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GERAL

“Nos enxergam na plateia, mas não na arte”, diz Giovanni Venturini sobre pessoas com nanismo

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O ator Giovanni Venturini, de 32 anos, coleciona prêmios nacionais e internacionais como o protagonista do curta “Big Bang”, que retrata a vivência de um homem com nanismo que trabalha consertando fornos. O trabalho rendeu visibilidade e permitiu que o ator se consolidasse na arte além do nanismo.

Venturini estará na segunda temporada da série “Justiça”, que estreia em abril no Globoplay, como o sobrinho de Julia Lemmertz e Murilo Benício. “É um projeto muito importante porque o convite para fazer esse personagem veio muito pelo meu trabalho. É um personagem que não foi escrito sendo uma pessoa com nanismo e não fala sobre nanismo”, afirmou Giovanni em entrevista ao Terra NÓS.

“Vai ser importante as pessoas me verem nesse lugar e tirar esses estigmas de que pessoas com deficiência só podem fazer personagens com deficiência ou ‘bonzinhos’. O meu personagem não é muito bem visto, não vou dizer que ele é o vilão da história, mas digamos que ele é o parceiro e o cúmplice de um dos vilões”, contou.

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Para chegar até este momento, Venturini precisou recusar muitos convites para interpretar personagens cômicos, que apenas serviam para estereotipar pessoas com nanismo. “A partir do momento que eu comecei a me posicionar no mercado artístico, dizendo ‘não’ e recusando convites, as pessoas começaram a me enxergar de uma forma diferente e os convites para esses personagens foram diminuindo”, apontou.

“Acho que pelo momento atual da nossa sociedade e com as discussões sobre diversidade e capacitismo, temos avançado muito e isso reflete também no audiovisual. Hoje, consigo apontar onde estão os erros e muitos diretores e roteiristas me escutam, estão atentos para isso e conseguem mudar a forma como os personagens com nanismo são escritos.”

Sets de filmagem

Apesar de ter um currículo com grandes produções, como “O Rei da TV”, “Os Ausentes” e “Cúmplices de Um Resgate”, o ator ainda precisa lidar com o preconceito estrutural em sets de filmagens e em teatros, que não oferecem suporte para pessoas com deficiência.

“Sempre é um preconceito mais velado. Todo mundo se diz muito inclusivo e atento à diversidade, mas, às vezes, o set não é adaptado, o banheiro e a pia são muito altos. A estrutura do teatro, muitas vezes, não é pensada para pessoas com deficiência. Nos enxergam apenas na plateia ou como espectadores, mas não na arte”, destacou.

Por isso, Venturini acredita que o curta-metragem “Big Bang”, que fala da luta de classes a partir de um personagem com nanismo que não carrega os estereótipos da deficiência, pode levar essa discussão para o público. “Também é a luta de corpos invisibilizados na sociedade. A minha presença no filme faz com que a história se potencialize e traga outras camadas para a discussão”, afirmou ao Terra NÓS.

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“Big Bang” marcou não só a carreira do ator, mas também sua vida. “O convite veio em um momento em que eu estava um pouco desanimado com a profissão. Estava recebendo muitos convites estereotipados e eu não tinha muitas oportunidades”, disse.

“Depois que Carlos Segundo, o diretor do curta, chegou com esse convite, costumo brincar que ele botou lenha no meu fogão, fazendo um paralelo com o filme. Ele reacendeu essa chama de seguir em frente e acreditar na minha carreira.”

“Big Bang” ganhou os prêmios de Melhor Curta-Metragem no Festival de Cinema de Locarno 2022, na Suíça, Cine Ceará 2022 e Panorama Coisa de Cinema 2022. E Giovanni ganhou o prêmio de Melhor Ator no Festival de Cinema de Brasília 2022.

“Ter todo esse reconhecimento dentro da academia brasileira de cinema é muito importante”, ressalta.

Trajetória

A trajetória de Giovanni Venturini começou na adolescência, por volta dos 16 anos. Natural do Estado de São Paulo, sempre soube que queria ser ator, e foi através de uma peça da escola que ele teve a oportunidade de subir em um palco pela primeira vez.

“Lembro que eu esqueci o texto e improvisei. Eu me senti muito bem por ter improvisado e falei: ‘Nossa, isso é ser ator’. Então, comecei a correr atrás dessa carreira tão sonhada”, relembrou.

Mas na hora de decidir uma profissão no ensino médio, Giovanni ficou com medo de escolher a atuação por causa da pressão da sociedade. “Era toda aquela coisa da carreira de ator ser muito incerta e variar muito mês a mês.”

Venturini se formou em Gestão de Turismo ao mesmo tempo em que trabalhava como ator na época. Em 2012, largou o emprego em um escritório e passou a viver exclusivamente da arte.

“Desde então, as coisas estão caminhando maravilhosamente bem. E acho que muito se deve ao fato de eu estar entregue 100% naquilo que eu queria fazer, sem me dividir entre duas profissões”, disse.

Audiovisual

“Eu comecei no teatro, mas hoje em dia eu tenho feito muito audiovisual, no cinema e na TV. E tenho gostado dessa nova abertura do mercado audiovisual para a diversidade.”

Recentemente, ele terminou de gravar outra série do Globoplay, “Dias Perfeitos”: “Ela traz uma história muito pesada e acho que a união da equipe dentro do set é importante para construir histórias intensas”.

“Agora eu começo um novo processo dentro do teatro, chama-se Rotação. É um espetáculo que mistura dança e teatro, e vai estrear em Curitiba. Neste primeiro semestre, estarei mais voltado para o teatro”, revelou.

 

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