GERAL
Itaú e XP identificaram “movimentação atípica” de ações da Americanas
Indícios de “movimentações atípicas” de ações da Americanas no mercado foram reportados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pela XP Investimentos e pela Itaú Corretora. Tais relatos ocorreram nos meses anteriores a janeiro de 2023, momento em que a varejista divulgou a fraude contábil, hoje estimada em R$ 25,2 bilhões.
Essas informações fazem parte de um inquérito específico aberto pela Polícia Federal (PF) para investigar a ocorrência de um eventual crime de uso de informações privilegiadas (“insider trading”, no jargão do mercado). Essa investigação incorporou um processo administrativo (19957.000425/2023-42) aberto pela CVM, cujo objetivo também era apurar a suspeita de insider trading na Americanas.
Segundo a PF, a CVM informou que ter recebido um “comunicado da XP Investimentos relativo à identificação de operações atípicas, por parte de um de seus clientes, com opções do ativo AMER3 [sigla da ação da Americanas], antes da divulgação do Fato Relevante [a primeira notificação feita ao mercado sobre as fraudes] que impactou significativamente o preço do ativo”.
Situação idêntica
Em 16 de janeiro de 2023, idêntica situação foi reportada pela Itaú Corretora à CVM. Nesse caso, as operações “atípicas” teriam envolvido executivos da Americanas. “Foram identificados indícios do uso de informações privilegiadas em operações com ações da Americanas S.A (AMER1 e AMER3), realizadas ao longo do ano de 2022 por clientes da Itaú Corretora que são diretores ou ex-diretores da empresa”, afirma o relatório da PF que serviu de base para a Operação Disclosure, realizada nesta quinta-feira (27/5).
A seguir, a PF enviou um ofício à CVM pedindo informações sobre o valor líquido da venda de ações dos ex-diretores da Americanas. Isso no período entre 1º de janeiro de 2022 até a divulgação do Fato Relevante que citou as “inconsistências contábeis”, em 11 de janeiro de 2023.
Movimentação do ex-CEO
Foi nesse contexto que surgiu a informação de que o ex–CEO da Americanas Miguel Gutierrez movimentou R$ 171,7 milhões. Do total, diz a PF, ele havia vendido apenas R$ 13,2 milhões até julho de 2022. “Ou seja, a partir de julho de 2022, ao ter ciência de que seria trocado no posto de CEO e a descoberta da fraude era iminente, Miguel Gutierrez vendeu R$ 158,5 milhões, em uma movimentação totalmente atípica”, aponta o relatório.
A investigação destaca ainda que as “vendas foram extremamente intensas entre julho e outubro de 2022, tendo atingido o seu auge em setembro de 2022 (R$ 78.638.958,18). De acordo com a defesa de Gutierrez, no entanto, ele nega ter participado de qualquer fraude.
Consultadas pelo Metrópoles, as áreas de comunicação do Itaú e da XP informaram ou que as empresas não se manifestariam sobre o caso.