POLÍCIA
Defesa de delegada questiona policiais em hospital e diz que cliente é vitima
A defesa da delegada Monah Zein questiona a presença de dois policiais no hospital da rede particular onde ela permanece internada em Belo Horizonte. A servidora foi encaminhada para a unidade de saúde na noite dessa quarta-feira (22 de novembro) depois de ficar reclusa por cerca de 31h no apartamento onde mora, no bairro Ouro Preto, na região da Pampulha.
“A violência contra ela persiste. Mandaram os policiais na casa dela, agora eles saíram de lá e vieram para a porta do hospital, inibindo até mesmo visitas”, disse a advogada Jucélia Braz. Na tarde desta quinta-feira (23 de novembro), a delegada recebeu voz de prisão por tentativa de homicídio.
A delegada foi levada para a unidade de saúde por uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Conforme a advogada, ela foi submetida aos cuidados médicos, sendo encaminhada ao Centro de Terapia Intensiva (CTI). “Ela chegou muito agitada e foi logo recebida pelas equipes de saúde. Não temos ainda uma previsão de alta”, disse.
Jucélia afirmou que durante uma visita, a mãe da delegada foi revistada pelos policiais. “É um desrespeito com a delegada e com a família dela. A mãe dela foi revistada antes da visita, isso é inaceitável. Qual a necessidade?”, questiona.
A reportagem de O TEMPO procurou a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), que não se manifestou sobre as denúncias. A Polícia Civil informou que mais detalhes sobre o caso serão repassados na tarde desta quinta-feira (22). Por volta das 14h30, a defesa da delegada foi informada que a cliente recebeu voz de prisão.
O caso
Os policiais chegaram ao endereço da delegada por volta das 9h desta terça-feira (21) e subiram as escadas do prédio equipados com escudos de proteção. Houve um contato entre a policial e os demais agentes, que tentaram disparar um taser contra ela.
A mulher, em seguida, teria efetuado pelo menos três disparos, sem atingir nenhum policial. Desde então, ela se trancou no apartamento e ficou incomunicável. A informação sobre os tiros foi confirmada pela Polícia Civil em nota, que pode ser lida na íntegra ao término da reportagem.
Versão da delegada
A servidora realizou uma live durante a tarde desta terça-feira (21), mostrando parte da abordagem e da negociação feita pelos policiais. Na transmissão, ela acusou vários servidores da Polícia Civil de assédio. “Eles tiraram minha saúde, vocês não têm ideia do que fizeram. Foi torpe, foi vil”, disse. Ela afirmou ainda que a entrada dos policiais em seu prédio é uma violação. “Eles não têm mandado [judicial]. Agora, eu que estou presa em cativeiro”, continuou.
Monah relatou, durante o vídeo, que deveria ter voltado para o serviço nesta terça-feira (21). No entanto, não quis comparecer à delegacia. “Isso é um absurdo, eles tiram a minha vida e vêm aqui. Trabalho para pagar psiquiatra e advogado”, disse. Monah esclareceu que, em nenhum momento, disse que tiraria a própria vida. “Não tenho coragem de tomar banho [por ter medo do meu apartamento ser invadido], querem que eu entregue minha arma. Como vou ficar aqui desarmada?”, questionou.
Durante a noite, em um post nas redes sociais, ela afirmou a Polícia Civil transformou a situação em um “teatro adoecedor”. Ela também criticou a presença dos policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) à porta de sua casa, negou ter pensado em cometer suicídio e acusou a instituição de assédio.
“Nem traficante passa por essa humilhação às 23h. Retirem essas pessoas da porta da minha casa”, solicitou a delegada. Além disso, expressou sua intenção de dormir e, no dia seguinte, buscar “o Exercício” ou “mudar de cidade”. “Estão perturbando meus vizinhos, fazendo parecer que sou louca. Nem criminoso passa pelo que estão fazendo comigo”, acrescentou a delegada.
Versão da Polícia Civil
O porta-voz da instituição, o delegado Saulo Castro, justificou que as equipes foram até a residência após terem acesso as mensagens da servidora, que sugeriam uma situação de risco contra a própria vida dela.
“Nesse sentido, os próprios colegas do local de trabalho vieram para cá acompanhados dos profissionais do nosso Centro Biopsicossocial, no intuito de acolher a colega e preservá-la”, argumentou durante coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira (22).
Ainda conforme Castro, a conversa inicial não teria se “desdobrado” como a polícia imaginava. “A colega estava um pouco mais exaltada e, diante desse cenário de crise, a partir dos protocolos a Polícia Civil julgou necessário chamar a Core, para iniciar essa negociação”, completou.
Negociações e mãe da delegada
A mãe da delegada Monah Zein chegou ao apartamento da filha após viajar do Paraná até Minas Gerais na noite de terça-feira (21). A familiar de Monah entrou pela garagem do prédio sem falar com a imprensa em uma viatura da Polícia Civil.
Os policiais decidiram procurar familiares da delegada com o objetivo de convencê-la a deixar o apartamento. Há preocupação com o quadro de saúde dela. A mãe pegou um voo às pressas, desembarcou no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, e recebeu escolta policial até o apartamento. Nas redes sociais, a delegada questionou a estratégia dos policiais. “Pegam uma mãe que não entende que eles não são meus amigos. Cabeça explodindo”, publicou.
Fim das negociações
Após deixar a residência no fim da tarde desta quarta-feira (22), a delegada foi levada por uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para um hospital da capital, onde permanece internada.