POLÍCIA
“Só fala e fala nada”: seguidores começam a duvidar de suposto ex-PCC
Com uma ficha criminal pequena, pouco tempo de cadeia, e até um processo trabalhista, Frank Willians de Paula Souza e Marques, de 31 anos, criou um perfil, segunda-feira (16/10) na internet, no qual afirma ser ex-integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Ele promete, desde então, que irá “jogar no ventilador” tudo o que sabe sobre a maior facção criminosa do Brasil, a qual já é considerada uma máfia pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP). Porém, até o momento, as supostas revelações ficaram somente na promessa.
Frank acumulou, em três dias, 440 mil seguidores em uma rede social, na qual há vídeos com até quase cinco milhões de visualizações. No registro mais recente (assista abaixo), até a publicação desta reportagem, ele tenta argumentar sobre os supostos empecilhos para divulgar suas “provas”.
Diante das promessas até agora não cumpridas, como a revelação de nomes de políticos supostamente ligados ao PCC — como senadores, vereadores, prefeitos — os seguidores começam a fazer piada e a questionar a honestidade de Frank.
“Por que você não fala? Só fica falando que vai falar kkk”, ironiza uma de suas seguidoras.
Outro internauta afirma considerar Frank um “sensacionalista”, que estaria “atrás de repercussão”. “Fala que vai falar e não fala nada […] daqui a pouco ele lança [mais] uma vaquinha online pra arrecadar dinheiro”, afirma.
Frank chegou a organizar uma vaquinha on-line, como mostrado pelo Metrópoles, de R$ 10 mil. Segundo ele, o dinheiro seria para fugir do Brasil e, com isso, evitar ser morto pelo PCC, do qual estaria jurado de morte. Ele chegou a arrecadar quase R$ 8 mil, mas a campanha foi bloqueada pelo aplicativo, após denúncias.
Além disso, em um dos registros, quando tenta convencer de que foi do PCC, ele menciona o nome e apelido de uma pessoa inocente, a qual se assemelha fisicamente a Frank. Isso gerou medo na família da pessoa mencionada pelo criminoso, a qual já registrou um boletim de ocorrência.
Afirmações duvidosas
O suposto ex-membro da facção ainda afirma, em um de seus vídeos, que não foi procurado por nenhum meio de comunicação para amplificar suas denúncias. A afirmação dele, porém, é falsa.
O Metrópoles mandou mensagens para ele em duas redes sociais, na terça-feira (17/10), e tentou contato novamente com Frank, nesta quinta-feira (19/10). Ele não respondeu às solicitações de entrevistas, propostas por meio de telefone, ou ainda vídeo chamada. O espaço segue aberto.
A reportagem apurou que Frank não conta com apelido criminoso registrado no sistema da polícia, algo comum entre integrantes de facção para dificultar investigações.
Nos vídeos, ele também afirma ter sido preso diversas vezes. No entanto, ainda de acordo com registros da Polícia Civil, Frank foi preso uma única vez por roubo qualificado, ficando atrás das grades por 12 dias, entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, no Centro de Detenção Provisória de Piracicaba, no interior de São Paulo. O caso já foi arquivado.
Além disso, ele foi processado por ameaça contra uma mulher, em 2006, e atualmente responde a um processo por estelionato. Quando adolescente, Frank foi aprendido por tráfico de drogas.
“Sintonia”
Com uma ficha criminal modesta, Frank afirma nas postagens já ter ocupado o cargo de “sintonia”, considerado alto na hierarquia do crime, porém de um setor inexistente no organograma do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPSP, que investiga a facção desde a sua origem.
As sintonias do PCC são lideradas por membros, chamados de irmãos, “batizados” pela facção. Eles cuidam de setores específicos da organização, sendo responsáveis por regiões.
Diferentemente das máfias, em que laços familiares respaldam os contatos e as relações dos criminosos, no PCC o que importa é a função de cada membro, como em uma empresa.
Em um dos vídeos, Frank afirma que era “sintonia geral da lista negra dos estados internos e externos”, um setor inexistente no PCC. Ele afirma no vídeo que, por causa dessa sua suposta função de liderança, “tinha planilhas, dados de muitos integrantes [da facção]”.
As supostas informações privilegiadas anunciadas por ele, no entanto, seguem somente no discurso, sem terem sido reveladas.
Sentença de morte
Fontes policiais e da Justiça ouvidas em sigilo pelo Metrópoles afirmam que Frank decretou sua sentença de morte ao usar o nome do PCC nas postagens, mesmo que ele não faça parte da organização criminosa.
“Para mim, ele está mentindo ao afirmar ser da facção. Mas, independentemente disso, vai morrer se o pegarem”.