POLÍTICA
CPI analisa e-mails em que Cid negocia venda de Rolex dado a Bolsonaro por sauditas
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos antidemocráticos de 8 de janeiro teve acesso a e-mails em que o tenente-coronel Mauro Cid negocia um relógio Rolex, de US$ 60 mil (cerca de R$ 300 mil), recebido em viagem oficial.
A informação foi divulgada nesta sexta-feira (4/8) pelo jornal O Globo e confirmada pelo Metrópoles.
Segundo documentos obtidos pela CPMI, em 6 de junho de 2022, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro recebeu um e-mail, em inglês, com a seguinte mensagem: “Obrigado pelo interesse em vender seu Rolex. Tentei falar por telefone, mas não consegui”.
“Quanto você espera receber por ele? O mercado de Rolex usados está em baixa, especialmente para os relógios cravejados de platina e diamante, já que o valor é tão alto. Eu só quero ter certeza de que estamos na mesma linha antes de fazermos tanta pesquisa”.
Os e-mails não revelam quem negociou com Cid. Segundo o relatório, à época, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro se correspondia com Maria Farani, que assessorava o Gabinete Adjunto de Informações de Bolsonaro. Ela deixou o governo em janeiro de 2023, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomou posse.
Mauro Cid teria, então, respondido que não tinha o certificado do Rolex, pois “foi um presente recebido durante uma viagem oficial”. Ele também afirmou que pretendia vender a peça por US$ 60 mil.
A origem das joias
Em outubro de 2019, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu, durante uma visita à Arábia Saudita, um Rolex, um anel, uma caneta e um rosário islâmico do rei Salman bin Abdulaziz Al Saud. No fim do ano passado, Mauro Cid tentou reaver os presentes, retidos pela Receita Federal após tentativa de entrar no país sem seguir os trâmites adequados no Fisco.
Em abril deste ano, Bolsonaro compareceu à sede da Polícia Federal em Brasília para prestar esclarecimentos sobre os presentes da Arábia Saudita. Além de Bolsonaro, prestaram depoimento outras nove pessoas, cinco delas em Brasília e quatro em São Paulo. Um dos depoentes foi o tenente-coronel Mauro Cid.
Desde que o caso veio à tona, Bolsonaro nega irregularidades e afirma que os objetos foram cadastrados no acervo da Presidência da República.
Mauro Cid está preso desde maio e é investigado pela Polícia Federal por participar de um esquema de supostas fraudes no cartão de vacina e por manter conversas de teor golpista.
Os presentes recebidos da Arábia
Em outubro de 2021, uma comitiva do Ministério de Minas e Energia viajou à Arábia Saudita. Entre os servidores que compunham o grupo, estava o então chefe da pasta, ministro Bento Albuquerque. Na volta ao Brasil, a Receita Federal apreendeu um conjunto de joias que estava com o ajudante de ordens de Albuquerque, o militar Marcos André dos Santos Soeiro.
No pacote, havia um colar, brincos e outros objetos, agora avaliados pela PF em R$ 5 milhões.
Depois da apreensão, o governo Bolsonaro teria tentado reaver o pacote de joias pelo menos quatro vezes, por meio dos ministérios da Economia, de Minas e Energia, e de Relações Exteriores.
Na quarta movimentação para recuperar os objetos, realizada a três dias de Bolsonaro deixar o governo, um funcionário público utilizou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para se deslocar a Guarulhos.
Bolsonaro também entrou em campo e chegou a enviar ofício ao gabinete da Receita Federal para solicitar que as joias fossem destinadas à Presidência da República. O documento foi assinado por Mauro Cid, ajudante de ordens e “faz-tudo” do ex-presidente.
Movimentação atípica
Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou uma movimentação “atípica” e “incompatível” nas contas bancárias do tenente-coronel Mauro Cid.
De acordo com o Coaf, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) movimentou R$ 3,2 milhões em sete meses. As transações bancárias ocorreram entre 26 de junho de 2022 e 25 de janeiro de 2023.