CIDADES
‘Milícia sinalizou que, se houver prisão, vai estabelecer o caos no Rio’, diz ex-capitão do Bope em entrevista
O ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope),sociólogo e escritor Rodrigo Pimentel avalia que o crime organizado no Rio de Janeiro escalou para um ponto que não tem mais volta no Rio de Janeiro. Em entrevista à jornalista Roberta Jansen, do Estadão, ele diz que, após a morte de um líder da milícia em uma operação da Polícia Civil, milicianos atearam fogo em 35 ônibus, bloqueando vias principais de circulação na zona oeste, onde vivem mais de 2 milhões de pessoas.
“A milícia sinalizou que, a partir de agora, se houver qualquer prisão, ela vai estabelecer o caos no Rio de Janeiro”, disse, em entrevista ao Estadão.
Para Pimentel, o problema não é a falta de inteligência, mas a falta de organização de operações coordenadas. Ele afirmou que houve desorganização por parte do governo do Estado e criticou a Justiça, que soltou da prisão alguns dos traficantes considerados mais perigosos.
“Na segunda-feira, a milícia sinalizou que, a partir de agora, se houver qualquer prisão, ela vai estabelecer o caos no Rio de Janeiro. Ela disse para o governo: se vocês prenderem alguém, a gente fecha a supervia, a transolímpica, o BRT, a gente deixa 35 bairros sem transporte público. Já houve outros episódios de queima de ônibus no Rio, mas os ônibus queimados eram escolhidos aleatoriamente. Na segunda-feira, foram interditadas vias estratégicas”, disse na entrevista.
O ex-capitão do Bope disse ao Estadão que a milícia está com o Comando Vermelho, e que a facção criminosa teria comprado territórios da milícia em favelas do Rio, algo que teria acontecido antes da pandemia de covid-19. Ele analisa que houve a junção dos dois grupos.
“O Abelha, o líder do CV que saiu de Bangu pela porta da frente e ainda apertou a mão do então secretário de administração penitenciária (Raphael Montenegro, que foi preso depois), é hoje o líder das favelas das milícias. Isso é puro suco de Rio de Janeiro”, relatou.
Ele ainda disse que não há “distinção nenhuma” entre a milícia e o tráfico, e que ambos explora as mesmas atividades econômicas, como o transporte coletivo alternativo, TV a cabo ilegal, gás, roubo de carga e a venda de cocaína e maconha. O ex-capitão ressaltou que considera apropriado o termo “narcomilícias”, usado por jornais do Rio.