“Eu não sei ser condescendente com gente burra”, diz Marlene Mattos

Marlene destacou o peso da responsabilidade de gerenciar a carreira de uma das maiores apresentadoras do Brasil e os seus esforços para manter Xuxa nesse patamar. “Eu sempre disse para você: ‘Fica bonita. Dorme. Fica bonita para aparecer bonita, deixa que o resto eu vou fazer’. E eu tinha que virar a mesa, virar a chave e isso me levou a um cansaço profundo e a dizer coisas que — se eu disse tudo isso mesmo — eu me arrependo. Eu tinha um nível de exigência muito grande. Era um programa que tinha audiência, que era vendido. Uma apresentadora que era o maior nome da TV Globo. E não é difícil fazer uma pessoa famosa, o difícil é manter essa pessoa famosa, manter ela no lugar dela quando tem um monte de caranguejo querendo puxar para baixo”, desabafou, antes de continuar:

“Eu fui cruel com algumas pessoas? Fui. Me arrependo? Com algumas pessoas, nem um pouquinho”, garantiu. Nesse momento, Xuxa a questiona: “E comigo?”. “Ah, eu poderia fazer algumas coisas diferentes. Poderia mesmo, mas já foi”, respondeu Marlene, em um dos poucos arrependimentos confessados por ela durante a conversa.

Frustrando as expectativas de Xuxa, que esperava encontrar uma Marlene mais serena, Mattos reafirmou que conserva a mesma postura exigente, competente e cruel. “O problema é o seguinte, eu não sei ser condescendente com gente burra! Eu sou exigente? Sou. Chego a ser cruel? Sou. Mas olha, eu sei fazer as coisas. Quando eu me proponho, eu sei fazer as coisas”, enfatizou.

A empresária afirmou não se abalar com as críticas, especialmente vindas dos fãs da apresentadora: “Eu não ligo, porque o que eu fiz, eu fiz porque precisei fazer. Você tem que lembrar que você começou uma carreira, há quase 40 anos, num mundo machista, num mundo de homens, numa televisão de homens, homens que viam você apenas como uma mulher linda, um pedaço de carne. Eu tive que mudar isso para você ser a pessoa respeitada”, contou.

Marlene também relembrou como foi o seu primeiro encontro com Xuxa e o que a motivou a querer trabalhar com ela: “Eu cheguei e perguntei o que ela queria. Ela olhou para mim e disse: ‘Eu quero aprender’. Foi um soco no meu estômago, porque eu esperava tudo, menos isso”, lembrou.

A empresária revelou ainda que suas condições de trabalho foram apresentadas a Xuxa nessa mesma primeira conversa entre as duas: “Eu falei para ela: ‘Se eu trabalhar com você, quem vai mandar sou eu’. Ela disse: ‘Tudo bem’. Falei: ‘Não vou pedir desculpa por você’, e ela disse: ‘Tudo bem’. Eu ouvi uma resposta muito sincera quando ela me disse: ‘Eu quero aprender’. Ali me ganhou. Porque eu acho ótimo quem quer aprender. Essa resposta dela foi decisiva para eu dedicar anos da minha vida para trabalhar com ela e para ela”, recordou.

Ressentida, Xuxa lamentou que Marlene sempre esteve focada apenas no trabalho: “Eu achava que ela cuidava bem de mim, mas, depois, eu comecei a ver que ela cuidava do trabalho dela, ela não cuidava de mim”, reclamou a apresentadora. “Xuxa, o que você queria, você tinha. Eu trabalhava para dar aquilo que você queria, o melhor para você”, rebateu a ex-diretora.

Cárcere privado, Paquitas e outras polêmicas

Após Xuxa ter revelado que Marlene dizia que ‘ídolos devem morrer jovens’, a empresária não retirou uma única vírgula e, entre gargalhadas, afirmou continuar com o mesmo pensamento: “Eu continuo dizendo que os ícones têm que morrer cedo. Eu sempre fui assim e até hoje eu sou assim. Aliás, sou pior ainda”, reiterou.

Ao ser questionada por Xuxa sobre o tratamento que era dado por ela às Paquitas, Marlene também não se mostrou arrependida e ainda frisou a sua contribuição na carreira das assistentes de palco da Rainha dos Baixinhos: “Elas vivem até hoje de ser Paquitas. Eu deixava elas de castigo porque eu queria que elas tirassem notas, eu não aceitava notas abaixo de sete. Elas eram uma continuação de você. Se elas não fossem Paquitas, ninguém iria saber que elas existiam”, declarou.

Sobre a polêmica do ‘cárcere privado’, em que Xuxa afirma que era mantida trancada por Marlene em quartos de hotéis, a ex-diretora, mais uma vez, confirmou entre risadas: “Trancava! Jantou? Tomou banho? Tá pronta para dormir? Trancava. O pessoal ficava na porta dos hotéis querendo entrar! Sabe aquilo que eu disse para ela inicialmente: ‘Quem vai mandar sou eu’? Ela atendia direitinho”, frisou.

Marlene Mattos compartilhou uma passagem de sua vida que revela as raízes de uma postura profissional vista, por muitos, como severa e controladora: “Eu vi televisão na minha vida da janela da casa de uma pessoa, lá no Maranhão. Nunca teve televisão na minha casa. Então, eu trabalho para isso, eu trabalho para essas coisas acontecerem, para as pessoas reconhecerem. Eu não quero sucesso na minha vida, eu quero reconhecimento ao meu trabalho. Quem tem sucesso e reconhecimento tem poder”, contou.

Amores passados e mágoas presentes

Enquanto Xuxa se mostrou bastante ressentida com sua ex-diretora, discretamente emocionada, Marlene externou a importância da apresentadora em sua vida e garantiu que qualquer mágoa de sua parte ficou no passado: “A Xuxa foi a melhor amiga do meu passado. Eu tenho duas pessoas que eu amei na minha vida, uma era a minha avó – que é para sempre – e a Xuxa era a segunda. Não tem ninguém que tenha esse papel na minha vida. Se eu tive raiva, se eu tive isso, tive aquilo, eu desconstruí tudo isso na minha vida. Tudo. Não quero”, declarou Marlene.

No documentário, o reencontro entre Xuxa e Marlene Mattos se encerrou de maneira fria, sem o aguardado abraço diante das câmeras.