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POLÍTICA

Lula rifa Ana Moser, mas esporte sem prestígio político é culpa dos atletas

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Governabilidade sempre foi uma palavra-chave para o presidente Lula em todos os seus governos. Em nome dela, o líder petista não hesita em sacrificar algumas bandeiras caras ao partido e a seu eleitorado. Dessa vez, o bode expiatório é Ana Moser, prestes a ser desalojada do comando do Ministério do Esporte após oito meses de gestão para atender à voracidade fisiológica do centrão.

Mais do que a ex-jogadora de vôlei, perde o Governo, que abre mão de um quadro técnico em troca de uma indicação meramente política, e perde, acima de tudo, o esporte brasileiro, que volta a estar à mercê das negociatas e do interesse econômico.

É evidente que a política real demanda sacrifícios e que, em determinados momentos, acordos e concessões fazem parte do jogo. Mas, independentemente dos fins que justifiquem os meios, toda pessoa que milita no meio esportivo deveria se sentir frustrada e indignada com a saída de Ana Moser.

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Primeiro porque, depois de muito tempo, o esporte voltou a ser comandado por alguém com autoridade, capacidade e lugar de fala. A multicampeã integrou a geração que conquistou a primeira medalha olímpica para vôlei feminino no Brasil e se tornou uma respeitada dirigente e ativista esportiva depois que parou de jogar, contribuindo não apenas para projetos sociais, mas também para a elaboração de políticas que aliavam esporte e educação.

Combinando experiência de atleta e qualificação técnica, ela era o nome perfeito para resgatar o Ministério do Esporte, que havia sido rebaixado a Secretaria e sucateado durante os quatro anos do Governo Bolsonaro. Ao empossá-la, Lula prometeu respaldo à pasta e diálogo permanente com os atletas.

Embora tenha gerado reclamações pelos vetos na aprovação da Lei Geral do Esporte, da qual foi uma das articuladoras bem antes de virar ministra, Ana Moser apresentou resultados em pouco tempo de trabalho, como a mudança no Bolsa Atleta para proteger mulheres durante a gravidez, a reaproximação do Planalto com a seleção e o futebol feminino e o plano de metas para ampliar a prática de atividade física no país.

Sua prioridade no ministério era fazer com que o Brasil deixasse de ser uma das nações mais sedentárias do mundo, onde apenas 30% dos habitantes se mantêm ativos. Com políticas esportivas nacionais e integradas, a ex-atleta visava, sobretudo, a iniciação esportiva e a base, algo historicamente negligenciado por uma pasta que focava mais em alto rendimento do que em formação.

Essa é a grande derrota imposta pela vitória do centrão: o risco de se perder pelo caminho uma política de longo prazo para o esporte brasileiro. Sem contar a perspectiva sombria de malversação de recursos públicos, ainda mais agora que a pasta pode ser turbinada por receitas bilionárias oriundas da regulamentação das apostas esportivas.

Salvo raríssimas e louváveis exceções, como Joanna Maranhão e Raí, integrantes do movimento Esporte Pela Democracia, e da Comissão de Atletas do COB, a comunidade de esportistas parece não ter sido impactada pela troca iminente no ministério. Não custa lembrar que a maioria deles fez campanha para um candidato que acabou com o Ministério do Esporte e enxugou o Bolsa Atleta.

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Ao entregar o esporte a um neófito na área e de bandeja para o centrão de Arthur Lira e companhia, Lula se aproxima de Bolsonaro ao tratar o esporte como ninharia de barganha política. Tanto o atual como o antecessor ou qualquer outro presidente nunca priorizaram o esporte, porque sabem que não há mobilização de classe, pressão de sindicato, ameaça de greve, nada… Podem derrubar alguém do tamanho de Ana Moser ou até acabar com ministério, e boa parte dos atletas seguirá indiferente.

O esporte continuará sendo moeda de troca enquanto suas figuras mais influentes se mantiverem alienadas ou entorpecidas pelo radicalismo. A falta de prestígio político é um reflexo da classe.

 

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