POLÍCIA
Morte de ex-prefeito interessava a ‘poderosos’ de Plácido de Castro e ex-secretário é ‘bode expiatório’, diz advogado
Após conseguir a liberdade provisória para seu cliente, o ex-secretário de Esportes de Plácido de Castro, Liomar Jesus Mariano, conhecido como Mazinho Mariano, na quarta-feira, 28, o advogado Wellington Silva levantou questionamentos que podem mudar o rumo das investigações.
Em entrevista ao Na Hora da Notícia, Silva garante que Mazinho Mariano é inocente e está sendo usado como “bode expiatório” por políticos e empresários poderosos do município de Plácido de Castro, que usaram uma dívida do ex-prefeito de Plácido de Castro, Gedeon Barros, que foi morto em 2021 em Rio Branco, com Mazinho, que já estava judicializada e parte havia sido paga, para acusá-lo injustamente de ser mandante da morte de Barros.
“A defesa tem lutado muito para que esse processo tenha um julgamento célere. Quem é inocente busca se livrar de um processo injusto. Desde o primeiro momento, ele pleiteou a produção antecipada de uma prova, que seria o reconhecimento de pessoas, onde as pessoas que dizem que ele teria sido o mandante desse crime deveriam ser submetidas ao reconhecimento de pessoas, para que digam se ele realmente é a pessoa que foi à casa encomendar, se ele realmente praticou algum ilícito. Até hoje, nenhum reconhecimento, seja pessoal ou fotográfico, foi realizado”, explicou Wellington Silva.
QUEIMA DE ARQUIVO
O advogado Wellington Silva acredita em “queima de arquivo”, visto que Gedeon Barros havia denunciado possível uso indevido e desvio de dinheiro do município de Plácido de Castro na época da pandemia de COVID-19, o que mexeu nos brios de pessoas poderosas daquela região, tanto políticos quanto empresários, que teriam sido beneficiados com o dinheiro desviado.
O advogado de defesa afirma que existe uma “absoluta ausência de qualquer elemento de prova que relacione Mazinho à prática desse ilícito” e que são apenas suposições de que a real motivação seja a dívida.
SOBRE O CRIME
O ex-prefeito Gedeon Barros foi morto a tiros no dia 20 de maio de 2021, no Segundo Distrito da capital acreana. Segundo testemunhas, dois homens em uma motocicleta se aproximaram e dispararam contra o veículo em que o ex-prefeito estava. Supostamente, o ato foi motivado por uma dívida financeira entre Gedeon e o ex-secretário de esportes e seu amigo, Mazinho Mariano, que é acusado de ser o mandante do crime. Após dois anos do assassinato do ex-prefeito de Plácido de Castro, sete pessoas se tornaram réus por homicídio qualificado, entre eles Mazinho Mariano, acusado de ser o mentor do crime.
O DELATOR
Mazinho havia sido preso em janeiro deste ano, após uma delação premiada, na qual João da Silva Cavalcante Junior, homem que estaria pilotando a motocicleta usada no crime e que também está preso, teria, após acordos de uma delação premiada, dito que Mazinho o havia contratado para executar Gedeon. Wellington Silva, advogado de defesa de Mazinho, nega as acusações e diz que os depoimentos do delator são inconsistentes e contraditórios, e só vieram dois anos após o crime e depois de mudanças na equipe de investigação da Polícia Civil.
“Esse delator que colocou o Mazinho no cenário dos fatos criminosos disse, em primeiro momento, que foi convidado para praticar um crime de roubo, ou seja, não era homicídio. Depois, ele disse que nada sabia a respeito dos fatos. Depois, ele inventou uma outra versão, e em dezembro de 2023, há 30 dias, 15 dias, da prisão do Mazinho, coloca o nome do Mazinho como um dos autores do fato? Então, dois anos e meio após os fatos, é que ele vem com a versão dizendo que o Mazinho realmente tem participação? Isso soa, no mínimo, estranho, porque, no momento em que a pessoa entra como delator e tem facilidades, porque delação dá sim benefícios, e é aí que aparece o nome do Mazinho, que foi candidato a vice-prefeito na chapa do Gedeon, que foi secretário na gestão do Gedeon, era amigo íntimo e pessoal, ou seja, motivo algum teria para ceifar a vida de alguém que ele tinha estima, consideração e afeto”, disse o advogado.
BODE EXPIATÓRIO PARA PROTEGER PODEROSOS
O advogado Wellington Silva acredita realmente na inocência de seu cliente e foi além, durante a entrevista. Ele disse que Mazinho Mariano é apenas um “bode expiatório”, e os verdadeiros mandantes do crime estão soltos e são poderosos. A certeza do advogado se dá a partir da afirmação de que, na época dos fatos, Gedeon Barros havia investigado as contas da prefeitura e encontrado irregularidades na gestão, na área da saúde, no município de Plácido de Castro, principalmente na época em que houve a “injeção” de muito dinheiro na pasta por causa da pandemia de Covid-19, chegando inclusive a fazer uma denúncia na Polícia Federal, mas foi assassinado antes de ser ouvido.
“Ele (Gedeon) chegou inclusive a fazer uma denúncia na Polícia Federal, era uma época em que ele estava se comprometendo a fazer essas denúncias. Então, o que nós percebemos é um cenário em que pessoas, obviamente poderosas, ricas, poderiam ser afetadas por essas denúncias. Incriminaram a pessoa do Mazinho e praticaram a execução da morte do Gedeon, ou seja, mataram a pessoa que seria o denunciante de um crime de malversação do erário público, e ao mesmo tempo, incriminaram um inocente”, afirmou o advogado.
Wellington Silva fez questão de destacar a relação de Gedeon com Mazinho, justificando que a motivação levantada acerca da dívida de R$ 100 mil era esdrúxula, onde parte desse dinheiro já teria sido paga e estava sendo executada na justiça de forma legal.
“Ele (Mazinho) gozava de prestígio e confiança (com Gedeon), enquanto outras pessoas que atuaram na Secretaria de Saúde, que malversaram o erário público, iam ser denunciadas pelo Gedeon. Foi quando as pessoas fizeram uma verdadeira queima de arquivo. O Gedeon foi executado para que ele não trouxesse à tona diversos crimes que foram praticados em desvio de recursos públicos da comarca do município de Plácido de Castro, e o Mazinho é apenas um bode expiatório”, finalizou a defesa de Mazinho.
O caso segue sob investigação, onde Carmélio da Silva Bezerra e Liomar de Jesus Mariano (Mazinho) são apontados como mandantes do crime. Clebson Rodrigues do Nascimento e Weverton Monteiro Oliveira são apontados como responsáveis pela contratação dos executores. Antônio Severino de Souza é apontado como responsável por repassar informações sobre Gedeon Barros e contribuir para a emboscada. João da Silva Cavalcante Junior é apontado como condutor da motocicleta utilizada no crime e também é o delator que acusa Mazinho. Sairo Gonçalvez Petronílio aparece como garupa da motocicleta e é apontado como autor dos disparos contra Gedeon Barros.