionários e repassar mais custos para o cliente”, explica Anderson.

Os Estados Unidos têm presenciado um movimento contra as gorjetas e uma mudança para métodos de remuneração mais equitativos para os funcionários, mas o progresso tem sido lento.

E sempre vale a pena ser agradável, especialmente quando se viaja como representante do seu próprio país.

Dinamarca

Em um país frequentemente mencionado como um dos mais felizes do mundo pela sua sociedade igualitária, benevolência para com os demais e generosidade comunitária, pode ser uma surpresa verificar que os dinamarqueses são majoritariamente um país de pessoas que não dão gorjetas.

Basicamente, são dois os motivos: os cidadãos do país se beneficiam do PIB (Produto Interno Bruto, ou soma de bens e serviços produzidos por um país) per capita mais alto e de um sistema de assistência social melhor do que a maioria dos outros países.

Além disso, a taxa de serviço normalmente é incluída na conta dos hotéis e restaurantes dinamarqueses.

Mas, ainda que dar gorjetas não seja uma tradição, a norma na Dinamarca — e nos outros países escandinavos — é arredondar a conta no restaurante como um gesto simbólico.

E, como em quase todos os lugares da Europa atualmente, serviços acima do padrão costumam ser recompensados com uma gorjeta em dinheiro ou com a fidelidade ao estabelecimento e visitas frequentes, o que também é muito valioso.

Sobre as gorjetas

Cada país tem suas regras específicas sobre as gorjetas. Às vezes, essa prática pode parecer um campo minado.

Mas o importante é sempre respeitar as outras culturas na hora de viajar.

Por isso, certifique-se de pesquisar os costumes locais sobre gorjetas antes de viajar para qualquer destino, para evitar ofender as pessoas.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Travel.

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