GERAL
Programas de aceleração investem mais de R$ 9 milhões em startups
Os desafios para o empreendedorismo no Brasil são conhecidos de longa data: dificuldade de crédito, alta taxa tributária e burocracia. E, para quem está começando uma empresa, estas barreiras parecem ainda maiores. Para ajudar esses empreendedores, governos federal, estaduais, entidades de classe, associações e agências de fomento vão investir mais de R$ 9 milhões este ano no desenvolvimento de startups.
Apenas o Senai-SP vai destinar R$ 7,5 milhões, em recursos econômicos próprios, para fomentar a inovação aberta e solucionar desafios da indústria via startups. O programa de Aceleração Tecnológica de Startups vai contemplar até 30 empresas e destinar até R$ 250 mil a cada uma delas. As empresas selecionadas estão em fase de desenvolvimento tecnológico e a apresentação dos resultados está prevista para dezembro.
Até 9 de agosto, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), em parceria com o IEBT Innovation, está com inscrições abertas para a terceira edição do Programa Startup Indústria. A iniciativa tem como objetivo apoiar soluções inovadoras, acelerando o desenvolvimento tecnológico, a maturidade digital e a competitividade do setor produtivo brasileiro.
Empresas inovadoras e do setor produtivo têm a chance de concorrer a R$ 700 mil em prêmios. Serão selecionados 10 projetos vencedores, cada um recebendo R$ 70 mil para a execução de iniciativas de inovação.
Podem participar do processo de seleção empresas do setor produtivo com, pelo menos, uma unidade produtiva ou sede no Brasil, de qualquer setor e porte, além de startups, spin-offs acadêmicas, spin-offs corporativas e demais empresas inovadoras com tempo de existência superior a seis meses.
O Hub InovAtiva, política pública gratuita e equity free de apoio ao empreendedorismo inovador no Brasil, também está com inscrições abertas para seus programas de aceleração InovAtiva Brasil e InovAtiva de Impacto Socioambiental para o segundo semestre. Os empreendedores interessados podem se inscrever gratuitamente até 5 de agosto.
Um dos maiores programas de aceleração de startups no Brasil, o InovAtiva Brasil vai selecionar até 200 negócios de todo o país, que estejam nas fases de validação, operação e tração. Já o InovAtiva de Impacto Socioambiental, focado em empresas com missão de gerar impacto social ou ambiental positivo, vai escolher até 80 startups.
Ambos os programas são de abrangência nacional e oferecem capacitação, conexão e mentorias aos participantes de forma completamente gratuita e equity free.
“As conexões com outros empreendedores possibilitam o compartilhamento de experiência e aprendizado coletivamente. Esse compartilhamento é uma fonte valiosa de suporte em momentos desafiadores, proporcionando insights, conselhos e até mesmo parcerias estratégicas para superar obstáculos”, conta Ana Hoffmann, Head de Aceleração do Impact Hub São Paulo e Coordenadora do InovAtiva de Impacto Socioambiental.
Negócios de impacto
Escalar o negócio, dar fôlego é um passo importante e decisivo na vida destas empresas. Não basta ter uma ideia brilhante e tirá-la do papel, é preciso buscar a sustentabilidade do negócio e é neste ponto que muitas empresas fracassam.
Pensando em como ajudar empreendedores, o Impact Hub SP realizou na última semana um encontro para debater a escalabilidade e sustentabilidade financeira nos negócios, sobretudo naqueles de impacto social ou ambiental.
“A aceleração de negócios é uma metodologia comprovada que, de fato, melhora e faz com que os negócios atinjam seus objetivos mais rápido. Uma pesquisa da Global Accelerator Learning Initiative (GALI) revelou que negócios acelerados crescem 50% ao ano, nos primeiros anos, enquanto os não acelerados cresciam 30%. As startups que foram aceleradas empregam 47% a mais do que os negócios não acelerados. Então, fica claro o impacto positivo nos negócios”, explica Henrique Bussacos, diretor executivo do Impact Hub SP.
