ECONOMIA
Dólar: Real cai frente ao dólar com temor fiscal após veto à desoneração da folha de pagamentos
O dólar encerrou o dia com uma queda de 0,07% em relação ao real, cotado a R$ 4,9151, ainda que quatro centavos acima da mínima atingida durante a sessão, de R$ 4,8757 (-0,92%). O comportamento da moeda brasileira foi marcado pelo suporte inicial dos sinais dovish do Federal Reserve (Fed) dos EUA e a recente decisão do Banco Central brasileiro de não acelerar os cortes de juros. No entanto, o real cedeu no fim do pregão diante do receio fiscal, enquanto o mercado acompanhava a análise do veto à desoneração da folha de pagamentos pelo Congresso.
Análise do mercado financeiro
Profissionais do mercado destacam a reação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como fator tensionador nos mercados. Haddad considerou o projeto de desoneração como inconstitucional, sugerindo uma possível disputa judicial para rejeitar a medida. Essa postura gerou impacto imediato, com o dólar atingindo suas máximas durante a fala de Haddad, desvinculando-se do desempenho externo onde a moeda norte-americana declinava em relação a outras divisas desenvolvidas e emergentes.
Nesse contexto, os juros futuros no Brasil neutralizaram as quedas ao longo da curva, movimento contrário ao dos rendimentos das Treasuries americanas, que registraram declínio de até 9 pontos-base.
Cenário político e econômico
O prazo da equipe econômica é limitado, restando apenas oito dias para a aprovação de medidas visando atingir o déficit primário zero em 2024, já que o Congresso entrará em recesso em breve. Questões cruciais, como a medida provisória de subvenções ao ICMS, estão em pauta para impulsionar a arrecadação no próximo ano e serão votadas após terem sido aprovadas em comissão mista.
Perspectivas para os investidores
Especialistas, como o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, alertam para a importância desse momento político na temporada de aprovação de pautas arrecadatórias. A derrubada do veto à desoneração e a sinalização de Haddad em contestar a medida impactam a articulação política, afetando os investidores que buscam estabilidade e previsibilidade no mercado.
O diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha, destaca que a discussão sobre a desoneração alterou o cenário cambial. Antes desse debate, o real apresentava força, impulsionado pelo aumento do apetite por risco e pela perspectiva de um diferencial de juros considerável entre Brasil e Estados Unidos.
A queda recente do dólar refletiu a atmosfera otimista após as declarações do Fed, removendo a pressão sobre os juros e a moeda norte-americana, o que permitiu aos investidores reconsiderarem suas alocações, direcionando capital para emergentes ou realocando recursos anteriormente retirados. Com o Brasil mantendo sua estratégia de cortes de juros estáveis e o Fed discutindo reduções, há espaço para fortalecer o real.