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Jovem se torna 1ª indígena do povo Puyanawa formada em História: ‘Sem o Enem, não teria conseguido’

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O ano de 2023 vai ter para sempre um lugar especial na memória e no coração de Liliane Araújo Maia, de 27 anos. Em julho, ela vestiu a beca de formatura e, acompanhada pelos seus pais, recebeu o tão sonhado primeiro diploma do ensino superior, pela Universidade Federal do Acre (UFAC). Mas ela ainda foi além: se tornou a primeira indígena formada em História – Bacharelado do povo Puyanawa.

Essas grandes conquistas, no entanto, só foram possíveis porque, anos atrás, ela fez as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e, com a nota obtida, conseguiu ser aprovada no curso de História da UFAC pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu). “O Enem era a única porta de entrada que eu tinha para estudar em uma universidade”, afirma Liliane à reportagem do Terra.

Esse é o primeiro episódio da série de reportagens Onde o Enem me levou?, que conta a história de vários brasileiros que,  a partir do exame, conquistaram marcas profissionais, pessoais e financeiras transformadoras. Ao todo são cinco episódios que serão publicados no Terra ao longo das próximas duas semanas. Acompanhe e se inspire nesses relatos.

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Para chegar até aqui, a jovem teve uma longa trajetória. Ela passou por uma série de adversidades, teve que fazer escolhas, mas também viveu muitos momentos de alegrias com as pequenas vitórias que a deixavam mais perto do objetivo desejado.

Liliane nasceu em 1996 na Terra Indígena Puyanawa, localizada no município de Mâncio Lima, no Acre. Filha de Ederlandia Alves de Araújo, uma mulher indígena, e Claudiomar de Lima Maia, um homem branco, ela é a irmã mais velha dos sete irmãos. Para se casar, seus pais tiveram que enfrentar a família de seu pai, que era contrária à união por Ederlandia ser indígena.

Com apenas cinco anos, Liliane se mudou para Rio Branco, capital do Acre. Os pais foram em busca de mais oportunidades de emprego. Mesmo passado tanto tempo, ela ainda tem lembranças dessa viagem conturbada: “Foram sete dias de chão batido, a estrada não era asfaltada, o ônibus atolava na lama, não tinha restaurante no trajeto, tivemos que pegar balsa também”.

Em Rio Branco, ela morou até os 10 anos de idade. No tempo em que ficaram por lá, seus pais se separaram. Liliane ficou com a mãe e, devido às dificuldades financeiras que Ederlandia passava, voltaram a viver na aldeia.

“Com meu povo, eu aprendi a nadar, a pescar, a raspar macaxeira para poder fazer farinha. Foi uma boa fase mesmo. E, além do português, eu estudava a língua materna. Nessa volta, eu conheci muitos costumes. A gente também cantava na língua indígena, se pintava, tomava banho de Igarapé [cursos de água estreitos e pouco profundos que correm pelo interior das matas]”, lembra.

De volta para a cidade

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Quando Liliane estava no fim do ensino fundamental, sua mãe decidiu novamente se mudar para Rio Branco. Nesse retorno, ela terminou os estudos na capital, virou adulta, começou a trabalhar em uma loja de sapatos e passou a morar sozinha quando sua mãe voltou mais uma vez para a aldeia.

Em seus trajetos pela cidade, a jovem sempre passava no entorno da UFAC e, em seu íntimo, já mentalizava o quanto desejava estudar ali. “O ônibus passava em frente da instituição de ensino e eu só pensava: ‘eu quero muito estudar nessa universidade, como é grande e bonita, é a única federal do Acre’.”

Foi assim que o seu sonho começou a se tornar realidade. Ao decidir que queria entrar na faculdade, Liliane passou a estudar para o Enem. “Já tinha três anos que eu tinha terminado o ensino médio, então eu estava um pouco distante. Trabalhava o dia todo, mas à noite tirava um tempinho para estudar. Estudei pouco porque não dava para conciliar muito. Fiz o Enem duas vezes. Na segunda vez, a nota foi boa e me inscrevi em História, na ampla concorrência do Sisu, e deu certo”, conta.

“Quando eu vi o meu nome na lista, não acreditei. Fiquei muito feliz. Se não fosse o Enem, eu não teria conseguido entrar em uma universidade pública, gratuita e de qualidade. A gente vive com dificuldades, o Enem é o nosso caminho, é a nossa chance.”

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