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POLÍTICA

O que pode acontecer com Mauro Cid e investigações após nova prisão

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Peça-chave nas investigações que apuram o envolvimento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de pessoas próximas a ele em suposta tentativa de golpe de Estado e na falsificação de certificados de vacina, Mauro Cid retornou à prisão. Após o vazamento de áudios em que colocava em dúvida sua delação premiada, o tenente-coronel foi convocado ao Supremo Tribunal Federal (STF) para prestar esclarecimentos. Cid negou que tenha mentido na delação, mas saiu preso.

O Supremo, em nota, esclareceu que o ex-ajudante de ordens teve prisão preventiva decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, sob acusação de descumprimento das medidas cautelares e obstrução à Justiça. Nessa sexta-feira (22/3), Cid passou por audiência com um juiz instrutor, na presença de sua defesa e de um representante da Procuradoria-Geral da República (PGR).

A audiência ocorreu horas após a publicação de reportagem da revista Veja com áudios em que o tenente-coronel fazia acusações contra a Polícia Federal (PF) e Moraes a um interlocutor não identificado. No material consta, por exemplo, uma fala em que ele indica ter sido coagido pela corporação durante os depoimentos.

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O imbróglio, segundo especialistas consultados pelo Metrópoles, compromete os termos negociados por Cid com a Polícia Federal para garantir a liberdade. “A primeira implicação, com toda certeza, é a própria prisão, o que já é um prejuízo enorme para ele”, explica Rafael Valentini, advogado criminalista e especialista em processo penal.

Embora a decisão do ministro ainda não tenha sido tornada pública, o advogado considera que, se Moraes entender que Cid atuou para obstruir as investigações também durante os depoimentos aos investigadores, o conteúdo da delação pode ser considerado “viciado”.

“Outra implicação é que, possivelmente, ele também será investigado e processado pelo crime de obstrução de Justiça, previsto na lei de organizações criminosas”, explica o jurista. Vale lembrar que, entre os argumentos para a prisão, Moraes destacou “descumprimento das medidas cautelares e obstrução à Justiça”.

“A impressão que dá é que justamente os áudios justificaram a prisão. Aquilo que é falado nos áudios pelo Mauro Cid, apesar de ser um conteúdo bastante ácido e duro, não me parece que seja uma obstrução de Justiça, então talvez tenha alguma coisa a mais”, avalia Valentini. “Ou Moraes foi muito rigoroso, para dizer o mínimo, ou então há alguma coisa que a gente não saiba ainda”.

Obstrução de Justiça

O advogado criminalista Oberdan Costa informou que, nessas falas, o tenente-coronel Mauro Cid frustra um dos requisitos das colaborações premiadas. Isso porque, enquanto elas estão em curso, existe um compromisso de guardar o sigilo das tratativas.

“Se a colaboração premiada contribui com uma investigação sigilosa, não tem sentido uma pessoa que está ajudando dar com a língua nos dentes para terceiros”, destaca. O advogado considera que, com essa quebra de sigilo, ele deu causa para a rescisão da colaboração premiada. Além disso, a depender de quem seria o interlocutor, ele poderia incorrer no crime de obstrução à Justiça.

“Tudo que ele deu para a acusação, para negociar esses benefícios, a acusação vai poder usar, inclusive em desfavor dele, e ele perde os benefícios”, explica. “Como ele foi quem frustrou esse contrato [com a Polícia Federal], ele quem perde.”

Áudios acusatórios

Em um dos áudios revelados pela revista Veja, Mauro Cid afirma que os investigadores queriam que ele falasse “coisas que não aconteceram”. “Eles não aceitavam e discutiam que a minha versão não era verdadeira, que não podia ter sido assim, que eu estava mentindo. Eles já estão com a narrativa pronta e não queriam saber a verdade”, disse Cid a um interlocutor de seu círculo próximo.

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“O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende e solta quando ele quiser… Com ministério público, sem ministério público… Com acusação, sem acusação”, disse Cid. Em outro trecho, ele ainda acusou Moraes de já ter uma decisão pronta.

Após a divulgação, a defesa de Cid afirmou que em nenhum momento ele coloca em xeque a independência, funcionalidade e honestidade da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República ou do STF na condução dos inquéritos em que é investigado e colaborador. “Seus defensores não subscrevem o conteúdo de seus áudios”, completou.

Em depoimento nessa sexta, Cid confirmou ao juiz instrutor que as declarações prestadas à PF e que embasaram a delação ocorreram de forma espontânea e voluntária.

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