POLÍCIA
Maior traficante de armas da América monitorava polícia brasileira
Apontado como o maior traficante de armas da América do Sul, o argentino Diego Hernan Dirisio, de 49 anos, controlava um sofisticado esquema criminoso, que incluía o monitoramento das ações da polícia no Brasil.
Dirisio é suspeito de ter vendido milhares de armas para as duas principais facções criminosas brasileiras, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), a partir de sua importadora de armamentos no Paraguai.
Ele e a esposa, Julieta Vanessa Nardi Aranda, de 41 anos, foram alvo de mandados de prisão e busca, no contexto da Operação Dakovo, da Polícia Federal (PF), em 5 de dezembro do ano passado. Ambos seguem foragidos há mais de um mês.
Dirisio sabia, inclusive, que estava sendo investigado e até incumbia uma funcionária de monitorar o trabalho da polícia brasileira, responsável por identificar as armas contrabandeadas pelo grupo e apreendidas em ocorrências policiais no Brasil.
“Detetive” da organização criminosa
Segundo investigação da PF, a jovem Eliane Marengo, de 36 anos, passava-se por vendedora da Internacional Auto Supply S.A (IAS), importadora de armas de fogo do leste europeu e da Turquia, sediada em Assunção, capital do Paraguai.
Na prática, porém, ela participava do esquema criminoso de desvio de armamentos e tinha um papel especial, de “investigadora”, a pedido da organização criminosa. Ela monitorava as ações da Polícia Federal e repassava as informações diretamente para Dirisio.
Em conversa com Dirisio, por aplicativo de mensagens, em 24 de novembro de 2020, Eliane Marengo envia fotos de uma divulgação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) da Bahia sobre a apreensão de fuzis, pistolas, munições e carregadores. São armas traficadas pela IAS, segundo investigação da PF.
As fotos das armas apreendidas são acompanhadas por três emojis de espanto. Dirisio responde com outro emoji, representado por uma pessoa cobrindo o rosto com a mão, em sinal de frustração.
Crise com amigos militares
A operação deflagrada no mês passado mirou — além do casal Diego e Julieta, dono da IAS — outras 26 pessoas envolvidas no esquema de tráfico de armas, que tinha vários núcleos, incluindo doleiros, intermediários e líderes de facções. Entre os presos estão militares da Direção de Material Bélico (Dimabel) do Paraguai.
De acordo com as investigações, militares paraguaios recebiam presentes e dinheiro da IAS. Em troca, facilitavam a movimentação das armas contrabandeadas, resolviam “problemas de fiscalização” e criavam dificuldade para importadoras concorrentes.
O aumento das apreensões de armas de fogo ligadas ao grupo criminoso também preocupou esses militares corruptos.
Chefe de importações de armas da Dimabel, a capitã Josefina Cuevas enviou mensagens para Diego Dirisio alertando sobre operações da PRF no Brasil com apreensão de armas ligadas ao grupo.
Além disso, ela enviou ao dono da IAS uma cópia de uma solicitação do Ministério Público que chegou ao órgão fiscalizador de armas, sugerindo a existência de uma investigação contra a organização criminosa.
No começo do ano passado, advogados de Dirisio acionaram a Justiça brasileira para tentar acesso ao inquérito da Polícia Federal sobre o esquema de tráfico de armas. A investigação acontecia desde 2021 e tramitava na 2ª Vara Federal da Bahia. A ação chegou até o Supremo Tribunal Federal (STF) e o acesso ao inquérito foi negado pela ministra Cármen Lúcia em abril.
A reportagem tenta contato com as defesas de Dirisio, Julieta, Eliane e Josefina. O espaço segue aberto.