ENTRETENIMENTO
Ex-repórter da Globo, Flávia Jannuzzi sobre demissão: “Mais feliz”
Mais de um ano depois de ser demitida da TV Globo, após mais de 25 anos de trabalho, Flávia Jannuzzi revelou como estava se sentindo no trabalho e falou sobre ultrapassar as barreiras do desemprego com ações que levam à prosperidade.
Em um bate-papo com Rodrigo Mandarini, no podcast Geral Pod, a ex-repórter da emissora dos Marinho soltou o verbo e afirmou estar mais feliz, mesmo sem salário.
“Saí do meu trabalho, 25 anos, tô sem salário. Tô sem salário, mas estou mais feliz. Claro, a plenitude não paga conta, mas a questão de você estar feliz e ter um propósito, eu acho que te movimenta para um outro lugar, que também pode ser de prosperidade porque você começa a levar um grupo que acredita no seu projeto e as coisas vão acontecendo”, declarou ela.
E continuou sua análise: “Eu acho que os caminhos vão se abrindo à medida que você vai caminhando. Se você ficar naquele estado de inércia, parado, as coisas ficam na escuridão. Mas quando você tá caminhando num túnel escuro, daqui a pouco você está vendo um paralelepípedo, uma poça d’água. Você está vendo, tem uma luz entrando, a coisa vai clareando. E é assim que eu vejo esse momento”, garantiu, antes de completar:
“Acho que o mais bacana é isso: não focar no resultado, [pensar] ‘eu preciso ganhar dinheiro, fazer isso’. Não, eu tô levando isso, acredito nisso, queria ter um espaço de comunicadora, que eu pudesse levar pessoas interessantes, um conteúdo construtivo, que eu acredito, não ficar mais em porta de IML e de delegacia passando a noite. Não quero mais isso da minha vida, já fiz muito isso. Vou passar o resto da minha vida fazendo isso? Não diminuindo o papel de brilhantes repórteres que fazem isso. Mas eu acho que todo mundo tem um propósito e meu propósito virou a chave, é outra coisa”, comentou ela.
Em seguida, Flávia Jannuzzi revelou que começou a se sentir mal com determinadas pautas que recebia dos chefes: “A gente está em um país altamente polarizado e acho que é tão prejudicial, tão complicado. Também não quero bancar a isentona, mas não concordava com muita coisa. E é muito triste quando você passa a fazer do seu trabalho uma coisa que não acredita mais”, desabafou.
Logo depois, ela disse ter sentido militância em algumas matérias: “Então, você investiu a sua vida num sonho, numa proposta de vida, num propósito: quero ser uma comunicadora, levar reportagem bacana. Mas quando você começa a ver que tudo tem um braço da militância, [pensa] ‘opa, tira o pé do acelerador’. E começa quase uma sensação de demissão silenciosa, [penso] ‘não quero fazer isso, não me vejo fazendo isso, pra que vou fazer isso?, não acredito nisso, vou escrever sobre isso?’”, detalhou.
Ao ser questionada se verbalizava aos chefes como estava se sentindo, ela foi direta: “É muita solidão. E quando eu questionei, fui tirada e algumas pautas. E a gente vai ficando mais velho, vai ficando mais crítico. Aí você começa a pensar ‘caramba, estou no lugar errado, não tô fazendo o negócio certo’. Então, você começa a ver que está fazendo um desserviço”, disparou.
Veja a entrevista completa
“Traumática”, afirmou Flávia Jannuzzi
Em meados do ano passado, a ex-repórter Flávia Jannuzzi abriu o coração sobre a sua demissão da TV Globo, em abril. A jornalista, que estava na emissora há 25 anos, sendo 16 no Rio de Janeiro, definiu sua saída como “horrível” e “traumática”.
Segundo ela, uma lista de pessoas que seriam demitidas começou a circular entre os funcionários no WhatsApp. Ela descobriu que seria dispensada porque pessoas próximas começaram a se despedir dela de repente.
“No dia das demissões eram bolinhos de pessoas, ninguém trabalhando, todo mundo chorando. Os colegas iam sendo chamados um a um pra serem demitidos. Parecia uma lista de Schindler ao contrário, uma coisa horrorosa, [estavam] sendo abatidos pouco a pouco. Tem colegas que saíram de reportagens para serem chamados e foram demitidos fazendo reportagem. [Era] um clima horroroso, um clima de funeral”, disse em entrevista ao Splash UOL.
Flávia Jannuzzi analisou a situação: “A forma como tudo aconteceu foi muito fria. Eu tive uma vida dedicada à emissora. Como todo jornalista que se empenha na profissão e que acredita no propósito que ele tem que cumprir, eu me dediquei muito, foram muitas renúncias. Teve muita entrega. Me dediquei demais a uma emissora que me descartou como se eu fosse um número e eu fui só mais um número”, falou.
Flávia afirmou, ainda, que estava insatisfeita com o trabalho na emissora e já pensava em sair. No entanto, revelou que a demissão foi um “baque” e que não conseguiu buscar os pertences que deixou na empresa.
“Eu não tive estômago de voltar na redação. Eu não consigo passar pelo Jardim Botânico ainda. Me dá um mal-estar, um negócio que eu não consigo dizer o que é. Eu ainda não superei, mas vou superar”, lamentou.