POLÍCIA
Operação da PM no Guarujá deixa 10 mortos após morte de PM
A Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo afirma que dez pessoas foram mortas durante a operação policial no Guarujá para encontrar o suspeito de atirar e matar o policial militar Patrick Bastos Reis, de 30 anos, membro das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), na quinta-feira, 27, no Guarujá, litoral de São Paulo. O suspeito foi preso neste domingo.
A Secretaria de Segurança Pública nega abusos e confirma três mortes “após resistência às abordagens policiais” em três pontos diferentes do Guarujá.
“Temos registros de 8 boletins de ocorrência com 10 mortos. Mas temos uma informação ainda não confirmada de mais 2 mortes. Se confirmadas, serão 12 vítimas de quinta-feira até hoje”, afirmou o ouvidor Claudio Aparecido da Silva ao Estadão.
O ouvidor afirma que vai pedir as imagens das câmeras corporais dos policiais envolvidos na operação. “Instauramos procedimento para acompanhar as apurações e vamos pedir as imagens das câmeras corporais. Vamos pedir os laudos necroscópico, balísticos, residuográfico e de local”, afirmou.
Diante das denúncias, o órgão realizou neste domingo, 30, uma reunião emergencial depois de receber denúncias sobre violações dos direitos humanos. Participaram da reunião o próprio ouvidor e representantes da entidades relacionadas aos direitos humanos. Uma visita ao Guarujá está sendo avaliada entre terça e quarta-feira para ouvir as famílias e as comunidades sobre os fatos ocorridos.
A Ouvidoria vai investigar a veracidade de áudios e relatos de moradores sobre torturas e abusos de policiais. De acordo com membros da comunidade, a operação “colocou terror” na comunidade.
Moradores do município relataram ainda que policiais prometeram matar ao menos 60 pessoas em comunidades da cidade. Ainda segundo os moradores, o foco da operação eram pessoas com antecedentes criminais e tatuagens.
Um vendedor ambulante teria sido morto com 9 tiros na sexta-feira, 28. A família dele teria encontrado o rapaz com queimaduras de cigarro e um corte no braço.
“A Rota está matando um monte de gente e está acusando todo mundo de ser traficante. Mas todo mundo é trabalhador”, diz um dos aúdios a que o Estadão teve acesso. “Existem várias testemunhas, mas todo mundo tem medo de falar”, diz.
Morte de soldado desencadeou operação
A morte do soldado militar na quinta-feira desencadeou uma grande operação policial nos últimos dias. Participaram da ação 600 agentes de equipes especializadas das polícias Civil e Militar do litoral de São Paulo.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, foram três homens que morreram em abordagens policiais entre sexta e sábado. “A operação continua em andamento, intensificando a busca pelos suspeitos. Durante as diligências, três homens morreram após reagirem a abordagens policiais em diferentes locais: Rua Albino Marquês Nabeto, no Parque Estuário; Rua Mário Malheiros, na Vila Baiana; e Rua das Figueiras, no bairro Pae Cará”.
O órgão afirma que “não constatou abusos policiais e que todas as denúncias serão investigadas”.
A Polícia Civil prendeu o suspeito de atirar e matar o policial Reis, de 30 anos, neste domingo. O suspeito se entregou ao lado do Terminal Santo Amaro, na zona sul da cidade. Ele foi levado para Corregedoria da PM e, de lá, para a delegacia responsável pelo caso, no litoral.
A prisão foi anunciada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) nas redes sociais. “Atenção. O autor do disparo que matou o soldado Reis, no Guarujá, acaba de ser capturado na Zona Sul de São Paulo. Três envolvidos já estão presos, após trabalho de inteligência encabeçado pela @PMESP. A justiça será feita. Nenhum ataque aos nossos policiais ficará impune”, escreveu o governador.
A Operação Escudo “tem atingido os objetivos e vai permanecer”, de acordo com os policiais.
Estado tem alta de mortes pela polícia no primeiro semestre
As mortes em decorrência de intervenção policial subiram 9,4% nos seis primeiros meses do ano no Estado de São Paulo. Foram 221 registros, ante 202 no mesmo período do ano passado, segundo dados divulgados na terça-feira, 25, pela Secretaria de Segurança Pública (SSP). Os casos foram puxados por ocorrências envolvendo agentes em serviço, que saltaram 28,57% no primeiro semestre – de 133 para 171.
A alta ocorre após período de queda por causa, entre outras medidas, da implantação das câmeras nas fardas dos policiais, que fez a letalidade policial em São Paulo chegar, no ano passado, ao menor índice para o primeiro semestre desde 2005. Sob a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), os índices voltam a subir em São Paulo.