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Brasileiro narra experiência em naufrágio de veleiro rumo à África do Sul: ‘Pesadelo’
O brasileiro Marcelo Osanai era uma das três pessoas a bordo do veleiro que saiu do Rio de Janeiro no dia 27 de fevereiro em direção à África do Sul. O objetivo era chegar a Cidade do Cabo quase um mês depois, por volta de 22 de março. Mas, 16 dias após a partida do Iate Clube da Urca, na Zona Sul da capital fluminense, os tripulantes se deparam com uma tempestade prevista para durar aproximadamente 48 horas.
Osanai conta que, apesar de saber que o tempo não estava favorável, o capitão da embarcação decidiu arriscar. “No primeiro dia, a gente navegou bem, conseguiu fazer mais milhagem do que havia planejado. No segundo dia, aproximadamente às 18h, notamos que a parte inferior do barco estava começando a acumular água, mais do que o normal”, narrou ele ao jornal O Globo.
Os três tentaram remediar a situação retirando o máximo de água possível da embarcação, mas notaram que a parte frontal esquerda do barco estava danificada.
“Toda a parte de proteção lateral tinha sido arrancada durante a tempestade, não sabemos em que momento específico. Também tinha uma boia com uma corda que não era nossa pendurada no barco. Então, entendemos que atingimos algo em alto mar durante a tempestade que arrancou toda essa parte lateral da proteção, provavelmente danificando o casco na parte frontal”, detalhou o brasileiro.
A água começou a entrar no veleiro, além das fortes ondas que também contribuíam para inundar o barco. Toda essa movimentação durou cerca de 4 horas. “Não tinha mais salvação, não dava mais para remediar o que estava acontecendo. Foi quando a gente, mais ou menos às 21h ou 22h, acionou o S.O.S. oficialmente”, lembra.
Para o pedido de socorro, eles usaram rádio, GPS e mensagens pelo celular (SMS) via satélite, em um esforço que durou a noite toda, com muito vento, chuva e ondas de até 8 metros. A resposta veio na manhã do dia seguinte, 14. Mas, com a situação cada vez mais crítica, eles decidiram abandonar o veleiro.
“Lançamos o bote salva-vidas, mas o barco começou a afundar ainda mais rápido por causa de uma onda que bateu na parte traseira e trouxe mais água para a embarcação”, descreveu Marcelo.
O brasileiro conta que, neste momento, se jogou no mar. Um suíço-americano de 58 anos que viajava com ele já estava dentro do bote salva-vidas. Mas o capitão do veleiro, um suíço de 72 anos, não conseguiu se salvar e acabou se afogando.
“Era como se fosse um sonho ou um pesadelo, que não era real, porque era tão absurdo o que estava acontecendo… Mas, apesar do medo, por um milagre, eu consegui manter a calma para tomar decisões e agir da forma correta no momento correto”, afirmou.
Os dois sobreviventes receberam, então, a informação de que, em cerca de três horas, um navio vindo do Uruguai em direção à África do Sul passaria pela rota em que estavam e poderia resgatá-los, o que acabou acontecendo só quase seis horas depois. Um período desafiador dentro do bote.
“Estava muito frio, ventando muito, a água mais ou menos a 18 ou 17 graus, e a gente estava completamente molhado. Eu estava com muito receio, medo de hipotermia”, conta.
O resgate durou pelo menos meia hora, a ideia era proteger a dupla das ondas e do vento e chegar o mais perto possível do bote. O mais velho dos sobreviventes foi retirado da água primeiro, e o brasileiro em seguida.
Os dois foram recebidos com cobertores, trocaram de roupa e ficaram em uma área interna para se aquecerem. Do navio, Marcelo conseguiu se comunicar com a família. Uma equipe de resgate da África do Sul buscou o brasileiro e o suíço-americano no navio.
“Foram sucessivos milagres acontecendo, pessoas que foram colocadas ali para possibilitar isso, mas também tivemos ajuda da tecnologia e nosso preparo para aguentar e superar essa ocasião”, ressaltou o brasileiro.