POLÍTICA
Coluna da Angélica no NHN – 10 minutos que abalaram o governo
1-Procura-se
Depois de publicar a fria nota na qual assume que as famílias que não estão em abrigos do governo não recebem qualquer auxílio e que dezenas de famílias não foram incluídas no aluguel social por falta da documentação exigida, o Secretário de Assistência Social fez as malas e embarcou para Cruzeiro do Sul. Foi dar assistência à Expo Juruá. Aqui ficaram os sem auxílio e sem documento. Muitos sem comida. Uns saíram do parque de exposições onde haviam sido acomodados pelo governo, porque receberam ameaças de morte de membros da facção criminosa que domina aquela região. Segundo eles, só havia policiamento durante o dia. Os que ocuparam a frente da Aleac se revezam na vigília. Enquanto um grupo dorme, o outro vigia os objetos e a vida dos que descansam. A medida foi adotada depois que instrumentos de trabalho como maquitas, foram roubados. Mas a Expo Juruá é um sucesso. Contém ironia.
2-… o Secretário-Pastor
Enquanto o Secretário de Assistência Social participa da Expo Juruá, a mãe de um adolescente que foi assassinado há pouco mais de um mês perambula pelas ruas da cidade desnorteada. De acordo com os ocupantes da Terra Prometida, a casa dela foi uma das primeiras demolidas. Perder o filho e a casa em um intervalo tão curto foi demais para a saúde emocional da mulher. Ainda mais nas condições em que as duas perdas se deram. Ela viveu os dois lados da violência. A da falta de segurança na capital entregue a bandidagem e a institucional, via aparato repressivo do Estado. Habemus Lux, Secretário?
3-Passo de tartaruga
A equipe da Secretaria de Assistência Social que se reuniu com os deputados após a sessão desta quarta-feira (30), apresentou como solução para os despejados da Terra Prometida, um prazo de três meses para a conclusão da triagem para definir quem se enquadra nos critérios do aluguel social. Dos que precisam de moradia. 90 dias para acomodar. Como se acampar na frente da Aleac e no parque de exposições fosse uma espécie de acampamento de férias. Não uma necessidade evidente. E urgente.
4-10 minutos
O pronunciamento da deputada Michelle Melo (PDT), impactou positivamente o plenário, mas pode resultar em sua demissão da função de líder do governo na Aleac. Entretanto se isso acontecer Michelle sai por cima. A parlamentar deixou claro que não defende o indefensável. Falando exclusivamente como líder do governo na Aleac, segundo suas próprias palavras, Michelle defendeu os deputados e acusou o governo de inércia. Atacou o secretariado mas ressalvou o governador. O que equivale a criticar a ação e proteger o mandante. Ninguém, nem Michelle Melo, ignora que a equipe do governo cumpre ordens do chefe, sua excelência o governador. Seja como for, a líder do governo descascou a pereba, para usar a expressão do deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB), ao pontuar atitudes indefensáveis, como a carona da Educação, o corte de postos de trabalho que vão resultar em demissão de milhares de terceirizados e o impacto da desapropriação do Terra Prometida na vida dos despejados. Nos 10 minutos que abalaram o plenário, Michelle Melo foi mais representante do povo do que do governo. Mais líder dos deputados do que do governo. Cresceu politicamente. Mas todo o crescimento é doloroso e a dor pode vir no corte de seus espaços no governo. Que ela esteja preparada para as consequências.
5-…que abalaram o plenário
A bem da verdade, Michelle verbalizou o pensamento dos deputados da base. Tanto que recebeu o apoio dos deputados Afonso Fernandes (PL), Fagner Calegário (Podemos) e Eduardo Ribeiro (PSD). Os que não manifestaram apoio público, também não contestaram. O silêncio também grita. Afinal, quem cala consente. O fato entretanto não pode ser definido como uma revolução da base. É apenas uma correção de rumos. Por enquanto. O apoio cego é como uma pedra amarrada no pescoço. É preciso refletir sobre a profundeza do abismo antes de pular. A base está na margem. Em fase de avaliação do risco. Como a esposa que segue o marido em tudo, menos até o inferno. “Não sou uma líder que defende o indefensável”. As palavras de Michelle devem estar doendo no ouvidos ortodoxos da defesa incondicional. E terão consequências. Aguardemos.
6-Raio X
O resumo do governo Gladson Cameli, que completa 4 anos e 8 meses na condução do Estado, é uma página em branco no capítulo de realizações. O trabalho foi feito pelos deputados Edvaldo Magalhães, Eduardo Ribeiro (PSD) e Emerson Jarude (Novo) com ilustrações de parlamentares da base. Magalhães disse que Gladson quebrou as empresas da construção civil ao não investir em obras públicas e agora vai quebrar as empresas da área de serviços das terceirizadas. Jarude mostrou que o Acre é o segundo estado do Brasil que mais investe em Educação, pelo menos oficialmente. Mas a qualidade do ensino caiu do 7º para o 24º lugar. A conta não fecha. Cerca de 5 mil terceirizados estão em vias de perder seu ganha pão. Somam-se aos demitidos do ISE e as famílias sem ter onde morar que estão acampadas na frente da Aleac. A violência domina as ruas. Moradores rurais protestam pelas más condições dos ramais. Para as necessidades presentes o governo conjuga verbos no futuro. Mas o governador coleciona prêmios e homenagens enquanto a Assembleia Legislativa vira uma vitrine da exposição da miséria.
7-Cartão de visitas
A acolhida do presidente do Partido Novo, Eduardo Ribeiro, na Assembleia Legislativa foi uma bela amostra da polidez dos parlamentares estaduais. Apesar da ideologia do Novo confrontar-se com as ideias o presidente foi recebido na Aleac com dignidade e dentro das regras da boa educação. Edvaldo Magalhães, foi um gentleman, apesar de radicalmente contrário à cartilha neoliberal do Novo. Eduardo Ribeiro leva uma boa impressão do Acre representado pelos deputados estaduais que mostraram que divergência política pode e deve ser tratada dentro das regras da boa educação. Sem truculência. Sem grosserias. Poderiam ensinar alguns da bancada federal para evitar que o Estado passe vergonha nacional.
8- Urubus X Mucuras
Não. Não é uma disputa de times em peladas de várzea. São as desculpas das distribuidoras de energia para suas falhas. Na década de 1990, quando aconteciam quedas de energia o problema era atribuído a mucuras. Em 2023 são os urubus. Complicado. Só falta dizer que a distribuição de energia elétrica depende do fim da fauna.
Bom dia, governador do Acre, Gladson Cameli (PP). Proteger seu CPF não parece ser a melhor desculpa para demissões. Afinal, este documento está bem desprotegido nos relatórios da Operação Ptolomeu né?
Esta é uma coluna de opinião e de reflexão
Contato- angellica.paiva@gmail.com