Apenas este ano, o Impact Hub vai acelerar mais de 160 negócios de impacto. Além de mentorias, aulas de capacitação, os programas de aceleração também levam em conta a importância das conexões para o sucesso dos negócios.
“Identificamos que as mentorias são um dos componentes mais relevantes, sobretudo quando associamos com a conexão com grandes empresas Não devemos olhar os grandes apenas como investidores, como patrocinadores, mas como clientes. Às vezes é melhor você trazer um grande cliente para essa empresa acelerada, do que trazer um investimento anjo, por exemplo. O negócio se torna mais permanente, mais sustentável”, conta Henrique.
Aprendizado na prática
E sustentabilidade do negócio é algo que não sai da mente de Ciro Jacob, CEO do Meu RH 360, um sistema integrado de gestão para RH. Ele conta que ter tido uma mentoria foi muito importante em sua trajetória, mas nada supera o aprendizado prático para que o negócio se mantenha de pé.
Ele, que já está em sua terceira startup, uma classificada como “um fracasso”, e a segunda que obteve muito sucesso e foi vendida, ressalta dois pontos fundamentais para a sustentabilidade de uma empresa. O primeiro deles é estudar bem o mercado e, depois, entender as dores do cliente. Ele acredita ainda que é preciso ter um propósito conectado com o propósito de vida do fundador.
“Quebrei a cara com uma das empresas e aprendi muito, foi um aprendizado. A segunda empresa foi muito bem sucedida e vendi. Agora, estou trilhando novamente esse caminho. Meu propósito de vida é muito bem definido. Depois de ter ido para Santiago de Compostela, ter feito muitas vivências, entendi que meu propósito é ajudar as pessoas através da tecnologia. Então, o meu RH 360 surgiu para transformar o mercado, para popularizar a tecnologia para os RHs, para gerar facilidade, controle, eficiência e redução de custo para empresas”, conta Ciro.
Outra dica importante para conseguir imprimir sucesso nos negócios é estar sempre perto de pessoas que vão apoiar o processo de criação do negócio, que tenham conhecimentos diferentes aos do fundador e, claro, sempre estudar novas tecnologias para investir de forma segura na criação do Mínimo Produto Viável (MVP – Minimum Viable Product, na sigla em inglês).
“Se você não é de tecnologia e está montando uma startup, você precisa ter um sócio de tecnologia, por exemplo, mesmo que esse sócio seja minoritário. E é preciso investir na criação do mínimo produto viável (MVP). Com R$ 150 mil já é possível testar seu produto, saber se ele é viável, se vai ter uma aceitação no mercado. E tem um número mágico dos fundos de investimento que é R$ 20 mil de faturamento mensal. Então, se você investiu até 150 mil e está faturando 20 mil, você está no caminho certo”, pontua Ciro.
E esse é um caminho que José Moniz conhece bem. Fundador da Cabe no Meu Bolso, uma startup de impacto social que tem como objetivo devolver a dignidade para as pessoas através da recuperação de crédito, ele conta que sua empresa só começou a pivotar quando conseguiu uma grande empresa de telecomunicações como cliente.
Para chegar até este ponto, ele precisou corrigir a rota do negócio e deixar as paixões de lado. Agora, a expectativa é fazer com que a empresa negocie R$ 60 bilhões em carteiras nos próximos três anos.
“O primeiro ano de uma startup precisa ser usado para validar todas as convicções dos empreendedores. Cada aspecto crítico do negócio deve ser colocado à prova, e a paixão dos empreendedores pelas soluções precisa ser colocada de lado. Empreendedores precisam ser apaixonados pelo problema, não pela solução. Frequentemente o negócio é pivotado logo no início, o que mostra que as primeiras versões das soluções projetadas não são adequadas ao mercado. É preciso persistir”, conclui Moniz.