POLÍTICA
Novo áudio desmente versão apresentada por Janones sobre ‘rachadinha’
Um novo áudio desmente a versão apresentada pelo deputado federal André Janones em relação à acusação de rachadinha feita por ex-assessores. Após a divulgação das gravações, o parlamentar afirmou que ainda não havia assumido o mandato na Câmara e que os funcionários em questão não tinham sido nomeados.
No entanto, conforme informações do portal Metrópoles, o áudio evidencia que Janones já estava em pleno exercício do mandato parlamentar. Em um trecho da conversa, o próprio deputado afirma que participaria de uma sessão no plenário horas após a reunião que ocorreu dentro da própria Câmara dos Deputados, na qual ele supostamente estabeleceu a prática da rachadinha.
“Não sei se vocês viram aí nas noticias do Facebook. Já tem uma p#rrada de deputado que apresentou projeto de lei ontem. Ontem tinha uma fila de 100 deputados apresentando projeto de lei. Eu sequer sabia de disso.
Por que eu não sabia? Por que não contratei nenhum especialista em técnico legislativo. Hoje tem plenário à tarde. Eu não sei o que que eu vou fazer lá. Vou chegar lá e vou ficar perdido. Não sei como que é, o que eu vou fazer, que horas que eu falo, que assunto que vai ser.Por quê? Porque não contratei ninguém de plenário”, disse Janones na reunião”, disse.
O áudio confirma a versão dos ex-assessores de Janones de que a reunião ocorreu em 5 de fevereiro de 2019, em uma terça-feira. A data é reforçada pelo fato de que a nomeação de Fabrício Ferreira, um dos que acusam o deputado de rachadinha, foi publicada no Diário Oficial quatro dias antes, em 1º de fevereiro.
O Terra entrou em contato com a assessoria do deputado, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria. O espaço segue aberto para manifestação do parlamentar.
Entenda o caso
Áudios relevados pelo Metrópoles mostram que André Janones pediu aos assessores de seu gabinete, na Câmara dos Deputados, que destinassem uma parte de seus salários para custear suas despesas pessoais. A prática, conhecida como “rachadinha”, configura enriquecimento ilícito, dano ao patrimônio público e pode resultar em inelegibilidade, de acordo com o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Na conversa, o deputado diz como pretendia gastar os valores provenientes dos salários dos servidores públicos lotados em seu gabinete. “Casa, carro, poupança e previdência”, disse em áudio. Janones, que obteve 238 mil votos em Minas Gerais, não sabia que estava sendo gravado.
A reunião com assessores aconteceu nas dependências da Câmara dos Deputados, na sala de reuniões do partido Avante, ao qual Janones pertence. Em outro trecho do áudio, Janones busca sensibilizar os servidores.
“Algumas pessoas aqui, que eu ainda vou conversar em particular depois, vão receber um pouco de salário a mais. E elas vão me ajudar a pagar as contas do que ficou da minha campanha de prefeito. Porque eu perdi R$ 675 mil na campanha. ‘Ah isso é devolver salário e você tá chamando de outro nome’. Não é. Porque eu devolver salário, você manda na minha conta e eu faço o que eu quiser”, tentou convencer Janones.
O deputado prosseguiu: “O meu patrimônio foi todo dilapidado. Eu perdi uma casa de R$ 380 mil, um carro, uma poupança de R$ 200 mil e uma previdência de R$ 70 (mil). Eu acho justo que essas pessoas também participem comigo da reconstrução disso. Então, não considero isso uma corrupção”, afirmou.
Na sequência, Janones alegou que não seria legítimo os assessores ficarem com 100% de seus salários: “Por exemplo, o Mário vai ganhar R$ 10 mil [por mês]. Eu vou ganhar R$ 25 mil líquido. Só que o Mário, os R$ 10 mil é dele líquido. E eu, dos R$ 25 mil, R$ 15 mil eu vou usar para as dívidas que ficou [sic] de 2016. Não é justo, entendeu?”.
Ao mesmo tempo em que tentava justificar a rachadinha, Janones deixou claro que a divulgação dessa prática poderia ameaçar seu mandato como deputado federal. Durante sua declaração, o parlamentar tentou transmitir a ideia de que não se importaria muito caso fosse alvo de denúncias.
“E se eu tiver que ser colocado contra a parede, eu não tô fazendo nenhuma questão desse mandato. Para mim, renunciar hoje seria uma coisa tão natural. Se amanhã vier uma decisão da Justiça: ‘o André perdeu o mandato’, você sabe o que é eu não me entristecer um milímetro?”, disse.
O responsável pela gravação do áudio foi o ex-assessor de Janones, o jornalista Cefas Luiz. O áudio em questão é de 2019, e foi feito logo após a primeira eleição do parlamentar. O jornalista anunciou que entregará a gravação à PF, junto com outras evidências de possíveis irregularidades que teriam ocorrido no gabinete do deputado.