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POLÍTICA

Análise: Nunes conta com histórico a favor para vencer em SP; Boulos se agarra em feito raro para virada no 2º turno

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Neste domingo, 27, eleitores de São Paulo voltarão às urnas pela segunda vez neste mês para decidir quem será o prefeito da cidade pelos próximos quatro anos. Desde a primeira realização do 2º turno na capital paulista, em 1992, todas as eleições municipais tiveram dois turnos, com exceção de 2016. Em 2024, a disputa será entre Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL).

O histórico mostra um cenário desafiador para Boulos, que terminou o 1º turno com 29,07% dos votos, atrás de Nunes, com 29,48% dos votos. Nas sete disputas de 2º turno na capital, em seis delas o candidato que emergiu das urnas na primeira rodada na frente venceu as eleições. E apenas uma única vez o candidato que passou para segundo turno com menos votos foi eleito.

Em 2012, o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), fechou o 1º turno com 28,98% dos votos válidos, contra 30,75% do ex-governador José Serra (PSDB). No 2º turno, o petista foi eleito com 55,57% dos votos válidos contra 44,43% do tucano; Haddad teve 3.387.720 votos, e Serra ficou com 2.708.768 votos. (Confira abaixo o resultado das últimas eleições em São Paulo)

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No 1º turno, realizado no último dia 6 de outubro, a diferença de Nunes e Boulos foi de 25.012 votos – distância de votos bem menor que a de Serra para Haddad, que foi de 108.532 votos. Embora a quantidade de votos seja menor para Boulos superar este ano, o contexto eleitoral e o desafio para o psolista é maior que o de Haddad. É o que avaliam cientistas políticos ouvidos pelo Terra.

Em 2012, Serra tinha uma taxa de rejeição alta, e Haddad — mesmo com a influência negativa que o escândalo do mensalão provocou em seu partido, o PT — superou o tucano com o apoio da então presidente Dilma Rousseff (PT), que tinha uma aprovação na casa de 70%. Na época, Haddad ainda se beneficiou da neutralidade de Celso Russomanno, que não apoiou nenhum dos candidatos depois de ter conquistado 1.324.021 votos e ficar em terceiro no pleito.

‘Neutralidade’ de Marçal beneficia Nunes

Diferente de Haddad, que ficou com a maior parte dos votos do terceiro colocado em 2012, Boulos tem no 2º turno pouco espaço para crescer. O dono do 3º lugar da disputa em primeiro turno, Pablo Marçal (PRTB), adotou também uma posição de ‘neutralidade’. O ex-couch teve 1,7 milhão de votos (28,14% dos válidos) e não pediu voto para nenhum dos candidatos. No entanto, como parte desses votos é de eleitores mais à direita, é difícil que migrem para Boulos.

A neutralidade de Marçal, na realidade, beneficia Nunes, segundo especialistas ouvidos pelo Terra. Na pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira, 24, o prefeito Ricardo Nunes registrou 49% das intenções de voto, contra 35% de Guilherme Boulos, uma vantagem de 14 pontos percentuais. Na capital, uma virada do segundo colocado nas pesquisas de segundo turno nunca aconteceu.

“Boulos, diferentemente de Haddad [com Russomanno], não herdou parcela significativa do eleitorado de Marçal. PSDB e PSB, apesar dos apoios oficiais, não conseguiram um resultado satisfatório nas urnas e também não têm força suficiente de transferência de voto. Por isso, a maior parte [das pesquisas] aponta a tendência de Nunes vencer com grande margem de votos”, ressalta a cientista política da UFSCar, Maria do Socorro Sousa Braga.

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Lincoln Telhado, cientista político e diretor do Instituto de Estudos Legislativos e Políticas Públicas (Ielp), explica que o passado ligado ao MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) tem pesado para Boulos conquistar votos do eleitorado, e Nunes tem parte do seu sucesso nas pesquisas explicado por ser um político pouco conhecido.

“Boulos não tem conseguido melhorar o percentual de eleitores muito em razão do peso negativo da sua relação com o MTST, além de ser do PSOL, partido mais à esquerda, considerado extremamente ideológico para o eleitor mediano. Nunes, por sua vez, é um político pouco conhecido, que ainda não teve muito desgaste na vida pública”, analisa Telhada.

O especialista ainda lembra, traçando um comparativo e explicando a virada de 2012, que o concorrente de Haddad foi o Serra, político experiente e bastante conhecido. Esse cenário, portanto, é muito diferente do atual. Maria do Socorro Sousa Braga acrescenta que Haddad realizou, em 2012, uma coordenação política mais exitosa com quadros da direita e da centro-direita. Boulos, por sua vez, não conseguiu isso.

“A disputa entre Nunes e Boulos é marcada por um ambiente de polarização em âmbito local, uma vez que ambos se apoiam na disputa nacional entre o Bolsonarismo, hoje no PL, e o PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, diz a cientista política.

Segundo o TRE-SP, 25% do eleitorado decidiram não votar no 1º turno em São Paulo. O desafio tanto para Nunes quanto para Boulos será convencer essas pessoas a irem às urnas no domingo. Na pesquisa Datafolha, 2% dos eleitores estão indecisos em quem votar. Outros 14% apontam que irão votar em branco ou nulo.

Resultados do 2º turno desde 1992

1992

Paulo Maluf (PDS): 48,8% (eleito)
Eduardo Suplicy (PT): 30,6%
1996

Celso Pitta (PPB): 48,2% (eleito)
Luiza Erundina (PT): 24,5%
2000

Marta Suplicy (PT): 34,4% (eleita)
Paulo Maluf (PPB): 17,4%
2004

José Serra (PSDB): 43,5% (eleito)
Marta Suplicy (PT): 35,8%
2008

Gilberto Kassab (DEM): 33,6% (eleito)
Marta Suplicy (PT): 32,8%
2012

José Serra (PSDB): 30,7%
Fernando Haddad (PT): 28,9% (eleito)
2016 (Não houve 2º turno)

João Doria (PSDB); 53,2% (eleito)
2020

Bruno Covas (PSDB): 32,8% (eleito)
Guilherme Boulos (PSOL): 20,2%
Feito raro de Haddad

O feito raro de Haddad de vencer o 2º turno em 2012 é explicado, em parte, pela cientista política Maria do Socorro Sousa Braga. Ela lembra que Haddad iniciou a campanha de 2012 com 7% das intenções de voto, mas cresceu com a entrada do ex-prefeito Paulo Maluf. À época, o malufismo ainda era uma força mobilizadora de votos na capital e o PP, partido de Maluf, ocupava ministérios no governo Dilma.

Outro fator foi que o petista deixou o Ministério da Educação para disputar a prefeitura. Ou seja, ele colhia os bons resultados de programas como o Prouni e chegou respaldado pelos índices de aprovação do segundo ano do 1º mandato de Dilma Rousseff.

 

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