ESPORTES
Guia para assistir à Copa do Mundo feminina sem preconceitos
Você está preparado para a Copa do Mundo feminina? Preparado, não no sentido de saber o nome ou onde jogam todas as atletas, mas sim em relação ao modo de torcer e viver o torneio.
Historicamente, o futebol feminino sofre com restrições e preconceitos que acabam reverberando ainda mais durante a maior competição da modalidade, que ocorre de quatro em quatro anos.
Se você está disposto a rever estereótipos machistas e a apoiar a seleção brasileira sem se portar como um torcedor preconceituoso, aí vão alguns toques sobre os tipos de crítica e comentário que você pode evitar ao longo do torneio que começa nesta quinta-feira.
1) Não venha com papinho de diminuir o tamanho dos gols
É só uma goleira falhar que a velha história de “é preciso diminuir as traves” volta a pipocar pelas redes sociais. Qualquer medida de melhoria do futebol feminino deve passar pelo crivo das atletas e, acredite, nunca partiu delas nenhuma sugestão para reduzir o tamanho dos gols.
Mary Earps, goleira da Inglaterra e atual melhor do mundo na posição, tem 1,73 m. Embora algumas das concorrentes superem sua estatura em mais de 10 cm, ela demonstra enorme segurança entre as traves.
Com a evolução da modalidade, as goleiras tem se tornado cada vez mais confiáveis, o que reflete na redução de falhas. Tanto que a média de gols da última Copa feminina (2,81 por partida) foi bem próxima da masculina (2,69).
Quer que o futebol feminino siga evoluindo? Então prefira cobrar investimentos na modalidade em vez de propor mudanças que as atletas jamais reivindicaram.
2) Não desmereça o trabalho das narradoras
Nos últimos anos, emissoras de TV iniciaram a revisão de uma histórica injustiça que não abria espaço para mulheres na narração de futebol. Hoje, finalmente, temos narradoras ocupando um espaço até então restrito a homens.
É natural que, por ter se acostumado a vida inteira com vozes masculinas narrando os jogos, você a princípio estranhe a novidade. Mas é importante separar avaliação profissional de preconceito.
Se resolver questionar o desempenho de alguma narradora, tente refletir se você faria a mesma crítica no caso de um homem. Se for adiante, busque se apegar ao aspecto técnico da narração: fluência, nível das informações prestadas durante a transmissão, pronúncia dos nomes das jogadoras, identificação correta da atleta que recebe a bola ou faz o gol etc.
Lembre-se que, assim como os narradores, elas também evoluem com o tempo e uma crítica realmente construtiva pode ajudar nesse processo.
3) Evite comparar jogadoras com atletas do masculino
“Pelé de saias”? “Messi de batom”? Não, por favor!
Tudo o que as atletas desejam durante uma Copa do Mundo é o reconhecimento de seu talento e de seus esforços, não comparações com jogadores do futebol masculino.
Se você não acompanha tão de perto a modalidade, procure saber mais sobre a trajetória de cada jogadora e dispense paralelos entre homens e mulheres, ainda que seja com o intuito de elogiar.
Marta, por exemplo, não precisa ser comparada a Pelé para ser reconhecida como a maior jogadora de todos os tempos.
4) Cultive bons hábitos de Copa
Brasileiro vive uma Copa do Mundo de maneira muito intensa e peculiar. Mesmo que não seja fã de futebol, sempre dá um jeitinho de acompanhar os jogos da seleção. Se esforce para manter esse costume no Mundial feminino.
Como naquela Copa masculina de 2002, sediada por Coreia do Sul e Japão, acorde mais cedo para assistir à seleção na Austrália. Reúna os amigos e familiares, nem que seja para um café da manhã caprichado. Ou combine um happy hour antecipado com os colegas de trabalho — se você for chefe, libere seus funcionários para chegar um pouco mais tarde em dias de jogos do Brasil.
Ah, e não se esqueça de colecionar o álbum com as figurinhas das nossas craques. Acorde, torça e olhe pra elas.
5) Eduque as crianças
Aproveite a oportunidade da Copa do Mundo para educar seus filhos, netos, sobrinhos e afilhados sobre a importância da igualdade de gênero e do apoio ao esporte feminino. Várias atletas, como Marta, Megan Rapinoe e Alexia Putellas, têm levantado essa bandeira e podem servir de inspiração para as novas gerações.
O futebol, por sua natureza popular e inclusiva, é uma excelente ferramenta de educação, ajudando a desconstruir estereótipos e preconceitos que crianças não devem mais carregar.