POLÍCIA
Operação mira rede de 78 hotéis e hospedarias do PCC no centro de São Paulo
O Primeiro Comando da Capital (PCC) comprou ou montou 78 hotéis e hospedarias, 26 das quais clandestinas, no centro de São Paulo, para abastecer e manter o tráfico de drogas na região. Assim, a facção expandiu as ramificações da Cracolândia até as proximidades das praças Marechal Deodoro, Princesa Isabel e dos Largos do Arouche e do Paissandu, passando por endereços das Avenidas São João e Duque de Caxias.
Outras três pessoas são investigadas como responsáveis por gerir hospedarias para a rede do PCC: José Onofre de Jesus, Sirley Aparecido dos Santos e Sheila Regina Costa. A investigação também determinou o caminho da droga até a Cracolândia. Ela viria da favela de Paraisópolis, área controlada pelo PCC. É transportada em veículos até a rede de hotéis e hospedarias da facção, que serviriam de entreposto para a distribuição das drogas, além de esconderijo para bandidos procurados pelos policiais, que são abrigados ali sem que seus nomes sejam incluídos na lista de hóspedes.
Movimentação de dinheiro da Cracolândia
Foi por meio da avaliação da movimentação financeira dos acusados que a polícia chegou à área da reciclagem de sucata e ferro-velho, outro dos negócios controlados pelo PCC na região. Também foi por meio dessa avaliação que os policiais conseguiram determinar a hierarquia da organização na região, no topo da qual estaria Sheila Regina Costa. Ela teria uma posição que a colocaria acima de Carames na facção, servindo de ligação do esquema do centro da cidade com a cúpula da organização.
As contas bancárias ligadas a Carames registravam R$ 430 mil de entradas e R$ 400 mil de saídas entre setembro de 2022 e março de 2023, de acordo com análise feita pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Carames teria como renda mensal declarada R$ 5 mil. Suas contas e as de seu grupo foram classificadas como contas de passagem dos valores do tráfico em benefício de Sheila, que também seria proprietária de dois hotéis e de uma hospedaria na região: o Hotel Manchete, na Avenida São João, o hotel Aurora, na Rua Aurora e uma hospedaria clandestina na Avenida Rio Branco.
De acordo com a polícia, os investigados são todas pessoas atuantes na rede hoteleira da região e têm histórico de envolvimento com o tráfico de drogas ou que fizeram negociações com envolvidos no tráfico. A investigação atingiu ainda supostos integrantes da rede que registraram movimentação financeira acima de seus rendimentos lícitos.
Nesse caso estaria Andressa dos Santos Borges, que recebia auxílio emergencial de R$ 2,8 mil, mas aparece como dona de uma empresa de reciclagem, sucata e ferro-velho uma das cinco desse ramo sob investigação. Por meio dela, os policiais chegaram a outra peça importante desse enredo: Daniela Regina Romano, que tem pelo menos três acusações formais de crime de tráfico de drogas.
O Estadão procurou a defesa dos acusados, mas não conseguiu localizá-la, assim como dos hotéis citados e das empresas de reciclagem. Nas oportunidades em que foram ouvidos em outros casos pela polícia e pela Justiça, os acusados sempre alegaram inocência ou permaneceram em silêncio.